O PÃOZINHO

Há muitos anos, houve uma grande fome na Alemanha, e os pobres sofriam muito. Um homem rico, que amava crianças, chamou vinte delas e disse:
- Nesta cesta há um pão para cada um de vocês. Peguem e voltem todos os dias, até passar esta época de fome. Vou lhes dar um pão por dia.
http://www.metaforas.com.br/imagens/anipao.gifAs crianças estavam esfomeadas. Partiram para cima da cesta e brigaram pelos maiores pães. Nem se lembraram de agradecer ao homem que tivera tanta bondade com elas. Após alguns minutos de briga e avanço nos pães, todos foram embora correndo, cada um com seu pão, exceto uma menininha chamada Gretchen. Ela ficou lá sozinha, a pequena distância do homem. Então, sorrindo, ela pegou o último pão, o menor de todos, e agradeceu de coração.
No dia seguinte, as crianças voltaram e se comportaram pior do que nunca. Gretchen, que não entrava nos empurrões, ficou só com um pãozinho bem fininho, nem metade do tamanho dos outros. Porém quando chegou em casa e a mãe foi cortar o pãozinho, caíram de dentro dele seis moedas bem brilhantes de prata.
- Oh, Gretchen! - exclamou a mãe. - Deve haver algum engano. Esse dinheiro não nos pertence. Corra o mais rápido que puder e devolva-o ao cavalheiro!
E Gretchen correu para devolver, mas, quando deu o recado da mãe, o senhor lhe disse:

- Não foi engano nenhum. Eu mandei cozinhar as moedas no menor dos pães, para recompensar você. Lembre-se de que as pessoas que preferem se contentar com o menor pedaço, em vez de brigar pelo maior, vão encontrar muitas bênçãos bem maiores do que dinheiro dentro da comida.






A HISTORIA DO PATO!!!!


        Havia dois irmãos que visitavam seus avós no sítio, nas férias. Felipe, o menino, ganhou um estilingue para brincar no mato. Praticava sempre, mas nunca conseguia acertar o alvo. Certa tarde viu o pato de estimação da vovó... Em um impulso atirou e acabou acertando o pato na cabeça e o matou. Ele ficou chocado e triste.
        Entrou em pânico e escondeu o pato morto no meio da madeira! Beatriz, a sua irmã viu tudo mas não disse nada aos avós.

    Após o almoço no dia seguinte, a avó disse:
    - Beatriz, vamos lavar a louça.
    Mas ela disse:
    - Vovó, o Filipe me disse que queria ajudar na cozinha.
    E olhando para ele sussurrou:
    - Lembra do pato?
    Então o Felipe lavou os pratos.

    Mais tarde o vovô perguntou se as crianças queriam pescar e a vovó disse:
    - Desculpe, mas eu preciso que a Beatriz me ajude a fazer o jantar.
    Beatriz apenas sorriu e disse:
    - Está bem, mas o Filipe me disse que queria ajudar hoje.
    E sussurrou novamente para ele.
    - Lembra do pato?
    Então a Beatriz foi pescar e Filipe ficou para ajudar.

    Após vários dias o Filipe sempre ficava fazendo o trabalho da Beatriz até que ele, finalmente não agüentando mais, confessou para a avó que tinha matado o pato.
    A vovó o abraçou e disse:
    - Querido, eu sei... eu estava na janela e vi tudo, mas porque eu te amo, eu te perdoei. Eu só estava me perguntando quanto tempo você iria deixar a Beatriz fazer você de escravo!

    Qualquer que seja o seu passado, ou o que você tenha feito... (mentir, enganar, seus maus hábitos, ódio, raiva, amargura, etc.,)... seja o que for... você precisa saber que Deus estava na janela e viu tudo como aconteceu. Ele conhece toda a sua vida... Ele quer que você saiba que Ele te ama e que você já está perdoado. Ele está apenas querendo saber quanto tempo você vai deixar o diabo fazer de você um escravo. Deus só está esperando você pedir perdão, Ele não só perdoa, mas Ele se esquece.

    É pela graça e misericórdia de Deus que somos salvos. Vá em frente e faça a diferença na vida de alguém hoje. Compartilhe esta mensagem com um amigo e lembre-se sempre: Deus está na janela e sabe de tudo!
"A vontade de Deus nunca irá levá-lo aonde a Graça de Deus não irá protegê-lo."

Postado por Marisa Alverga
 





O TESOURO OCULTO, O COVARDE, O

 CORAJOSO E O GANANCIOSO,

(Sutra Sanyuktaratnapitaka)

            Um homem que vivia perto de um cemitério, uma noite, ouviu uma voz que o chamava de uma sepultura. Sendo covarde demais para, sozinho, investigar o que se passava, confiou o ocorrido a um corajoso amigo que, após estudar o local de onde saíra a voz, resolveu vir, à noite, para ver o que aconteceria.
Anoiteceu. Enquanto o covarde tremulava de medo, seu amigo foi ao cemitério e ouviu a mesma voz saindo de uma sepultura. O amigo perguntou à voz quem era e o que desejava. A voz, vinda de baixo, respondeu : "Sou um tesouro oculto e decidi dar-me a alguém. Eu me ofereci a um homem ontem à noite, mas ele era tão medroso que não veio me buscar; por isso dou-me a você que é merecedor. Amanhã de manhã, irei à sua casa com meus sete seguidores."
           O homem corajoso disse : "Estarei esperando por vocês, mas, por favor, diga-me como devo tratá-los." A voz replicou : "Iremos vestidos de monge. Tenha uma sala pronta para nós, com água; lave o seu corpo, limpe a sala e tenha oito cadeiras e oito tigelas de sopa para nós. Após a refeição, você deverá conduzir a cada um de nós a um quarto fechado, no qual nos transformaremos em potes cheios de ouro."
Na manhã seguinte, o homem lavou o corpo e limpou a sala, como lhe fora ordenado, e ficou à espera dos oito monges. À hora aprazada, eles apareceram, sendo cortesmente recebidos pelo homem. Depois que tomaram a sopa, ele os conduziu um por um ao quarto fechado, onde cada monge se transformou em um pote cheio de ouro.
Um homem muito ganancioso que vivia naquela mesma aldeia, ao tomar conhecimento do incidente, desejou ter os potes de ouro. Para tanto, convidou oito monges para virem até sua casa. Depois que eles tomaram a refeição, o ganancioso, esperando obter o almejado tesouro, conduziu-os a um quarto fechado. Entretanto, ao invés de se transformarem em potes de ouro, os monges se enfureceram e denunciaram o ganancioso à polícia que o prendeu.
Quanto ao covarde, quando ouviu que a voz da sepultura havia trazido riqueza ao seu corajoso amigo, foi até a casa dele e avidamente lhe pediu o ouro, insistindo que era seu, porque a voz foi dirigida primeiramente a ele. Quando o medroso tentou pegar os potes, neles encontrou apenas cobras, erguendo as cabeças prontas para atacá-lo.
        O rei, tomando conhecimento desse fato, determinou que os potes pertenciam ao homem corajoso, e proferiu a seguinte observação : "Assim se passa com tudo neste mundo. Os tolos cobiçam apenas os bons resultados, mas são covardes demais para procurá-los, e por isso, estão continuamente falhando. Não têm fé, nem coragem para enfrentar as intestinas lutas da mente, com as quais, exclusivamente, pode-se atingir a verdadeira paz e harmonia."

Postado por Marisa Alverga




A GRANDEZA DE UM PEQUENO GESTO


Logo após o término da Segunda Grande Guerra, a Europa começou a ajuntar os cacos do que restara.
Grande parte da Inglaterra estava destruída. As ruínas estavam por todo lugar. E, possivelmente, o lado mais triste da guerra tenha sido assistir as criancinhas órfãs morrendo de fome, nas ruas das cidades devastadas.

Certa manhã de muito frio, na capital londrina, um soldado americano estava retornando ao acampamento. Numa esquina, ele viu, do seu jipe, um menino com o nariz pressionado contra o vidro de uma confeitaria.

Parou o veículo, desceu e se aproximou do garoto. Lá dentro, o confeiteiro sovava a massa para uma fornada de rosquinhas.
Os olhos arregalados do menino, falava da fome que lhe devorava as entranhas. Ele observava todos os movimentos do confeiteiro, sem perder nenhum.
Através do vidro embaçado pela fumaça, o soldado viu as rosquinhas quentes, e de dar água na boca, sendo retiradas do forno. Logo mais, o confeiteiro as colocou no balcão de vidro com todo o cuidado.
O soldado ouviu o gemido do menino e percebeu como ele salivava. Em pé, ao lado dele, comoveu-se diante daquele órfão desconhecido.
- Filho, você gostaria de comer algumas rosquinhas?
O menino se assustou. Nem percebera a presença do homem a observá-lo, tão absorto estava na sua contemplação.
- Sim, respondeu. Eu gostaria.
O soldado entrou na confeitaria e comprou uma dúzia de rosquinhas. Colocou-as dentro de um saco de papel e se dirigiu ao local onde o menino se encontrava, na gélida e nevoenta manhã de Londres. Sorriu e lhe entregou as rosquinhas, dizendo de forma descontraída:
- Aqui estão as rosquinhas.
Virou-se para se afastar. Entretanto, sentiu um puxão em sua farda. Olhou para trás e ouviu o menino perguntar, baixinho:
- Moço, você é Deus?

Em diversas situações, pequenos gestos significam muito para algumas vidas.



“Nunca subestime o poder de suas ações. Com um pequeno gesto você pode mudar a vida de uma pessoa. Para melhor ou para pior”.

