terça-feira, 2 de maio de 2017

Para Laura Cristina: OSMAR DE AQUINO – CEM ANOS DE SAUDADE

                                                                                                           
 “O grande homem é aquele que enrubesce quando elogiado e  permanece em silêncio quando difamado”.
                        Conheci um homem assim e tenho pena de quem não o conheceu, porque foi privado do direito de amar alguém cuja estirpe se extinguiu. Amá-lo era obrigação de quem o conhecia. Era o amor na sua mais pura essência; um amor sublime, acima das baixezas do mundo, acima das coisas torpes e vis da terra. Era a imagem do amor. Do amor puro como o sorriso de um recém-nascido, cristalino como a água santa do batismo.
                        Assemelhava-se ao sândalo que perfuma o machado que o fere. Um novo Midas, transformando em amor tudo quanto tocava. Nunca se ouviu dos seus lábios uma palavra áspera de ódio ou de maldade.
                        Erudito, letrado, estudioso, intelectual, poliglota, desconhecia em todos os  idiomas a palavra “NÃO”. Tinha sempre um pensamento carinhoso, um gesto amigo, uma palavra de bondade. Era todo ternura.
                        Não se intimidava ante os poderosos. Não recuava diante da dor e enfrentava o perigo com a mesma altivez de um Alexandre Magno. Não entregava o amigo e defendia o inimigo. Grande nas suas atitudes, os seus princípios eram inegociáveis. Era comum ouvi-lo dizer: “Eu só tenho medo que o povo pense que eu tenho medo”.
                        Não conhecia o ódio. Ia em defesa dos pequenos, dos menos favorecidos pela sorte com a grandeza que sempre o caracterizou.
                        Altivo, sereno, forte, grande, incomensurável, amigo, leal, corajoso. Firme nas suas idéias e nos seus ideais, nunca vacilou ante os embates e vicissitudes da vida e parafraseava Sócrates, quando dizia: “O que é a morte, afinal, senão um agradável sono após um árduo dia de trabalho?”
                        Mirava-se no espelho de Cristo no “amai-vos uns aos outros”, divisando entre as trevas do ódio, a claridade divina do amor ao próximo. Participava do sofrimento alheio, compartilhando a dor do seus irmãos, a levar-lhes a centelha viva do perdão e do carinho, na sua simplicidade de homem bom.
          Dele podia-se dizer que era uma epopéia de luzes, cores,música, alegria, sorriso e flores.
                        Um homem assim não morre nunca. Tomba nos campos de batalha da vida, lutando até o último instante como um herói, para renascer mais forte ainda nos corações dos que se vivificam com o seu exemplo.
                        Não, Osmar não morreu. Apenas Deus o  levou mais cedo para ensinar aos anjos a arte de amar.
                        Partiu numa viagem sem volta, levando consigo as suas boas obras. Aqui deixou plantada a saudade que viverá eternamente.
                        Vi-o antes da partida final. Levei-lhe o meu derradeiro adeus, misturado às minhas lágrimas de dor e de saudade .
                        Deixou esta terra por um Reino encantado e hoje, no Palácio divino, incrustado no seio de Deus, divisa-se um homem com 1:82m de altura,  um rosto sereno e belo, uma alma pura e cristalina, um voz portentosa e varonil . Ao seu redor uma legião de anjos embevecidos escuta essa voz. Ninguém fala, ninguém sussurra, quando Osmar de Aquino, recordando setembro de 1964, em Guarabira, falava para outra plateia, tão atenta e silenciosa quanto esta.
                        “Volto ao teu seio, terra estremecida das minhas angústias, das minhas alegrias e dos meus sonhos.
                          Eu não tenho medo de morrer, como não tenho de viver. Tenho como Neruda, pronta a minha morte. Quero morrer entre os pobres que não tiveram tempo de estudá-la, e não entre os que, senhores de todos os privilégios na terra, pagam ainda, metafísicos para dividir e arrumar o céu, somente para eles. E ficarei contente com o pouco que para mim será tudo; quando terminar o “milagre da vida”, possam os lutadores da nossa causa, ao passar na chamada lousa fria, dizer simplesmente: foi um companheiro. Não, não sussurramos farisaicamente o nome de Cristo, mas temos no coração as suas palavras de fogo contra iníquas desigualdades, a sua cólera da verdade”.
                        É aplaudido de pé, como outrora o fora em Guarabira. E nos seus olhos, límpidos e serenos, uma lagrima surge. É a saudade que o acompanha à morada etérea.
Tu não morrestes, Osmar, pois ninguém sendo querido como tu fostes, poderá morrer um dia. Apenas és hoje hóspede de Deus e Deus é vida. Lá encontrastes a paz, a salvo da maldade, da calúnia, do ódio e da difamação. Aqui serás lembrado eternamente, como o arauto de Deus, em defesa dos pobres e oprimidos; a tua voz ecoará pelos quatro cantos da terra, como um novo Batista. O teu exemplo enriquecerá os homens sedentos de justiça e a luz que irradias, iluminará as mentes sãs dos que hoje veneram a tua memória.
Nunca morrerás no coração da tua Guarabira, que galhardamente comparavas a Paris. Continuarás sendo o ídolo, o mestre, o companheiro, o amigo, aspergindo o perfume do teu amor entre os que aqui ficaram. Um dia estaremos todos juntos na eternidade, compartilhando a tua glória, e as nossas lágrimas já não serão de saudades pois choraremos de alegria pelo reencontro com o homem que fez da sua vida um exemplo. Exemplo que deixou á sua geração indelevelmente gravado no livro da posteridade.
                                      Guarabira, 11 de dezembro de 2016
                                                                                                  Marisa Alverga
Música preferida de Osmar: LUZES DA RIBALTA