quarta-feira, 27 de maio de 2015

PRECE DE GRATIDAO





Senhor, muito obrigado pelo que me deste, pelo que me dás! Pelo ar, pelo pão, pela paz!

Muito obrigado, pela beleza que meus olhos vêem no altar da natureza. Olhos que contemplam o céu cor de anil, e se detém na terra verde, salpicada de flores em tonalidades mil!

Pela minha faculdade de ver, pelos cegos eu quero interceder, por aqueles que vivem na escuridão e tropeçam na multidão, por eles eu oro  e a Vós imploro comiseração, pois eu  sei que depois dessa lida, numa outra vida, eles  enxergarão!

Senhor, muito obrigado pelos ouvidos meus. Ouvidos que ouvem o tamborilar da chuva no telheiro, a melodia do vento nos ramos do salgueiro, a dor e as lágrimas que escorrem no  rosto do mundo inteiro. Ouvidos que ouvem a música do povo, que desce do morro na praça a cantar. A melodia dos imortais que a gente ouve uma vez e não se esquece nunca mais.

Diante de minha capacidade de ouvir, pelos surdos eu te quero pedir, pois eu sei, que depois desta dor, no teu reino de amor, eles voltarão a ouvir!

Muito obrigado Senhor, pela minha voz! Mas também pela voz  que canta, que ensina, que consola.  Pela voz que  com emoção, profere uma sentida oração! Pela minha capacidade de falar, pelos mudos eu Vos quero rogar, pois eu sei que depois desta dor, no Vosso reino de amor, eles também cantarão!

Muito obrigado Senhor, pelas minhas mãos, mas também pelas mãos que  aram, que semeiam, que agasalham. Mãos de caridade, de solidariedade. Mãos que apertam mãos. Mãos de poesias, de cirurgias, de sinfonias, de psicografias, mãos que numa noite fria, cuida ou lava louça numa pia.

Mãos que a beira de uma sepultura, abraça alguém com ternura, num momento de amargura. Mãos que no  seio, agasalham o filho de um corpo alheio, sem receio.

E meus pés que me levam a caminhar, sem reclamar. Porque eu vejo na Terra amputados, deformados, aleijados e eu posso bailar. Por eles eu oro, e a ti imploro, porque eu  sei que depois dessa expiação, numa outra situação, eles também bailarão.

Por fim Senhor, muito obrigado pelo meu lar! Pois é  tão maravilhoso ter um lar.

Não importa se este lar é uma mansão, um ninho, uma casa no caminho, um bangalô, seja lá o que for. O importante é que dentro dele exista a presença da harmonia e do amor.

O amor de mãe, de pai, de irmão, de uma companheira. De alguém que nos dê  a mão, nem que seja a presença de um cão, porque é muito doloroso viver na solidão.

Mas se eu ninguém tiver, nem um teto para me agasalhar, uma cama  para eu deitar, um ombro para eu chorar, ou alguém para desabafar, não reclamarei, não lastimarei, nem blasfemarei.

Porque eu tenho a Vós.

Então muito obrigado porque  eu nasci.

E pelo Vosso amor, Vosso sacrifício e Vossa paixão por nós, muito  obrigado Senhor!