Postado por Marisa Alverga 





                                         UMA HISTÓRIA REAL

Tess era uma garotinha precoce de 8 anos, quando ouviu seu Papai e sua Mamãe conversando sobre seu irmãozinho, Andrew.
Tudo que ela sabia era que ele estava doente e que eles estavam completamente sem dinheiro. Eles se mudariam para um apartamento num subúrbio no próximo mês, porque o Papai não tinha recursos para pagar as contas do médico e o aluguel do apartamento.
Somente uma intervenção cirúrgica muito cara poderia salvá-lo agora, e parecia que não havia ninguém que pudesse emprestar-lhes o dinheiro. Ela ouviu seu pai dizer à sua mãe chorosa, com um sussurro desesperado,
"Somente um milagre poderá salvá-lo agora."
Tess foi ao seu quarto e puxou o vidro de gelatina de seu esconderijo no armário. Despejou todo o dinheiro que tinha no chão e contou-o cuidadosamente. Três vezes. O total tinha que estar exato. Não havia margem de erro. Colocando as moedas de volta no vidro com cuidado e fechando a tampa, ela saiu devagarinho pela porta do fundo e andou 5 quarteirões até a Farmácia Rexall, com seu símbolo de Chefe de Pele Vermelha sobre a porta.
Ela esperou pacientemente que o farmacêutico a visse e desse atenção, mas ele estava muito ocupado no momento. Tess esfregou os pés no chão para fazer barulho. Nada! Ela limpou a garganta com o som mais terrível que ela pôde fazer. Nem assim! Finalmente ela pegou um níquel do vidro e bateu no vidro da porta.
Finalmente!
E o que você quer?" perguntou o farmacêutico com voz aborrecida.. "Estou conversando com meu irmão que chegou de Chicago e que não vejo há séculos", disse ele sem esperar resposta pela sua pergunta. "Bem, eu quero lhe falar sobre meu irmão", Tess respondeu no mesmo tom aborrecido. "Ele está realmente doente... e eu quero comprar um milagre."
"Como?", balbuciou o farmacêutico atônito. "Ele chama Andrew e está com alguma coisa muito ruim crescendo dentro de sua cabeça e Papai diz que só um milagre poderá salvá-lo. "Então, quanto custa um milagre?"
"Não vendemos milagres aqui, garotinha. Desculpe, mas não posso ajudá-la", respondeu o farmacêutico, com um tom mais suave. "Escute, eu tenho o dinheiro para pagar. Se não for suficiente, conseguirei o resto. Por favor, diga-me quanto custa."
O irmão do farmacêutico era um homem bem vestido. Ele deu um passo à frente e perguntou à garota. "Que tipo de milagre seu irmão precisa?" "Não sei", respondeu Tess, levantando os olhos para ele. "Só sei que ele
está muito mal e Mamãe diz que ele precisa ser operado. Mas Papai não pode pagar, então quero usar meu dinheiro."
"Quanto você tem", perguntou o homem de Chicago.
"Um dólar e 11 centavos", Tess respondeu quase num sussuro. "E é tudo que tenho, mas posso conseguir mais se for preciso."
"Puxa, que coincidência", sorriu o homem. "Um dólar e 11 centavos - exatamente o preço de um milagre para irmãozinhos." Ele pegou pegou o dinheiro com uma mão e dando a outra mão à menina, disse " Leve-me até aonde você mora. Quero ver seu irmão e conhecer seus pais. Quero ver se tenho o tipo de milagre que você precisa."
Esse senhor bem vestido era o Dr. Carlton Armstrong, um cirurgião, especializado em neuro-cirurgia. A operação foi feita com sucesso e sem custo algum, e meses depois Andrew estava em casa novamente, recuperado.
Mamãe e Papai comentavam alegremente sobre a sequência de acontecimentos ocorridos. "A cirurgia", murmurou Mamãe, "foi um milagre real. Gostaria de saber quanto deve ter custado?" Tess sorriu. Ela sabia exatamente quanto custa um milagre... um dólar e onze centavos... mais a fé de uma garotinha. Um milagre não é a suspensão de uma lei natural, mas o resultado de uma lei maior ..


Postado por Marisa Alverga





Carta à Santíssima Virgem

Tiritando de frio e faminto, Jean andava aflito pela Paris que acabava de sair da Segunda Guerra Mundial. Com 6 anos de idade, não tinha a quem recorrer: em sua inocência, desejava escrever uma carta a Nossa Senhora, mas não sabia ler nem escrever. Afinal, encontrou em uma esquina um velho ex-combatente, sentado junto a uma pequena mesa, fumando seu cachimbo. Era um escrivão público.

— Bom dia, senhor, pode fazer-me o favor de escrever uma carta?

— Pois não, menino, eu cobro 55 centavos, e o pagamento é à vista...

— Então me desculpe. — E virando as costas, ia seguir adiante. O antigo soldado, admirando tanta modéstia, perguntou:

— Você é filho de militar, seu mosquito?

— Meu pai morreu na guerra. E minha mãe ficou sozinha em casa.

— Nem você nem sua mãe têm 55 centavos? Ora, acho que você quer enviar uma carta para ver se lhe arranjam algo para comer, não é? Está bem, venha aqui, se eu escrever para você de graça e gastar uma folha de papel, não vou ficar mais pobre.
O velho, com uma bonita letra de tabelião, começou a escrever:

“Paris, 17 de janeiro de 1946”. Na linha seguinte: “Ilmo. Sr...”

— Como se chama o senhor a quem você quer enviar a carta? — Jean respondeu:

— Não é um senhor... é... quer dizer...

O escrivão contrariado replicou:
— Essa é boa! Pois você não sabe a quem quer escrever?

Então, o menino, criando coragem disse:
— É a Nossa Senhora...

O velho franziu as sobrancelhas e disse num tom áspero:
— Garoto, você está zombando de um velho soldado? Você é um piolho e quer me dar lição? Fora daqui!

Jean obedeceu tão mansamente, e com tanta calma virou-se para ir embora, que o velho mudou de opinião pela segunda vez e exclamou:

— Nossa Senhora! Quanta miséria há nesta cidade de Paris!...

E acrescentou logo depois:
— Qual é seu nome, menino?

— Jean.

— Mas, Jean de quê?

— Jean de nada. — O velho encolheu os ombros e continuou:

— Bem, que quer mesmo dizer à Santíssima Virgem?

— Quero dizer-lhe que minha querida mamãe está dormindo desde ontem às 4 horas da tarde, e que me faça o favor de acordá-la, porque eu não consigo...
O velho soldado, com os olhos banhados de lágrimas, sentindo comprimir-lhe o coração, receou ter compreendido. E perguntou ainda mais uma vez:

— Por que falava em comer há pouco?

A criança respondeu:
— Porque preciso... tenho fome... mamãe deu-me o último pedaço de pão antes de adormecer... Há dois dias que ela dizia não sentir mais fome.

Então, o escrivão continuou:
— Mas, o que você fez para acordá-la?...

— Beijei-a!

— E não notou nada?

— Sim, ela estava fria...Faz tanto frio, lá em casa...

— E ela tremia... não é?

— Não, senhor! As mãos estavam cruzadas sobre o peito e tão brancas que o senhor não imagina... A cabeça, toda deitada para trás, fora do travesseiro, com os olhos meio fechados, parecia estar olhando para o céu.

O velho resmungou:
— Até já invejei os ricos, mas eu tenho o que comer e beber; no entanto, esta criatura morreu de fome. E abraçou a criança dizendo:

— A sua carta, meu filho, já está escrita, despachada e recebida; vamos à tua casa.

— Pois não!... mas por que o senhor está chorando? — perguntou o pequeno admirado.

— Não é nada, meu querido... é porque gosto de você... não sei por quê... e faz apenas quinze minutos que o conheço... Olha aqui, eu também tive mãe... Às vezes, parece-me vê-la ainda deitada na cama, e ouvi-la dizer, quando eu ia sair da casa paterna: “Meu filho, seja honrado e bom cristão!” A imagem de Maria, que ali estava presente, parecia sorrir-me. Sabe, eu amava muito a Virgem Santíssima, quando era menino... Quanto a ser honrado, tenho-o sido... Bom cristão... bem...
Fique contente, minha mãe! Eu também quero ir para o lugar onde a senhora está! E vou levar comigo o pequeno, este pobre anjo, que nunca mais abandonarei, porque a sua estranha carta, que nem sequer cheguei a escrever, teve um duplo efeito: deu um pai para ele e um coração para mim!



Postado por Marisa Alverga


 A MULHER DA COLINA

 Era ranzinza e mal humorada. Vivia sozinha, numa casa velha e servia de divertimento para a criançada, que se comprazia em humilhá-la, ante o olhar complacente dos adultos, que faziam questão de ignorá-la. Ninguém se perguntava quem fora essa mulher que o tempo havia gasto tão inexoravelmente.

Não se sabia de onde surgira. Simplesmente apareceu naquela cidadezinha perdida entre as montanhas. O corpo mal coberto por alguns trapos, cabelos despenteados e pés descalços, catava no lixo os alimentos que lhe matavam a fome.
Isabel chegou há pouco tempo. Tinha só doze anos e era, em tudo, uma criança com seus cabelos compridos, esvoaçando ao vento . Muito alegre e comunicativa, fazia amizade muito facilmente e não havia quem resistisse ao seu riso contagiante.
Ao voltar da escola, viu alguns meninos perseguindo uma pobre mulher indefesa, que apenas chorava, tentando esconder a sua infelicidade. Uns mais afoitos, rasgaram-lhe o vestido e, sem se conter, chamou-os de estúpidos e se interpôs entre aqueles brutos e a "Mulher da Colina". Ela não tinha nome e foi assim que a apelidaram. Tentou aproximar-se, mas foi repelida e achou melhor não insistir.
          Em casa, pediu à mãe um dos seus vestidos para oferecer àquela pobrezinha. Teve tanta pena! Ficara quase nua!
Mal o dia surgiu, seguiu para  a Colina. Sem saber bem por quê, ficou indecisa, sem coragem de bater à porta, onde uma mulher amargava os horrores da solidão. Sentou-se um tanto à distância, ouvindo o cantar dos pássaros que voavam nas imediações daquela tapera e quase assustou-se quando "a mulher da colina" surgiu à porta.
- O quê você quer, menina?
- Falar com a senhora.
- Vá embora, garota! Não foi suficiente o que me fizeram ontem?
Isabel observou que ela tinha um olho roxo e inchado.
- Eles lhe fizeram isso?
- E quem mais poderia tê-lo feito?
- Olhe, a senhora me desculpe, mas cheguei aqui há alguns dias. Não tive nada a ver com o que aconteceu ontem e até tentei ...
         - Ah, eu me lembro! Foi você a menina que impediu que a garotada me linchasse! Pois saiba, mocinha, que não estou agradecida. Devia ter deixado que aqueles brutos   me matassem. Ou pensa que gosto de viver? Pequena idiota! Eles me teriam feito um grande favor. Ora, mas você  não entende nada disso! Vá embora, já disse! Deixe-me em paz!
- Como é o seu nome?
- Não tenho nome. Sou, apenas, "a mulher da colina".
- Bem, minha mãe mandou este vestido e ...
Era a primeira vez que recebia um gesto de simpatia
daquela cidade que tanto a machucava e não pode impedir que as lágrimas lhe molhassem o rosto vincado de rugas. De onde vinha essa menina? Não queria a piedade de ninguém! Entrou e bateu-lhe com a porta na cara.
A pequena Isabel vivia triste pelos cantos da casa. Pensava, constantemente, naquela mulher estranha! Tinha que voltar à casa da Colina. Uma força superior a empurrava para lá. Era muito criança para entender o que estava acontecendo, mas resolveu que voltaria lá.
"A Mulher da Colina" parece que a esperava. Não a mandou embora e até ensaiou um arremedo de sorriso. Levou-lhe um presente. Numa sacola havia pão e um pedaço de queijo. A mulher nada dizia, olhando aquela criança loura, que parecia ser a única pessoa com coração naquela cidade. Não estava acostumada a gestos de carinho. A vida só lhe havia dado dores acerbas, dissabores atrozes, mágoas profundas, até essa criança surgir não sabia de onde.
Isabel acostumou-se a visitá-la diariamente e em pouco tempo eram amigas, não obstante as diferenças gritantes entre as duas e devagar foi arrancando-lhe retalhos de lembranças.
         - Sabe, nem sempre fui assim. Já tive nome! Quando nasci chamaram-me de Luciana. Fui casada e tive uma filha.
A última vez que a vi tinha assim a sua sua idade. Também era loura como você  e eu.
- E onde anda a sua filhinha?
- Não sei. Nunca mais a vi.
Isabel ficou cansada de convidar a mãe para visitar Dona Luciana. Agora ela tinha nome - dizia toda orgulhosa - , mas a mãe nunca tinha tempo e resolveu pedir ao pai que a acompanhasse e para lá seguiram num domingo ensolarado.
  Dona Luciana não se mostrou muito amável na presença daquele  desconhecido, mas  terminou  deixando-se  contagiarpela alegria de sua amiguinha. Trazia boas novas. O pai consentiu que fosse morar num quartinho nos fundos da sua casa e assim poderiam ficar mais tempo juntas. Foi uma luta convencê-la. Havia se acostumado à sua desgraça.
Era um quartinho pouco maior que a sua cabana, singelamente decorado pelo carinho de uma criança.
Dona Celita não viu com bons olhos aquele arranjo e discutiu com o marido a permissão para que uma estranha ali se instalasse, mas terminou por aceitar o inevitável, considerando ainda a alegria da sua pequena Isabel e com o tempo concluiu que fora ela que saíra ganhando, pois a tia Lucy - como passou a ser  chamada, revelou-se uma pessoa muito educada, de bons princípios e, para sua grande surpresa, muito instruída. Isabel passava todas as suas horas livres naquele quartinho e a tia Lucy ensinava-lhe os deveres escolares e lhe contava estórias.
Desde o princípio, Dona Celita ficou impressionada com aquela mulher, que podia ter cinqüenta anos de idade. Habilidosa, reformou os vestidos que lhe dava e tinha hoje outra aparência. Estava sempre procurando ajudar: cozinhava, lavava, arrumava a casa e aos poucos conquistou toda  a  família  e  Dona  Celita  decidiu  penetrar      naquele
mistério, custasse o que custasse. Isabel já havia falado sobre a sua filhinha e achou que não havia melhor assunto para fazê-la falar.
- Tia Lucy, Isabel me disse que a senhora tem uma filha.
- É verdade.
- E onde está sua filha?
- Não sei.
- Fale-me sobre ela, pois talvez possa ajudá-la.
- Ninguém pode me ajudar.
- Vamos tentar?
- Bem, quando as meninas ainda brincam de bonecas, já estava casada com um rapaz tão criança quanto eu. Fugi de casa para escapar de uma madrasta mais malvada do que "a bruxa de Branca de Neve". Meu marido era um garotão bonito e trabalhador. Nada nos faltava e vivíamos felizes.
Minha filha nasceu numa bela manhã de sol e foi a primeira boneca que tive na vida, pois vim de uma família pobre. Além disso, não conheci mãe e minha madrasta só me dava pancadas. A partir do nascimento da minha filha, meu marido mudou o comportamento. Passava dias sem aparecer em casa e quando chegava estava sempre embriagado e agressivo. Um dia pediu-me o divórcio. Não concordei porque o amava muito.
Certo dia, quando acordei, minha filha tinha desaparecido. Chorei, gritei, esbravejei e meu esposo ria, divertindo-se com a minha desgraça. Foi um momento dramático e triste da minha vida. Não sei contar como aconteceu, pois só me lembro que ouvia, como se viesse de muito longe, aquela risada tétrica. Escutei-o dizer que a menina era só dele e que jamais mais haveria de vê-la. Estávamos na cozinha e havia uma faca em cima da mesa e enfiei-a nas suas costas. Ele não gemeu nem gritou. Eu? Eu também não gritei nem chorei. Simplesmente corri.

