A vida é um composto de controvérsias e viver é muito difícil, contrapondo-se a existir, porque para viver é necessária uma política especial, mas para existir, basta, apenas, está vivo.
Companheirismo, lealdade, cultura, saúde, educação, trabalho e lazer são componentes do dia-a-dia, que, se analisados de per si, provam o quanto a vida é complicada.
O homem nasce, estuda e trabalha para sobreviver. Num Sistema como o nosso, alcança a velhice labutando de sol-a-sol, nunca ganhando o suficiente para uma aposentadoria decente e na maioria das vezes volta ao trabalho para complementar os subsídios que o Sistema lhe confere em troca de trinta ou mais anos de serviço e contribuições para a Seguridade Social; um direito do qual é vergonhosamente espoliado.
Jorge Luiz Borges, num dos seus poemas dizia que se pudesse recomeçar a viver, seria menos exigente consigo mesmo. Tomaria mais sorvetes, sem se preocupar com vitaminas; andaria descalço, sentindo o contato direto com a terra; estudaria menos e declamaria mais poesias.
O grande poeta argentino falava, nas entrelinhas, da necessidade que sentia no outono da vida, de romper com a lógica que nos impulsiona para um viver sério, de acordo com as regras, normas e leis impostas pela educação, pela família, pela sociedade.
Esse desejo de viver ilogicamente não significa que o poeta estivesse pleiteando uma marginalização, mas um modo mais suave de conviver com as dores e sofrimentos que a vida nos impõe, contornando, sem infringir as regras, as leis que o Sistema convencionou como saudável para uma vida longa sem embargos culturais e/ou sociais.
Viver de acordo com a lógica significa obedecer ao bom senso, cuidando do corpo e da alma com igual zelo e dedicação e de acordo com esse código não se deve andar descalço ou sem camisa, rir ou gargalhar. A alimentação deve ser balanceada, a leitura orientada. A aparência é de suma importância e dormir cedo e levantar com a aurora é imprescindível para o equilíbrio emocional. É a lógica que nos impulsiona para esse viver sério, respeitando normas, regras e leis, mas romper com o bom senso sem infringir as leis da lógica, dosando a vida com instantes de ternura e descontração, sem que, obrigatoriamente , signifique marginalizar-se, até porque viver não é sinônimo de dores e sofrimentos.
O lazer é tão importante para o equilíbrio emocional quanto o trabalho e rir ou gargalhar é muito mais saudável do que chorar e era exatamente o que o poeta desejava fazer se os seus oitenta anos tivessem permitido. Ele, que levou a existência norteado pelo bom senso e pela coerência, sentiu necessidade de transgredir algumas regras - sem prejuízo da sua dignidade, substituindo-as por momentos de ternura que lhe amenizassem as agruras da vida.
MARISA ALVERGA
GUARABIRA - PB
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