sexta-feira, 10 de junho de 2011

TRÊS AMORES

 Nem sempre compreendemos os desígnios de Deus. Às vezes desejamos  alguma coisa, certos de que é muito importante para nós, mas Deus sabe que poderá ser o contrário, algo que no futuro nos fará sofrer, então não atende aos nossos apelos e substitui o que pedimos por outra coisa muito mais salutar, mas na hora não compreendemos e até nos revoltamos, crentes de que Deus não ouviu a nossa prece e não está nem um pouquinho preocupado conosco. E estou falando com conhecimento de causa, pois quando sofri uma dor muito grande fiquei com raiva do mundo.
Tenho alguns amigos que estão passando  por momentos difíceis e, humanos que são, estão tristes e então eu me lembrei de uma historinha que bem revela o amor de Deus por nós, embora acima da nossa compreensão.
Conta-se que um homem tinha três amores: sua esposa, seu filho e seu cavalo. Era devoto de Santo Antônio para quem, diariamente, acendia uma vela e rezava uma Ave Maria.
Um dia sua mulher adoeceu e ele pediu a Santo Antonio que a curasse, mas passados alguns dias ela veio a falecer e o homem ficou triste e um pouquinho decepcionado com Santo Antonio, mas continuou acendendo a vela e rezando a Ave Maria.
Passado um ano o seu filho morreu de repente e aí o homem ficou mais triste ainda com o santo da sua devoção, mas continuou rezando e acendendo a vela em sua homenagem.
Dois anos se passaram e agora o homem só possuía  o cavalo, para quem transferiu todo o seu amor, mas um dia o cavalo foi picado por uma cobra e morreu e a partir daí o homem cortou relações de amizade com Santo Antonio. Jogou fora todas as imagens que lembravam o santo e nunca mais rezou e nunca mais acendeu uma vela em sua homenagem.
O tempo passou e um dia Santo Antonio resolveu tomar satisfações com o seu devoto.
-  O que houve que você me abandonou? 
-  Eu, o abandonei? O Senhor não está invertendo os fatos? Eu tinha três amores e o senhor sabia disso. Primeiro deixou que minha mulher morresse, depois permitiu que o meu filho também me deixasse e por fim matou meu cavalo e ainda tem o topete de dizer que eu o abandonei? Não quero mais negócio com o Senhor. Meu amigo? Ora, não me faça rir!
E Santo Antonio explicou:
-  É verdade. Deixei que sua mulher morresse porque  ia ser-lhe infiel e você ficaria tão triste que cometeria suicídio, para não servir de chacota para os seus amigos.
-  E meu filho, que mal me poderia fazer?
-   O seu filho estava convivendo com más companhias e praticando pequenos furtos.
Com o tempo se tornaria um ladrão famoso e você o veria arrastado pelas ruas, apanhando da Polícia e por fim seria enforcado em praça pública. Para lhe evitar esse desgosto, deixei que seu filho partisse para a eternidade antes que isso acontecesse.
O homem ficou cabisbaixo, mas ainda lhe perguntou:
- E o meu cavalo, o único bem que me restou?
-  O seu cavalo, explicou o Santo, iria dar-lhe um coice que o deixaria paraplégico e você ficaria numa cadeira de rodas para o resto da vida. Sabendo que você não desejaria semelhante vida, levei o seu cavalo.
 E o homem pediu perdão a Santo Antonio e compreendeu que ninguém penetra nos desígnios de Deus e só Ele sabe o que é melhor para nós, até porque, há dois mil anos, escreve certo por linhas tortas, e nós, analfabetos que somos em matéria divina, nem sempre  conseguimos ler a Sua mensagem.

Marisa Alverga

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