Nada levei, a não ser a roupa que tinha no corpo. Andei sem direção, sem rumo, sem destino. Cansada demais adormeci num lugar qualquer, sem mesmo saber onde estava e, quando o dia surgiu, dirigi-me a um pequeno sítio onde  permaneci por algum tempo, como empregada doméstica. Precisava de roupa e de comida para empreender a minha busca. Tinha que encontrar a minha filha.
              Levei anos percorrendo diversas cidades. Não havia nenhum indício, nenhum sinal, nada, nada. Não podia procurar as autoridades, pois havia matado o meu marido.
   O sofrimento minou todo o meu ser. Não tinha mais condições de trabalhar, pois vivia chorando, falando sozinha, blasfemando, revoltada com Deus e o mundo. Tinha pesadelos terríveis, vendo meu marido morrendo, chamando-me de assassina. Ninguém me aceitava na sua casa por mais de um dia ou dois e a lenda de que era louca foi crescendo e se espalhando e passei a ser motivo de chacota, sempre perseguida pelas crianças.
Sem trabalho, o jeito foi implorar a caridade pública e, andando sem rumo, cheguei até aqui, vendo em cada rostinho de  criança a imagem da minha Célia de cabelos de ouro.
- Célia?
- Sim, a minha filhinha.
- Como se chamava o seu marido?
- A senhora vai me entregar à Polícia?
- Não, de jeito nenhum. Só quero ajudá-la.
- Tia Lucy, quando eu tinha a idade da minha filha, meu pai me levou, uma madrugada, para um passeio. Não permitiu que acordasse minha mãe, dizendo-me que seria seria uma surpresa. Como toda criança, deixei-me convencer, ansiosa que estava para passear com meu pai.
        No dia seguinte, à tardinha, soubemos que havia sido ferido e estava hospitalizado. Corremos ao Hospital. Meu pai fora encontrado no chão da nossa casa, com uma facada nas costas. À Polícia ele dissera que minha mãe estava viajando e um ladrão o havia atacado. A ferida não foi mortal e em pouco tempo estava conosco. Às minhas perguntas, meu pai respondia que minha mãe havia fugido. Chorei muito e durante um longo tempo procurei-a por todos os cantos. Nunca mais tive notícias dela.
Ritinha foi boa para mim. Morreu há dois anos e papai também se foi há seis meses. Meu marido transferiu-se para esta cidade e desde o começo senti que aqui seria o meu lugar. Gostei da cidade, da sua gente e agora vi que meu coração estava certo, pois graças à minha filha encontrei você...mamãe.
- Como?
- Sim, sou sua filha. Celita é um apelido que Ritinha me deu, tentando apagar o passado, mas meu nome é Célia e estou muito feliz. A senhora não matou meu pai. Foi um ferimento leve e ...
Isabel entrou correndo e não entendeu o que estava acontecendo. Ali estavam sua mãe e a tia Lucy chorando e rindo. Ela não sabia que também se chora de alegria e viu-se envolvida pelos braços amorosos de suas duas mães...

Marisa Alverga

(Do livro POR CULPA DO DESTINO)  





1. ACREDITE SE QUISER Silvia Schmidt

2. Sempre num lugar por onde passavam muitas pessoas, um mendigo sentava-se na calçada e ao lado colocava uma placa com os dizeres: “ Vejam como sou feliz! Sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante tenho uma bela residência, vivo confortavelmente, sou um sucesso, sou saudável e bem humorado”.

  3. Alguns passantes, o olhavam intrigados, outros o achavam doido e outros até davam-lhe dinheiro. Todos os dias, antes de dormir, ele contava o dinheiro e notava que a cada dia a quantia era maior.

  4. Numa bela manhã, um importante e arrojado executivo, que já o observava há algum tempo, aproximou-se e lhe disse: “ Você é muito criativo! Não gostaria de colaborar numa campanha da empresa”?

  5. Após um caprichado banho e com roupas novas, foi levado para a empresa. Daí para frente sua vida foi uma seqüência de sucessos e em certo tempo ele tornou-se um dos sócios majoritários.

6. Numa entrevista coletiva à imprensa, ele esclareceu de como conseguira sair da mendicância para tão alta posição. Contou ele: Bem, houve época em que eu costumava me sentar nas calçadas com uma placa ao lado, que dizia:

  7. “ Sou um nada neste mundo! Ninguém me ajuda! Não tenho onde morar! Sou um homem fracassado e maltratado pela vida! Não consigo um mísero emprego que me renda alguns trocados! Mal consigo sobreviver”!

  8. As coisas iam de mal a pior quando, certa noite, eu achei um livro e nele atentei para um trecho que dizia: “ Tudo que você fala a seu respeito vai se reforçando. Por pior que esteja a sua vida, diga que tudo vai bem. Por mais que você não goste de sua aparência, afirme-se bonito. Por mais pobre que seja você, diga a si mesmo e aos outros que você é Próspero”.

  9. Aquilo me tocou profundamente e, como nada tinha a perder, decidi trocar os dizeres da placa para: “ Vejam como sou feliz”! “ Sou um homem próspero, sei que sou bonito, sou muito importante, tenho uma bela residência, vivo confortavelmente, sou um sucesso, sou saudável e bem humorado”.

  10. E a partir desse dia tudo começou a mudar, a vida me trouxe a pessoa certa para tudo que eu precisava, até que cheguei onde estou hoje. Tive apenas que entender o poder das palavras. O Universo sempre apoiará tudo o que dissermos e escrevermos ou pensarmos a nosso respeito e isso acabará se manifestando em nossa vida como realidade.

  11. Enquanto afirmarmos que tudo vai mal, que nossa aparência é horrível, que nossos bens materiais são ínfimos, a tendência é que as coisas fiquem piores ainda, pois o Universo as reforçará. Ele materializa em nossa vida todas as nossas crenças.

12. Uma repórter, ironicamente, questionou: - O senhor está querendo dizer que algumas palavras escritas numa simples placa modificaram a sua vida? Respondeu o homem, cheio de bom humor: “ Claro que não, minha ingênua Amiga”! “ Primeiro eu tive que acreditar nelas”! Colaboração: Marcelo Fiolo P. de C. Ferreira

Postado por Marisa Alverga



Um Conto De Paulo Coelho

Um homem, o seu cavalo e o seu cão iam por um caminho. Quando passavam perto de uma árvore enorme, caiu um raio e os três morreram fulminados.
Mas o homem não se deu conta de que já tinha abandonado este mundo, e prosseguiu o seu caminho com os seus dois animais (às vezes os mortos andam um certo tempo antes de tomarem consciência da sua nova condição…)
O caminho era muito comprido e, colina acima, o Sol estava muito intenso; eles estavam suados e sedentos. Numa curva do caminho viram um magnífico portal de mármore, que conduzia a uma praça pavimentada com portais de ouro.
O caminhante dirigiu-se ao homem que guardava a entrada e travou com ele, o seguinte diálogo: - Bons dias. - Bons dias – Respondeu o guardião. - Como se chama este lugar tão bonito? - Aqui é o céu.
- Que bom termos chegado ao Céu, porque estamos sedentos! - Você pode entrar e beber quanta água queira. E o guardião apontou a fonte. - Mas o meu cavalo e o meu cão também têm sede... - Sinto muito – disse o guardião – mas aqui não é permitida a entrada de animais.
O homem levantou-se com grande desgosto, visto que tinha muitíssima sede, mas não pensava em beber sozinho. Agradeceu ao guardião e seguiu adiante. Depois de caminhar um bom pedaço de tempo encosta acima, já exaustos os três, chegaram a um outro sítio, cuja entrada estava assinalada por uma porta velha que dava para um caminho de terra ladeado por árvores...
À sombra de uma das árvores estava deitado um homem, com a cabeça tapada por um chapéu. Dormia, provavelmente. - Bons dias – disse o caminhante. O homem respondeu com um aceno. - Temos muita sede, o meu cavalo, o meu cão e eu. - Há uma fonte no meio daquelas rochas – disse o homem apontando o lugar.
- Podeis beber toda a água que quiserdes. O homem, o cavalo e o cão foram até à fonte e mataram a sua sede. O caminhante voltou atrás, para agradecer ao homem. - Podeis voltar sempre que quiserdes – respondeu este.
- A propósito, como se chama este lugar? – perguntou o caminhante. - CÉU. - O Céu? Mas, o guardião do portão de mármore disse-me que ali é que era o Céu!
- Ali não é o Céu, é o inferno – contradisse o guardião. O caminhante ficou perplexo. - Deverias proibir que utilizem o vosso nome! Essa informação falsa deve provocar grandes confusões! – advertiu o caminhante.
- De modo nenhum! – respondeu o guardião – na realidade, fazem-nos um grande favor, porque ficam ali todos os que são capazes de abandonar os seus melhores amigos… Paulo Coelho.
Jamais abandones os teus verdadeiros Amigos, ainda que isso te traga inconvenientes pessoais. Se eles se vêem a dar o seu amor e companhia, ficas em dívida para com eles: “Nunca os abandones”.
Porque: Fazer um Amigo é uma Graça. Ter um Amigo é um Dom. Conservar um Amigo é uma Virtude, Ser Teu Amigo! É uma Honra. Digo eu!...