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Roupa Suja





Terminara, finalmente, o insigne poeta o seu árduo 
trabalho: grandioso poema sobre as maravilhas de 
Deus na ordem dos cosmos.
 E agora, numa roda de amigos e admiradores,
 declamava o mais belo capítulo da obra-prima do seu engenho. 
Foi um assombro!...
De tamanha beleza eram as idéias, tão profundos os conceitos, tão cintilantes as frases, tão suaves as cadências dos períodos, que os ouvintes se quedavam como que extáticos de enlevo...
E quando o poeta, no auge do entusiasmo, perorava a  mais grandiosa página do estupendo poema
 - ouviu-se bater à porta da sala.
Mais se avolumou a voz do inspirado bardo, mais vibrante se tornou o seu estro, para abafar o ruído do inoportuno visitante.
 Persistem, porém, na porta, os golpes indiscretos.
 Interrompe então o cantor das grandezas de Deus
a faiscante cadeia de idéias e, contrariado,  com um arranco violento, abre a porta.
"Por obséquio, sr. doutor, a sua roupa suja"
 -diz uma vozinha tímida, coando dos lábios pálidos  duma menina magríssima.
É a filha da pobre lavadeira. Agora não posso, menina! 
Venha amanhã!...
"Mas...a mamãe fica sem serviço...e sem pão...
Somos tão pobres... 
Por favor, sr. doutor, a sua roupa suja..."
 "Não posso, já disse!...
 Com estrondo infernal se fecha a porta na cara 
da menina pálida.
E, tornando a subir ao estrado, retorna o trovador, 
o fio do poema.
 Por entre tempestades de aplausos termina a declamação da grande apoteose que elaborou
 pela maior glória de Deus.
 Felicitações, abraços, sorrisos, elogios, luminosas perspectivas...
Altas horas da noite...
Surge do seio das trevas o rosto pálido duma menina paupérrima...
Corre pelo quarto olhares sonâmbulos...
Apanha da mesa os originais do poema
- folha por folha, e rasga-as em mil pedaços...
 E jogando-as ao cesto de papéis, murmura:
"Roupa suja". E desaparece...
O poeta acorda...Os originais lá estão, intactos...
 E põe-se a pensar, a pensar, a pensar...
 É verdade que escrevi este poema pela maior glória de Deus?...
Por que não entreguei à pobrezinha a minha
roupa suja?...
Por que preferi à caridade a minha vaidade?...
Levantou-se e resolveu, logo de manhã, entregar 
à filha da lavadeira a roupa suja que  pedira - e lavou com as lágrimas do  arrependimento 
a "roupa suja" que  tinha  dentro da alma...
E o seu coração cantou em silêncio o mais lindo poema da humanidade...
 O poema divino do Nazareno...


Huberto Rodhen -
De Alma para Alma



MÃE!   


        Há as que estão no Céu e as que daqui não saíram!
        Há as ricas, as pobres, as brancas, as pretas, as de verdade, as emprestadas e as de mentira!
As Marias, as Joanas, as Dolores!
Há as muito felizes e as desgraçadamente infelizes. As que são amadas e as esquecidas. As a que nada lhes falta e as que lhes faltam tudo!
São Mães e nada mais desejam. Castelos são construídos no ar, ricos e plenos de amor.
As noites insones e as madrugadas indormidas nunca lhes calaram a voz e a cantiga de ninar foi inventada para lhes acariciar o coração.
O sol da manhã lhes doura a fronte cansada e o dia renasce no sorriso que diviniza o rosto do filho e ela sonha o seu sonho e vive a vida que lhe deu! E rir o seu sorriso e chora a lágrima que lhe inunda a face.
Nunca está cansada e nem se recrimina pelos percalços que a vida lhe impõe se está em jogo o futuro do filho.
Pela lei natural da vida, partem primeiro para a eternidade, mas se por um infortúnio o contrário acontece, enterram o coração no túmulo que encerra o corpo amado e a vida nunca mais será a mesma! Mas entre o tumulto da vida e a dor da saudade, uma mulher se impõe para ensinar-lhes que a dor purifica, que Deus é sábio e o Paraíso existe para que os filhos que lá estão velem pelas mães que aqui ficaram. E quem nos ensina essas verdades é Maria, escolhida para ser a mãe do próprio Deus e que viu Seu Filho imolado para que a humanidade não perecesse nos abismos e precipícios da vida.
Daqui do SEM FRONTEIRAS  abraçamos todas as Mães, não apenas as que aqui estão, mas as que do Céu ouvem seus filhos dizerem:
“Mãe não rima, certamente,
Mas vejo olhando a minha
Que há muita rima se a gente
Quiser chamá-la Mãezinha”.
Guarabira, 10.05.2015
                                  Autoria: Marisa Alverga