Postado por Marisa Alverga




UMA HISTÓRIA VERDADEIRA


 Tess era uma garotinha precoce de 8 anos, quando ouviu seu Papai e sua Mamãe conversando sobre seu irmãozinho, Andrew.
Tudo que ela sabia era que ele estava doente e que eles estavam completamente sem dinheiro. Eles se mudariam para um apartamento num subúrbio no próximo mês, porque o Papai não tinha recursos para pagar as contas do médico e o aluguel do apartamento.
Somente uma intervenção cirúrgica muito cara poderia salvá-lo agora, e parecia que não havia ninguém que pudesse emprestar-lhes o dinheiro. Ela ouviu seu pai dizer à sua mãe chorosa, com um sussurro desesperado,
"Somente um milagre poderá salvá-lo agora."
Tess foi ao seu quarto e puxou o vidro de gelatina de seu esconderijo no armário. Despejou todo o dinheiro que tinha no chão e contou-o cuidadosamente. Três vezes. O total tinha que estar exato. Não havia margem de erro. Colocando as moedas de volta no vidro com cuidado e fechando a tampa, ela saiu devagarinho pela porta do fundo e andou 5 quarteirões até a Farmácia Rexall, com seu símbolo de Chefe de Pele Vermelha sobre a porta.
Ela esperou pacientemente que o farmacêutico a visse e desse atenção, mas ele estava muito ocupado no momento. Tess esfregou os pés no chão para fazer barulho. Nada! Ela limpou a garganta com o som mais terrível que ela pôde fazer. Nem assim! Finalmente ela pegou um níquel do vidro e bateu no vidro da porta.
Finalmente!
E o que você quer?" perguntou o farmacêutico com voz aborrecida.. "Estou conversando com meu irmão que chegou de Chicago e que não vejo há séculos", disse ele sem esperar resposta pela sua pergunta. "Bem, eu quero lhe falar sobre meu irmão", Tess respondeu no mesmo tom aborrecido. "Ele está realmente doente... e eu quero comprar um milagre."
"Como?", balbuciou o farmacêutico atônito. "Ele chama Andrew e está com alguma coisa muito ruim crescendo dentro de sua cabeça e Papai diz que só um milagre poderá salvá-lo. "Então, quanto custa um milagre?"
"Não vendemos milagres aqui, garotinha. Desculpe, mas não posso ajudá-la", respondeu o farmacêutico, com um tom mais suave. "Escute, eu tenho o dinheiro para pagar. Se não for suficiente, conseguirei o resto. Por favor, diga-me quanto custa."
O irmão do farmacêutico era um homem bem vestido. Ele deu um passo à frente e perguntou à garota. "Que tipo de milagre seu irmão precisa?" "Não sei", respondeu Tess, levantando os olhos para ele. "Só sei que ele
está muito mal e Mamãe diz que ele precisa ser operado. Mas Papai não pode pagar, então quero usar meu dinheiro."
"Quanto você tem", perguntou o homem de Chicago.
"Um dólar e 11 centavos", Tess respondeu quase num sussuro. "E é tudo que tenho, mas posso conseguir mais se for preciso."
"Puxa, que coincidência", sorriu o homem. "Um dólar e 11 centavos - exatamente o preço de um milagre para irmãozinhos." Ele pegou pegou o dinheiro com uma mão e dando a outra mão à menina, disse " Leve-me até
aonde você mora. Quero ver seu irmão e conhecer seus pais. Quero ver se tenho o tipo de milagre que você precisa."
Esse senhor bem vestido era o Dr. Carlton Armstrong, um cirurgião, especializado em neuro-cirurgia. A operação foi feita com sucesso e sem custo algum, e meses depois Andrew estava em casa novamente, recuperado.
Mamãe e Papai comentavam alegremente sobre a sequência de acontecimentos ocorridos. "A cirurgia", murmurou Mamãe, "foi um milagre real. Gostaria de saber quanto deve ter custado?" Tess sorriu. Ela sabia exatamente quanto custa um milagre... um dólar e onze centavos... mais a fé de uma garotinha. Um milagre não é a suspensão de uma lei natural, mas o resultado de uma lei maior .
Desconheço a autoria
Postado por Marisa Alverga.


A TESOURA E A AGULHA

Desde pequena, a moça se acostumara a conviver com tecidos, tesouras, agulhas e linhas de diversos padrões e cores. Sua mãe, exímia costureira, sustentava toda a família com muito trabalho e honestidade.

A moça casara com um frio empresário que gastava as energias com os negócios e dava muita importância ao que ela nem sempre julgava essencial.

Já estava acostumada a ver o marido cortar os passeios com os filhos por um almoço de negócios, já não agüentava ouvir o marido falar em cortes, mudanças precipitadas... Isso sem falar nas inúmeras vezes que foi cortada ao tentar argumentar, discutir os problemas do cotidiano...

Numa rara noite em que todos estavam em casa, a caçula começou a implicar com o irmão. O pai, sempre ocupado, não suportava o barulho e sem querer ouvir ou entender a situação mandou as duas crianças para o quarto, sem conversa. A mulher simplesmente pegou sua caixinha de costura com alguns retalhos e chamou o marido:

- Agora não, meu bem!
- Agora sim, querido!
O homem percebendo que não tinha escolha, sentou-se e ficou olhando os retalhos, a agulha, a tesoura, carretéis de linha sem nada compreender.

- Meu bem, para que serve a tesoura? - perguntou brandamente a mulher.
- Para cortar, aparar...
- E a agulha?
- Para costurar, ora!

- Você consegue fazer uma colcha de retalhos só cortando?
- Na verdade não faria de jeito nenhum - não sei costurar, lembra?
- Não estou brincando! Você já viu ou soube de alguma costureira que
costura sem linha e agulha, só com tesoura?

- Claro que não, meu amor.
- Minha mãe me falou um dia, quando meu pai nos deixou, que nossa família era como uma colcha de retalhos. Cada um de nós era um retalho colorido.
Para que nossa colcha fique sempre bonita precisamos usar a agulha e as linhas.

- E daí?
- Daí que você só sabe usar a tesoura. Corta nossos momentos de lazer, corta a minha palavra, corta o diálogo com as crianças. Você só separa, separa...
- Eu?

- Sim. Aprenda a unir nossa família. Aprenda a unir o seu trabalho à nossa família, unir os seus amigos aos meus... Qualquer dia você perceberá o quanto nos cortou de sua vida e talvez seja tarde.

O marido nada disse - sinal de que ia pensar, refletir. Mudanças demandam tempo.
- Não vou mais falar sobre isso. Só quero que você pense, tá? Estou no quarto das crianças. Vou costurá-las porque não quero dois retalhos tão importantes de minha vida separados. Boa noite!
- Boa noite.

Dali a meia hora o marido entrou no quarto em que brincavam as crianças, enquanto a mulher costurava uma bonita colcha de retalhos.

A cena enterneceu o homem e o fez juntar-se aos três.
Abraçou-os e os levou para jantar.

Assis Almeida







O TEMPO E O RELÓGIO    

Certa vez, o tempo e o relógio se encontraram (embora estejam todo tempo juntos).
O tempo, revoltado há muito tempo, disse ao relógio tudo aquilo que, há tempos, vinha guardando.
Que ele, tempo, tinha saudades daqueles tempos em que não existiam relógios e todo mundo tinha tempo. Mas, quando o homem, ingrato, fabricou o relógio que começou a marcar tempo, ninguém mais conseguiu ter tempo. O homem ficou reduzido a horas, minutos e segundos.
"Antes, naqueles bons tempos" - disse o tempo - "todo homem tinha tempo de curtir a natureza. Viviam com o sol de dia, dormiam com a
lua à noite".
"Quando a lua caprichosa não queria aparecer, era um bando de estrelas que piscavam brincalhonas, dando tempo para o sol nascer".
"Mas agora, nestes tempos, ninguém mais tem tempo de ver se a lua vem sorrindo para a direita ou para a esquerda, se está de cara cheia ou de mau humor, sem querer aparecer".
O tempo prosseguiu com um sorriso de tristeza.
"Antigamente - que tempos! - os homens nasciam no tempo certo em que tinham de nascer. Não havia incubadoura para os fora de tempo nem cesariana para os que passam do tempo.
A natureza sabia, em tempo, quando era tempo. Hoje, o homem já obedece a você, mesmo antes de nascer. Os médicos estão apressados e sem tempo para perder".
O relógio só ouvia e, apressado, prosseguia no seu tic-tac sem tempo de retrucar, com medo de se atrasar.
"Noutros tempos" - disse o tempo - "o homem crescia sem pressa, com tempo de amadurar. Comia sem ter horário, dormia quando tinha sono. Fazia amor ao relento, como flores que se beijam, como aves que se aninham. Envelhecia aos pouquinhos, como um calmo entardecer. Depois, dormia o sono profundo e, no outro
despertar, abraçava-me com carinho, no infinito...no infinito...".
O tempo enxugou uma lágrima, talvez de orvalho. A voz que estava embargada, tomou uma conotação de revolta:
"Hoje, vai logo para a escola e traz para casa um horário. Quando aprende a ler as horas ganha do pai um relógio e, assim, ensinam-lhe bem cedo a maneira mais correta de nunca ter tempo na vida".
O tempo não se preocupava mais com o tic-tac do relógio que nada retrucava para não se atrasar. Continuou a sofismar com voz mais branda.
"Come apressado, sem tempo. Dorme ainda sem
sono, pois, de manhã bem cedinho, você começa a gritar arrancando-o da cama, quando ainda
bem cedinho, você começa a gritar arrancando-o da cama, quando ainda queria dormir".
"Amor? Nem sei se ainda faz... há gente que nem tem tempo. Quando faz é no zás-trás. Quando vê, já envelheceu, sem ver o tempo passar".
"Na hora do sono profundo, enterram-no apressados, para a vida continuar. E no outro despertar, chega tão abobalhado que não consegue me achar".
Ao relógio, sem poder nunca parar, só restava se calar. Além do sentimento de culpa que passou a carregar, a partir desse tempo, quando bate as doze badaladas no silêncio da meia-noite, o canto
é tão melancólico que até parece chorar
(Desconheço a Autoria)
 Postado por Marisa Alverga





 
OS TRÊS GRÃOS DE MILHO

Coelho Neto





           Certo mancebo cuja infância venturosa fora o mimo dos pais,  perdendo-os, achou-se só no mundo, sem amparo nem conselho, tendo, por haveres, as terras férteis dum sítio onde havia um paiol abarrotado de milho. Julgando que nunca mais se esgotaria tamanha provisão, deixou-se ficar em casa, a comer e a dormir, vendendo, a quem o buscava, o milho que herdara.

           As terras abandonadas foram perdendo o viço, e o mato, crescendo  vigoroso, em pouco tempo sufocou as sementeiras.

           Uma manhã, ainda nos dias fartos, estava o soberbo e preguiçoso herdeiro a balançar-se na rede, quando um pobre homem passou, pedindo esmolas.

           Era um desgraçado, que habitava na vizinhança e tinha apenas uma choça e alguns palmos de terra.

           O herdeiro, ouvindo a voz do pobre, longe de compadecer-se, sorriu e, por esmola, atirou-lhe, com desprezo, três grãos de milho. Foi-se o pobre sem dizer palavra e o preguiçoso ficou-se a rir, balançando-se na rede.

           Correram tempos. Já o mato bravo chegava à casa, e o rapaz, fiado sempre no paiol de milho, vivia descuidadamente, quando, recorrendo ao celeiro, achou-o vazio, porque toda a provisão havia passado às mãos dos compradores.

           Só então, compreendendo a sua miséria e sem ânimo de atirar-se ao trabalho, descoroçoado, pôs-se a lamentar-se e chorava, quando viu chegar, em formoso cavalo, um homem forte e bem posto que, ao dar com ele em tão miserável condição, deteve o animal e perguntou: “Que tendes? Por que assim vos lamentais?”

           “Morro à míngua!”, soluçou o infeliz. Tinha um sítio fértil e as ervas más tomaram-no. Tinha um paiol abarrotado de milho e esgotou-se. Nada mais possuo”

           “A culpa é vossa”, disse o cavaleiro. “Julgando que nunca acabaria a herança que tivestes de vossos pais, abandonastes a terra que, dantes, não negava frutos. Se não vos sentis com ânimo para cuidar do gado, vendei-mo. A mim darão bom prêmio as terras que dizeis estéreis e, como pegam com o meu sítio, faze-me conta comprá-las, para dilatar a minha lavoura. Entremos em ajuste”.

           E combinaram. Justamente no dia em que o rapaz recebia do homem o preço estipulado, perguntou-lhe o comprador:

           - Sabeis com que dinheiro vos pago?... Com o que me deram os três grãos de milho que, desprezivelmente, me atirastes. Levei-os comigo e, como não tinha ferramenta, com as próprias mãos fiz uma cova na terra, e a terra devolveu-me o depósito, muitas vezes dobrado. Plantando os grãos que vieram, consegui um canteiro, deu-me o canteiro uma roça, deu-me  a roça um campo e fui sempre trocando os lucros por novos benefícios: primeiro em sementes, depois em gado, depois em máquinas e hoje com ele adquiro as terras donde saiu o capital modesto com que comecei a granjear fortuna. Vede agora o que iz com três grãos de milho e perseverança no trabalho, e, comparai com o que acontece, não obstante haverdes possuído terras vastas e um p grande paiol atestado de cereal. Não soubestes aproveitar os bens que herdastes e, mais uma vez, com a vossa desgraça, fica confirmado que a fortuna, seja embora incontável, cede à miséria, quando é mal dirigida.

           O ouro foge por entre os dedos, como a água e a terra é um cofre seguro e maravilhoso que restitui centuplicado o benefício que se lhe faz.

           Sem mais dizer  - e dissera-o bastante – o lavrador deu  de rédeas ao cavalo e foi-se.

Postado por Marisa Alverga


OS VIZINHOS

            — O’ João, se te fosse dado pedir ao Senhor alguma coisa, que lhe pedias tu ?
            — Eu? Bem pouco. Pedia-lhe saúde para mim e para os meus, mais a sua benção sobre as minhas terras que, d’uns tempos a esta parte, andam bem precisadas do favor divino.
            — Só isso?
            Pois então se Deus aparecesse e quisesse amercear-te, só lhe pedias essa
miséria?
            — Para mim seria a melhor fortuna. E tu?
            — Eu? Ah! eu . . . Havia de pedir tanto ouro, tanto! que eu e a minha gente, dia e
noite contando-o, não chegássemos, ao fim da vida, a saber a soma exata da nossa fortuna.
            — E para que tanto dinheiro?
            — Ora! para ser o homem mais rico do mundo.
            — Mas não o mais feliz.
            — Como não? Que entendes tu por felicidade?
            — Eu entendo que a felicidade é a saúde do corpo e a paz do espírito.
            — Pois cá para mim é o dinheiro. Quem tem dinheiro tem tudo.
            — Nem tudo.
            Entraram numa trilha que cortava o canavial viçoso.
            Rompia clara e fresca a manhã.
            Passarinhos cantavam nos ramos e as águas brandas que discorriam punham no ar agradável murmúrio. O sino da igreja rústica, onde os dois homens haviam ouvido
a missa do Natal, bimbalhava festivamente. E eles lá iam com os seus altos cajados, por entre as ervas discutindo a felicidade.
            Os sítios eram contíguos: limitava-os uma cerca de espinhos. Junto á primeira porteira, o que ambicionava a fortuna incontável, despediu-se do companheiro.
            — Então adeus, João. E olha que o Senhor não ficaria mais pobre se quisesse realizar  o teu desejo. Adeus!
            E o outro respondeu caminhando:
            — E eu ficaria contente e renderia comovidas graças á sua misericórdia.
            Entrou o ambicioso no terreiro do seu sitio e, ainda não avistara a casa, quando  lhe pareceu ouvir alegre som metálico como de peças de ouro que rolassem tinindo.           Estugou os passos ansiosos com o coração aos saltos, e, ao chegar á varanda, viu, sobre a mesa, um grande saco transbordando de ouro. E eram dobrões novos, reluzentes como se houvessem saído, naquela mesma manhã, da cunhagem. A mulher e os dois filhos empilhavam as moedas, tanto, porém, queviram o homem aparecer, correram a anunciar-lhe a boa nova.
            « Entrara ali um formoso menino e, sem dizer palavra, deixara sobre a mesa aquele saco de ouro. Como lidassem com ele para que dissesse quem era, donde vinha, apenas respondera: Que era portador dum presente de Deus. E, com tais palavras, desaparecera. »
            Lembrou-se, então, o homem da conversa que tivera com o vizinho e sorriu pensando : « Se Deus assim tão de pronto atendeu ao meu pedido avultado, por certo não deixou o dele sem resposta. » Pobre João! Como se ralará de inveja quando souber da minha riqueza. Logo, porém, sem agradecer ao Senhor o generoso presente, disse para a mulher e para os filhos:
            — Bem. Não percamos tempo. Ha ai muito que contar. Vamos ver  quantos dobrões ha no saco, que nem por isso é tão grande como podia ser. Em menos de meia hora poderemos ter a tarefa acabada.
            E os quatro, em volta da mesa, puseram- se a contar as moedas. Á medida que
perfaziam um conto separavam as pilhas e assim cobriram a mesa e foram depois
arrumando nos aparadores e nos bancos.
            Veio a noite, e o saco sempre a despejar moedas. Uma luz amarela aclarou o interior da casa. As quatro criaturas alucinadas iam e vinham acastelando dobrões. Os moveis já estavam cobertos, passaram a juntá-los no chão. E não sentiam os dias nem as noites: contavam fascinadas pelo ouro.
            A casa encheu-se. Arrastaram o saco para o paiol e o paiol ficou a deitar fora.
Passaram ao moinho e abarrotaram-no; recolheram ás tulhas, á abegoaria, a todos os
cantos onde pudessem entesourar. Por fim,como o saco não se esvaziava, foram
empilhando mesmo no terreiro e ao longo dos caminhos onde as plantas haviam
mirrado.
            João, o modesto, logo ao passar a porteira do seu sitio, ficou deslumbrado vendo os seus milhos ostentando pendões viçosos, o seu feijoal alastrando, a sua vinha carregada, a fonte manando copiosamente, todo o seu gado nédio e luzidio, pastando
afogado em ervas que haviam nascido em terreno sáfaro que sempre respondera com ingratidão a todo o trato e ao mais penoso granjeio.
            E ainda não saíra do pasmo quando viu aparecer á porta do casebre, que uma
roseira recente floria e perfumava, a mulher,que ele deixara no leito, tolhida e ardendo
em febre, rindo, robusta e corada, como no tempo em que a vira, ainda donzela e a
pedira por noiva.
            Compreendendo imediatamente que, em tudo aquilo, andara a mão benéfica de
Deus, antes de acudir á mulher, que o chamava, ajoelhou-se e agradeceu o milagre. Erguendo-se, então, encaminhou-se á casa e a mulher, atirando-se-lhe  nos
braços, disse:
            — Apareceu aqui um formoso menino e, tomando do regador, que ali estava, saiu a regar as terras e, onde caia a água, fosse entre pedras, logo rebentava a planta. O gado, depois de beber, de entresilhado  que estava, ficou assim como o vês; os milhos murchos cresceram e apendoaram ; o feijoal alastrou, o arroz veio logo a flux, as arvores cobriram-se de flores, a fonte entrou a manar e, para maior espanto
meu, quando abri os paióis, vi que estavam atulhados.
            — E que te disse o menino?
            — Sorriu e desapareceu; e foi o seu sorriso que me pôs como estou. Logo senti-me outra : pude andar e com tanta facilidade e ligeireza que corri todo o sitio e vi que
todo ele está ricamente coberto de flores e de frutos.
            — Foi Jesus que aqui esteve, disse o bom homem.
            — Nem podia ser outro, confirmou a mulher.
            E João, pensando no vizinho, disse, sem sombra de inveja:
            — Se foi Deus que nos fez assim felizes, também a sua graça deve ter chegado ao nosso vizinho.
            — Como sabes? perguntou a mulher.
            E João narrou a conversa que haviam entretido, depois da missa, atravessando o
canavial que se dourava ao sol.
            — Deve estar, a esta hora, a contar o seu ouro.
            — Não é mais feliz do que nós, disse a mulher.
            — Não é, de certo, afirmou João, vendo chegar, a zumbir, um louro enxame de
abelhas procurando cortiço onde aboletar-se.
            Correram dias, correram meses. Todos os sábados João descia ao mercado e já
havia comprado uma carreta para transportar os produtos da sua abençoada herdade, que prosperava a mais e mais, quando, uma vez, perguntaram-lhe pelo vizinho:
            « Que era feito de tal homem que não aparecia? »
            João sorriu lembrando-se da manhã do Natal.
            « Para que havia ele de incomodar-se em lidas penosas se tinha, com certeza, mais ouro do que todos os reis da terra? » Quis, entretanto, convencer-se e, esvaziada a
ultima ceira, subiu para a carreta resolvido a passar nas terras do vizinho.
Logo que avistou a porteira travou-se- lhe o coração presago. Um matagal intenso
cobria os caminhos; os talhões, outrora viçosos, desapareciam afogados em
urtigas. Nem uma ovelha balava e do casebre não subia o fumo denunciador da
vida. Estava tudo entristecido e calado como um cemitério.
            João foi guiando lentamente o animal e o carro rangia por entre as ervas altas que haviam reconquistado o terreno, dantes tão rico em flor e em fruto.
            Diante da porteira desceu e, depois de
muito haver batido, resolveu penetrar com
um pressentimento de desgraça. E foi. O terreiro era um mato bravio. A parietaria trepava nos muros tendidos do casebre. Aves sinistras abalaram vendo aproximar-se o homem curioso.
            João, parando no terreiro, bradou para ocasebre escancarado. Não teve resposta.
            Resolveu caminhar e foi. Quando chegou ao limiar da casa viu
pilhas e pilhas de moedas de ouro; tocando,
porém, em uma d’elas estremeceu ao vê-la desfazer-se em pó. Prosseguiu.
Por toda a parte eram montões de ouro,
mas como as taboas do soalho oscilassem, a fortuna logo rolava convertida em poeira. E João seguiu até a sala de jantar.
Em volta da mesa estavam quatro
esqueletos curvados sobre montes de esqueletos e esconder-se-lhe no crânio
como na própria lura.
            Não se conteve então: recuando assombrado afastou-se da casa maldita e, mal
chegou á porteira, ouviu grande estrondo como um desmoronamento. O casebre
aluira e uma poeirada negra escurecia os ares.
João persignou-se e, subindo para a
carreta, tocou o animal fugindo áquele sitio malsinado, lembrando-se do ambicioso
desejo do vizinho, que Deus satisfizera:
            «Tanto ouro, tanto! que ele e a sua gente,dia e noite, contando-o, não chegassem, ao fim da vida, a saber a soma exata da fortuna.» E ali tinham eles o ouro : poeira, sómente poeira.
Os desgraçados haviam sucumbido á fadiga e á fome contando, sem pausa, as moedas que inexoravelmente transbordavam do saco inesgotável.
            Quando avistou, por entre as arvores, a sua casinha alegre, toda em verdura, e viu o seu gado robusto e a sua cultura exuberante, de novo rendeu graças ao Senhor que ouvira o seu voto e lhe recompensara largamente o desejo modesto, dando-lhe a saúde, que é a riqueza do corpo, e a tranquilidade, que é a fortuna do espírito.
E os seus haveres eram mais que suficientes,
porque não só lhe davam para a abastança como ainda deixavam sobras que eram repartidas em esmolas.E assim, acudindo ao pobre, demonstrava ao Senhor a sua gratidão. E o outro, no próprio premio tivera o justo castigo da sua desmarcada ambição.
E foi assim que Jesus infante satisfez os desejos dos dois vizinhos.

Postado por Marisa Alverga

TEMPO PARA OS FILHOS

Uma história para os pais refletirem


Um menino, com voz tímida e os olhos cheios de admiração, pergunta ao pai, quando este retorna do trabalho:
- Papai! Quanto o Sr. Ganha por hora?
O pai, num gesto severo, respondeu:
- Escuta aqui meu filho, isto nem a sua mãe sabe! Não amole, estou cansado!
Mas o filho insiste:
- Mas papai, por favor, diga quanto o Sr. ganha por hora?
A reação do pai foi menos severa e respondeu:
- Três reais por hora
- Então, papai, o Sr. poderia me emprestar um real?
O pai, cheio de ira e tratando
o filho com brutalidade, respondeu:
- Então era essa a razão de querer saber quanto eu ganho? Vá dormir e não me amole mais, menino aproveitador!
Já era tarde quando o pai começou a pensar no que havia acontecido e sentiu-se culpado.
Talvez, quem sabe, o filho precisasse comprar algo.
Querendo descarregar sua consciência doida, foi até o quarto do menino e, em voz baixa, perguntou:
- Filho, está dormindo?
- Não papai! (respondeu o sonolento garoto)
- Olha aqui está o dinheiro que me pediu, um real.
- Muito obrigado, papai! (disse o filho, levantando-se
e retirando mais dois reais de uma caixinha que estava sob a cama).
Agora já completei, Papai! Tenho três reais. Poderia me vender uma hora de seu tempo?
Para refletir:"Será que estamos dedicando tempo suficiente aos nossos filhos?"

Postado por Marisa Alverga





1.- Quando é preciso ser prático

A história seguinte é atribuída ao sábio Mohammed Gwath Shattari, um dos mais admirados pelo Imperador Humayun. Morreu em 1563, e existe um templo em sua homenagem em Gwalior.
     Três viajantes cruzavam juntos as montanhas do Himalaia, discutindo a importância de colocar na prática tudo aquilo que aprenderam no plano espiritual. Estavam tão entretidos na conversa, que somente tarde da noite se deram conta que carregavam consigo apenas um pedaço de pão.
     Resolveram não discutir sobre quem merecia come-lo; como eram homens piedosos, deixariam a decisão nas mãos dos deuses. Rezaram para que, durante a noite, um espírito superior indicasse quem receberia o alimento.
     Na manhã seguinte, os três se levantaram junto com o nascer do sol.
     - Eis o meu sonho - disse o primeiro viajante. - Eu fui carregado para lugares onde antes nunca estive, e experimentei a paz e a harmonia que tenho buscado em vão nesta minha vida terrena. No meio de tal paraíso, um sábio de longas barbas me dizia: "você é meu preferido, jamais buscou o prazer, sempre renunciou a tudo. Entretanto, para provar minha aliança contigo, gostaria que experimentasse um pedaço de pão."
     - Muito estranho - disse o segundo viajante. - Porque, em meu sonho, e vi o meu passado de santidade, e o meu futuro de mestre. Enquanto olhava o que está por vir, encontrei um homem de grande sabedoria, dizendo: "você precisa comer mais que seus dois amigos, porque terá que liderar muita gente, e necessitará de força e energia."
     Disse então o terceiro viajante:
     - Em meu sonho eu não vi nada, não visitei lugar nenhum, não encontrei nenhum sábio. Entretanto, a determinada hora da noite, despertei de repente. E comi o pão.
     Os outros dois ficaram furiosos:
     - E porque não nos chamou antes de tomar esta decisão tão pessoal?
     - Como poderia faze-lo? Vocês estavam tão longe, encontrando mestres e tendo visões sagradas! Ontem discutimos a importância de se colocar em prática aquilo que aprendemos no plano espiritual. No meu caso, Deus agiu rápido, e me fez acordar morrendo de fome!

2.- O que dirão de você


3.- Os erros do passado

Durante uma viagem, Buda encontrou um yogue apoiado numa perna só.
     "Queimo os erros do meu passado", explicou o homem.
     "E quantos erros já queimou?
     "Não tenho a menor idéia".
     "E quanto falta queimar? "insistiu Buda.
     "Não tenho a menor idéia."
     "Então é hora de acabar com isto. Pare de pedir perdão a Deus, e e vá pedir perdão a quem voce feriu."


 A HISTÓRIA DO ERNANI

            Certa vez, trabalhei em uma pequena empresa de Engenharia. 
            Foi lá que fiquei conhecendo um rapaz chamado Mauro. Ele era grandalhão e gostava de fazer brincadeiras com os outros, sempre pregando pequenas peças. 
            Havia também o Ernani, que era um pouco mais velho que o resto do grupo.
            Sempre quieto, inofensivo, à parte, Ernani costumava comer o seu lanche sozinho, num canto da sala.
            Ele não participava das brincadeiras que fazíamos após o almoço, sendo que, ao terminar a refeição, sempre sentava sozinho debaixo de uma árvore mais distante.
            Devido a esse seu comportamento, Ernani era o alvo natural das brincadeiras e piadas do grupo. Ora ele encontrava um sapo na marmita, ora um rato morto em seu chapéu. E o que achávamos mais incrível é que ele sempre aceitava aquilo sem ficar bravo. 
            Em um feriado prolongado, Mauro resolveu ir pescar no Pantanal. Antes, nos prometeu que, se conseguisse sucesso, iria dar um pouco do resultado da pesca para cada um de nós. 
            No seu retorno, ficamos todos muito animados quando vimos que ele havia pescado alguns dourados enormes.
            Mauro, entretanto, levou-nos para um canto e nos disse que tinha preparado uma boa peça para aplicar no Ernani. 
            Mauro dividira os dourados, fazendo pacotes com uma boa porção para cada um de nós.
            Mas, a 'peça' programada era que ele havia separado os restos dos peixes num pacote maior, à parte.
-          Vai ser muito engraçado quando o Ernani desembrulhar esse 'presente' e encontrar espinhas, peles e vísceras! - disse-nos Mauro, que já estava se divertindo com aquilo.
            Mauro então distribuiu os pacotes no horário do almoço.  
            Cada um de nós, que ia abrindo o seu pacote contendo uma bela porção de peixe, então dizia:
- Obrigado!

            Mas o maior pacote de todos, ele deixou por último.
            Era para o Ernani.
            Todos nós já estávamos quase explodindo de vontade de rir, sendo que Mauro exibia um ar especial, de grande satisfação. Como sempre, Ernani estava sentado sozinho, no lado mais afastado da grande mesa.
            Mauro então levou o pacote para perto dele, e todos ficamos na expectativa do que estava para acontecer. 

Ernani não era o tipo de muitas palavras. Ele falava tão pouco que, muitas vezes, nem se percebia que ele estava por perto. Em três anos, ele provavelmente não tinha dito nem cem palavras ao todo.
            Por isso, o que aconteceu a seguir nos pegou de surpresa. 
            Ele pegou o pacote firmemente nas mãos e o levantou devagar, com um grande sorriso no rosto.
            Foi então que notamos que seus olhos estavam brilhando.
            Por alguns momentos, o seu pomo de Adão se moveu para cima e para baixo, até ele conseguir controlar sua emoção.
            - Eu sabia que você não ia se esquecer de mim - disse com a voz embargada. Eu sabia, você é grandalhão e gosta de fazer brincadeiras, mas sempre soube que você tem um bom coração.
            Ele engoliu em seco novamente, e continuou falando, dessa vez para todos nós.
-         Eu sei que não tenho sido muito participativo com vocês, mas nunca foi por má intenção.
-         Sabem... Eu tenho cinco filhos em casa, e uma esposa inválida, que há quatro anos está presa na cama. E estou ciente de que ela nunca mais vai melhorar.
-         Às vezes, quando ela passa mal, eu tenho que ficar a noite inteira acordado, cuidando dela. E a maior parte do meu salário tem sido para os seus médicos e os remédios.
            As crianças fazem o que podem para ajudar, mas tem sido difícil colocar comida para todos na mesa.
            Vocês talvez achem esquisito que eu vá comer o meu almoço sozinho, num canto... Bem, é que eu fico meio envergonhado, porque na maioria das vezes eu não tenho nada para pôr no meu sanduíche.
            Ou, como hoje, eu tinha somente uma batata na minha marmita.
            Mas eu quero que saibam que essa porção de peixe representa, realmente, muito para mim. Provavelmente muito mais do que para qualquer um de vocês, porque hoje à noite os meus filhos ...
            Ele limpou as lágrimas dos olhos com as costas das mãos.
- Hoje à noite os meus filhos vão ter, realmente, depois de alguns anos... e ele começou a abrir o pacote...
            Nós tínhamos estado prestando tanta atenção no Ernani, enquanto ele falava, que nem havíamos notado a reação do Mauro.
            Mas agora, todos percebemos a sua aflição quando ele saltou e tentou pegar o pacote das mãos do Ernani. Mas era tarde demais.
            Ernani já tinha aberto e pacote e estava, agora, examinando cada pedaço de espinha, cada porção de pele e de vísceras, levantando cada rabo de peixe. 
            Era para ter sido tão engraçado, mas ninguém riu. Todos nós ficamos olhando para baixo. E a pior parte foi quando Ernani, tentando sorrir, falou a mesma coisa que todos nós havíamos dito anteriormente: 
            - Obrigado! 
            Em silêncio, um a um, cada um dos colegas pegou o seu pacote e o colocou na frente do Ernani, porque depois de muitos anos nós havíamos, de repente, entendido quem era realmente o Ernani. 
            Uma semana depois, a esposa de Ernani faleceu.
            Cada um de nós, daquele grupo, passou então a ajudar as cinco crianças.
            Graças ao grande espírito de luta que elas possuíam, todas progrediram muito:
            Carlinhos, o mais novo, tornou-se um importante médico.
            Fernanda, Paula e Luisa montaram o seu próprio e bem-sucedido negócio: elas produzem e vendem doces e salgados para padarias e supermercados.
            O mais velho, Ernani Júnior, formou-se em Engenharia; sendo que, hoje, é o Diretor Geral da mesma empresa em que eu, Ernani e os nossos colegas trabalhávamos.
            Mauro, hoje aposentado, continua fazendo brincadeiras; entretanto, são de um tipo muito diferente: ele organizou nove grupos de voluntários que distribuem brinquedos para crianças hospitalizadas e as entretêm com jogos, estórias e outros divertimentos.
            Às vezes, convivemos por muitos anos com uma pessoa, para só então percebermos que mal  a conhecemos. 
            Nunca lhe demos a devida atenção; não demonstramos qualquer interesse pelas coisas dela; ignoramos suas ansiedades ou seus problemas. 
            Que possamos manter sempre vivo, em nossas mentes, o ensinamento de Jesus Cristo:       Como Eu vos amei, amai-vos também uns aos outros. (João 13,34)
Repasso a história de Ernani, para que vejamos se não somos um pouco como Mauro e seus companheiros.
            Se formos... por favor, há tempo de mudar sem dor.
            Eu não sei se a história é real.
            Eu sei que serve de Lição para a vida.

            AMEMO-NOS UNS AOS OUTROS!

OBS. Desconheço a autoria

Postado por Marisa Alverga

Histórias Urbanas
O Sonho do Rei

Há mais de dois mil anos que aconteceu esta história ou outra parecida com a que eu vou contar. Mais de dois mil de anos depois, vai-se lá saber.
O rei Nabucodonosor, imperador dos caldeus, senhor da Babilônia, conquistador do Líbano, dominador da Fenícia, protetor da Judéia, cobria com o seu manto e mando meio mundo. Ou quase...
Os muitos escravos, que trouxera das suas expedições guerreiras, eram a sua ostentação, quando o cortejo real percorria as ruas e alamedas da Babilónia, ladeadas de lanças, ramos de palmeiras e aclamações. Escolhera-os um por um, de entre os mais jovens, nobres e bem apanhados. Vestidos com túnicas debruadas a ouro, pareciam príncipes. Mas eram escravos.
Um deles, proveniente da Judeia, chamava-se Daniel. Os companheiros devotavam-lhe uma grande amizade e respeitavam-no como o melhor de todos, porque ele era o mais inteligente e o mais generoso.
Aconteceu que, numa manhã tempestuosa, o rei acordou em cólera. Tinha tido um sonho esquisito e apavorante, que se desvanecera, à luz do dia. Do que se tratava? Donde viera? Como findara? Do que se tratava? Donde viera? Como findara? O rei tentava a todo o custo recordar-se, mas sem sucesso.
Estava convencido que o sonho lhe trazia um aviso urgente. Mas qual? Por mais esforços que fizesse, o rei não conseguia lembrar-se.
Mandou chamar os sábios do reino e exigiu-lhes:
- Digam-me que sonho sonhei, na noite passada, e o que significa.
Por mais sábio que se seja, ninguém pode adivinhar os sonhos alheios. Foi isto, tal e qual, o que disseram os sábios.
Enfureceu-se o rei:
- Mando cortar-vos a cabeça se até amanhã, ao raiar do sol, não descobrirem a charada do meu sonho.
Os sábios saíram dos aposentos do rei, de cabeça baixa, como se já a oferecessem ao machado do carrasco.
Durante o dia, não se falou de outra coisa no palácio.
Daniel, condoído com os velhos sábios, pediu ao Deus da sua crença que lhe iluminasse o sono com um sonho igual ao do rei.
Na madrugada seguinte, Daniel, mal acordou, pediu para ser recebido por Nabucodonosor. Trazia-lhe o sonho para contar.
- Vós vistes no vosso sonho uma estátua colossal - começou Daniel.
- Sim, agora me recordo que era uma estátua de um tamanho nunca visto - reconheceu o rei, cheio de atenção.
Daniel prosseguiu:
- O colosso tinha a cabeça moldada em ouro maciço, os braços e o peito eram de prata, o ventre e as coxas de bronze, as pernas de ferro e os pés...
- ... de barro! - exclamou o rei, dando uma pancada na testa. - Agora me lembro que atiraram uma pedra à estátua.
A pedra caiu nos pés de barro, que se partiram em cacos. A estátua vacilou e desmoronou-se no chão. E depois?
Daniel concluiu o sonho:
- Depois, o ouro, a prata, o ferro e o bronze despedaçaram-se e desfizeram-se em pó, que o vento varreu.
Nada valeu à gigantesca estátua, porque tinha pés de barro...
- O que é que me quis anunciar o sonho? - indagou, com voz trémula, Nabucodonosor.
- Grande e nobre rei, senhor de um império colossal, o sonho anunciou-te o que tu já pressentiste. Todo o poder tem pés de barro. Toda a grandeza é perecível. Toda a majestade há-de transformar-se em pó.
Nabucodonosor despediu com um gesto o escravo Daniel e escondeu a cabeça debaixo do manto, apavorado. Pela primeira vez na vida teve medo de ser rei.

(Desconheço a autoria)                  

  Marisa Alverga


A MENTIRA

            Não se dizia florista, mas vendedora de flores, vivendo entre camélias e orquídeas e sentia-se feliz quando um enamorado encomendava flores para sua amada. “Carinho de mãe” dava o toque final aos botões de rosa que oferecia aos transeuntes.
            Nada tinha de seu. Uma mãe viúva, dois irmãos e o necessário para viver. Era tão pobre que sonhava o sonho dos outros e foi sonhando com o impossível que se inscreveu no concurso que vira numa revista esquecida no seu quiosque de flores.
            Quem sabe seria selecionada!
            Colocou o cupom na caixa de correio mais próxima e esqueceu a revista e o concurso. Sentia-se mal por tê-lo recortado de uma revista que não lhe pertencia, mas o dono não viera reclamá-la e antes fosse para ela do que se perder em meio às suas flores.
            Não pensou mais no assunto e tocou a vida para frente. De dia as suas flores, à noite o Colégio. O conhecimento, o saber, era a herança que a mãe pretendia deixar-lhe. Boa aluna, era elogiada pelos professores e respeitada pelos colegas. Até fazia parte do Grêmio Literário. Era a Secretária perfeita.
            Um mês se passara e Maíra nem se lembrava mais  do concurso, mas o destino caprichoso lhe bateu à porta, vestido de carteiro.
            Fora contemplada!
            À euforia do momento, a angústia.
            Onde buscar dinheiro para um vestido? Impossível hospedar-se num Hotel de luxo, com os trapos que possuía!
            Ah, sim! O prêmio. Respondera a uma pergunta simples e concorrera com o país inteiro. Milhares de cartas foram recebidas pelo Programa. Todo mundo gostaria de um Cruzeiro com destino à Europa, à Inglaterra, para ser mais exata, e fora ela uma das escolhidas. Não podia impedir as lágrimas. Impossível aceitar o prêmio.
            A mãe juntava uns trocados e antes do Ano Novo, cada filho recebia uma roupa que deveria durar o ano inteiro.
            Vendo a tristeza da filha e sabedora do que se passava, reuniu os filhos e propôs que abdicassem dos seus direitos de receberem a roupa nova para que a irmã pudesse seguir o seu destino.
            No Colégio Maíra contara a uma amiga o seu dilema e recebeu a solidariedade que, inconscientemente, buscava. Letícia se mobilizou e em pouco as colegas lhe emprestavam vestidos, sapatos, bolsas e até uma mala ultra moderna lhe foi trazida.
            Letícia conseguiu que o pai levasse Maíra ao aeroporto e na despedida entregou-lhe a sua caixa de jóias. Resistiu um pouco, mas acabou aceitando, mais para agradar à amiga do que a si mesma.
            Rio de Janeiro! Dali partiria o “Queen Elizabeth” com destino a Londres.
            No Galeão, a equipe do Concurso estava para recepcioná-la, encaminhando-a ao Copacabana Palace, o Hotel que já hospedara grandes astros de Hollyood e promovera eventos internacionais.
            No trajeto do aeroporto ao Hotel, Maíra se embevecera com o Cristo Redentor que, de braços abertos,  abençoava os visitantes e jurou a si mesma que haveria de ter um momento para subir até o Cristo. Era uma promessa.
            Suíte luxuosa, tudo de escol. Sentiu-se uma princesa dos contos de fada.
            Dormiu um pouco, cansada que estava da viagem. Afinal, saíra do interior da Paraíba para a Cidade Maravilhosa e viajar de avião cansava, sim.
            Acordou com o sol se pondo e apressou-se a se aprontar. Queria estar bonita na sua primeira aparição.
            Ficou assistindo a novela das seis, na Globo, sem atinar onde ficava o Restaurante. Estava com fome. A comida servida na aeronave não lhe agradou. Coisa de matuto, pensou.
            Alguns minutos depois entrou um rapaz e sentou-se, também, em frente à TV. Lindo feito um “Adonis”. Olhou-a de esguelha e sorriu o sorriso mais lindo que já vira.
            Arriscou uma pergunta:
            - Sabe onde fica o Restaurante?
            - Não, não sei, respondeu o “Adonis”. Vamos descobrir?
            E lá se foram juntos para o Restaurante.
            Ele se chamava Rodolfo e pertencia a uma das famílias ilustres de São Paulo, os Souto de Andrade e só por brincadeira participara do concurso.
            Ficaram inseparáveis. No navio ocuparam camarotes vizinhos e se deliciaram durante a viagem.
            Maíra lhe disse que o pai era um rico fazendeiro do interior da Paraíba e querendo contar quantas cabeças de gado possuía, não se conseguiria,  pois eram tantas que não dava para contar.
            Chegaram, enfim, ao seu destino: Londres! Cidade da Rainha Elizabeth, do Príncipe Charles! E Maíra pensou em Diana. E se o destino dela fosse o mesmo? Se Rodolfo se apaixonasse e ela se tornasse uma dama da alta sociedade, rica e famosa?
            Desviou o pensamento, pois sabia que seria impossível. Depois da viagem iria cada um para o seu lado: ele para o mundo dos ricos e ela para as suas flores e nunca mais se encontrariam.
            Hora de conhecer a terra dos Beatles, começando pelo Parlamento, o Big Bem, e o Palácio de Buckingham. Iria aproveitar ao máximo tudo de belo que a Inglaterra tem.
            Incrustado numa das torres do Parlamento, no Palácio de Westminster, estava o Big Ben, o relógio mais famoso do mundo, construído por Benjamin Hall, em 1859 e aprendeu que além da exatidão com que marca as horas, o Big Ben pesa treze toneladas e meia.
            No dia seguinte a aventura prosseguiu pelas 80 salas do Palácio de Buckingham, aberta ao público desde 1993, apesar da sua construção datar de 1705 e dali foram conhecer a Torre, construída pelos normandos às margens do Tamisa.
            No último dia deram uma volta pelos Museus e conheceram, também, a London Bridge e os pubs londrinos, sem esquecer o chá das cinco.
            A volta ao Rio transcorreu sem incidentes, a não ser a tristeza que se estampava no rosto de Maíra. Trancou-se no camarote e se recusou a falar com Rodolfo. Eles que haviam sido inseparáveis durante todo o passeio, estavam agora separados, cada um para o seu lado e por mais que Rodolfo insistisse não conseguiu que Maíra participasse do baile que o Comandante do navio ofereceu ao grupo.
            No Copacabana Palace, o comportamento de Maíra não se modificou. Nem quis jantar. Trancou-se na sua suíte, sem falar com ninguém, muito menos com Rodolfo
            Passou a noite em claro. Não conseguia conciliar o sono. Só de pensar em se separar de Rodolfo, sentia uma dor na alma. E teria que ser para sempre. E agora, que ele só falava em conhecer sua família? Isso ela não poderia deixar acontecer. Por que mentira? Se ele gostasse dela, não importava fosse rica ou pobre. Diana não conseguira um príncipe, embora não tivesse sido feliz com  ele? É, devia ter pensado nisso antes de inventar um pai rico!
            Chegou a hora da partida e ela tentou se esconder para não falar com Rodolfo. Notou que ele estava diferente, também tentando evitá-la. Por que? Não saberia responder. Onde estava o grande amor que dizia sentir por ela? Não importa, pensou. Era melhor assim. Afinal ele era rico e ela não passava de uma pobretona.
            Foi saindo de mansinho, mas de repente voltou.
            - Rodolfo, preciso falar  com você. Não me importa se nunca mais me olhar, mas não posso partir sem contar-lhe a verdade. Sabe aquela história de um pai fazendeiro que lhe contei? Mentira, nem pai eu tenho. Tudo o quanto possuo é uma mãe viúva e dois irmãos. Adeus.
            - Maíra, quer saber de uma coisa? Sabe aquela história de uma família ilustre de São Paulo?  Sou, realmente dos Souto Andrade, mas da parte pobre. Meus parentes ricos nem sabem que eu existo. Sou um comerciário, estou de férias, ganhei este concurso e aqui estou, tentando impressioná-la, com a minha “riqueza”.
            Ninguém entendeu nada vendo os dois se abraçarem unindo para sempre as suas mentiras.
Marisa Alverga                       
OBS. Do livro em preparo "NO TERRAÇO DA NOITE"

                               A GOTA



Nas noites de lua, contemplo o Universo. Divirto-me com os namorados, que, sequer, desconfiam que os observo.

            Maria vem todas as noites, senta-se debaixo de um coqueiro e fecha os olhos. Penetro nos seus sonhos e com ela rio e choro.

            Ri das coisas boas que a vida já lhe ofertou e Renato é uma lembrança que lhe enche a alma  de esperanças. Retrocedo no tempo e vejo-a encontrando-se com o seu amado. A princípio eram apenas amigos, confidentes, companheiros. Ele lhe contava dos seus amores e ela falava dos seus sentimentos por Luís. Quantas vezes Renato enxugou-lhe as lágrimas com palavras de carinho!

            Nos sonhos de Maria havia uma casinha no alto de uma colina, cercada por um jardim de crisântemos e margaridas. No quintal, um pomar: laranjeiras, abacateiro, mangueira, bananeira e uma horta com coentro, alface, tomate, pimentão.

            Por mais que quisesse não conseguia ver o namorado. Era sempre o rosto de Renato que se infiltrava no seu cérebro, durante o sonho.

            Deixei Maria envolta nos seus pensamentos e fiquei observando a vida nas águas do mar. Surfistas dançavam embalados pelas ondas travessas. Barqueiros e pescadores atravessavam a praia  movidos pela ambição de uma farta pescaria.

            Fiquei pensando: Queria ser rainha, com uma coroa de ouro e um cetro cravejado de brilhantes e muito, muito dinheiro. Não, não queria reinar, nem ser importante. Com dinheiro, aqueles menininhos que ficam o dia inteiro na praia, acerando os banhistas por um pedaço de pão, roubando os incautos para sobreviver, dormindo ao relento, sujos de sargaços e algas, traficando e/ou viciados em drogas, mudariam de vida. O meu dinheiro faria isso acontecer. Começaria com uma escola profissionalizante. Aprendendo a ler, adquiriam também uma profissão e caminhariam pela vida com a fronte erguida, tornando-se homens de bem, dignos, respeitados.

            As menininhas de caras sujas não mais se prostituiriam, porque lhes daria um lar. Teriam belas roupas, sapatos de marca e maquilagem para se embelezarem.

            E os velhinhos? Ah, os velhinhos iriam para uma Casa de Repouso. Não um desses asilos em que se cobram  altos salários para matá-los aos poucos. Nada lhes faltaria. Teriam até Teatro para se divertirem! Sem falar em jogos, cinema, rádio. Nutricionistas, Médicos, Dentistas dispensariam aos idosos toda a atenção que a família não lhes deu, que os filhos lhes negaram. Eles nos deram exemplos de cidadania e merecem o nosso respeito. Em  troca  nos contariam histórias, falariam de um país sem corrupção, onde havia empregos para todos, violência só existiria no dicionário e a solidariedade seria uma constante na vida do brasileiro. Um país onde  o céu seria sempre azul, a fome não rondaria os lares, não haveria crianças desnutridas e ninguém morreria de inanição. 

            Ai, ai! Sonhar é privilégio de todos! Até eu posso sonhar!

            E Renato? Onde andará Renato?

            Volto a pensar em Maria, a doce Maria, de olhos meigos e sonhadores! E o pensamento, célere, encontra Renato fazendo planos e Maria é a principal personagem desses devaneios. Vislumbro a casinha da colina, com seu jardim, seu pomar, sua horta e ... crianças brincando.

            Opa!  Estou indo longe demais?  Não, claro  que  não.  Esse é o destino dos que se amam e Renato e Maria se completam. Podem sonhar juntos e juntos construirão o seu reinado. Eles sabem que o mundo seria melhor se todos trabalhassem pelo bem comum.

            Que Maria e Renato fiquem entregues ao seu próprio destino é o que resolvo  e volto ao meu “habitat natural” viajando pelos mares e oceanos, em busca de aventuras e, de cambalhota em cambalhota, deslizando, bailando por entre as ondas, chego à Cidade Luz e com os olhos da imaginação visito a Torre Eiffel que Gustave Eiffel   construiu em 1887 e  que é um dos  símbolos mais importantes de Paris. Foi inaugurada pelo Príncipe de Gales, que depois seria o  Rei Eduardo VII do Reino Unido.

            Imagine que a idéia era demoli-la depois da Exibição Universal em 1889. Felizmente a França não permitira que se praticasse tamanha barbaridade. Gustave Eiffel nasceu em 1832 e faleceu em 27 de dezembro de 1923.

            E o Arco do Triunfo? Ah, belo monumento encomendado por Napoleão, após a vitória de Austerlitz, ergue-se majestoso na Praça Charles de Gaulle!

            Paris é linda! Basta lembrar a Catedral de Notre Dame, cuja construção foi iniciada em 1163 e concluída em 1250 e serviu de enredo para a obra prima de Alexandre Dumas, o “Corcunda de Notre Dame”, com Esmeralda e Quasímodo.

            E sonhando lá me fui para Madri, a Espanha das Touradas, cenário ideal para “Sangue e Areia”, com Tyrone Power enfrentando os mais belos espécimes na Praça del Toros.

            Não resisti ao impulso e levei Renato e Maria comigo. Vi-os casando-se em Madri. Sonhar não custa nada e Maria estava linda no seu vestido de noiva, seu véu translúcido e sua grinalda de flores virginais.

            Renato inovava com um smoking branco, gravata borboleta e as faces iluminadas por um sorriso. Peguei-os pela mão e levei-os para conhecer a cidade.

Na verdade não posso andar pelas ruas sem me destruir, mas, sonho é sonho e após o casamento na Catedral de la  Almudena, construída no século 20, conduzi-os à Real Academia de Belas Artes, onde estão entronizados El Greco, Velásquez, Rubens, Dali, Picasso, Goya, rumando em seguida para o Museu do Prado, que funciona num edifício construído entre 1785 e 1819. Obras valiosíssimas ali estão, principalmente da Itália e da França, mas há também da Holanda e Alemanha.

            Descobri, de repente, que não saíra daquele mar onde Maria sonhava com Renato e surpreendi-me com o beijo que os unia e as juras de amor que trocavam. De certo não poderia assistir ao casamento. Se sair do mar, morrerei, pois sou, apenas, uma gota d’agua no oceano da vida,  mas poderei imaginá-los na casinha da colina, cercados pelos filhos que virão. Afinal, nada é mais belo do que o amor.


                                         Marisa Alverga  
OBS. Do livro em preparo "NO TERRAÇO DA NOITE"




 x.x.x.x.x.x



O PÃO DE CRISTO


LEIA EM SILÊNCIO E MEDITE. É MUITO CURTO E VERDADEIRO.

O que se segue é um relato verídico sobre um homem chamado Vitor.

Depois de meses sem encontrar trabalho, viu-se obrigado a recorrer à
mendicância para sobreviver, coisa que o entristecia e envergonhava
muito.
Numa tarde fria de inverno, encontrava-se nas imediações de um clube
social, quando viu chegar um casal.
Víctor lhe pediu algumas moedas para poder comprar algo para comer.
- Sinto muito, amigo, mas não tenho trocado - disse ele.
Sua esposa, ouvindo a conversa perguntou:
- Que queria o pobre homem?
- Dinheiro para comer. Disse que tinha fome - respondeu o marido,
- Lorenzo, não podemos entrar e comer uma comida farta que não
necessitamos e deixar um homem faminto aqui fora!
- Hoje em dia há um mendigo em cada esquina! Aposto que quer dinheiro
para beber!
- Tenho uns trocados comigo. Vou dar-lhe alguma coisa!
Mesmo de costas para eles, Vitor ouviu tudo que disseram.
Envergonhado, quería afastar-se correndo dalí, mas neste momento ouviu
a amável voz da mulher que dizia:
- Aquí tens algumas moedas. Consiga algo de comer, ainda que a
situação esteja difícil, não perca a esperança. Em algum lugar existe
um trabalho para você. Espero que encontre.
- Obrigado, senhora. Acabo de sentir-me melhor e capaz de começar de
novo. A senhora me ajudou a recobrar o ânimo! Jamais esquecerei sua
gentileza.
- Você estará comendo o Pão de Cristo! Partilhe-o - disse ela com um
largo sorriso dirigido mais a um homem que a um mendigo.
Víctor sentiu como se uma descarga elétrica lhe percorresse o corpo.
Encontrou um lugar barato para se alimentar um pouco. Gastou a metade
do que havia ganho e resolveu guardar o que sobrara para o outro dia,
comeria 'O Pão de Cristo' dois dias.
Uma vez mais aquela descarga elétrica corria por seu interior. O PÃO DE CRISTO!
- Um momento!, - pensou, não posso guardar o Pão de Cristo somente
para mim. Parecia-lhe escutar o eco de um velho hino que tinha
aprendido na escola dominical. Neste momento, passou a seu lado um
velhinho.
- Quem sabe, este pobre homem tenha fome - pensou - tenho que
partilhar o Pão de Cristo.
- Ouça - exclamou Víctor- gostaría de entrar e comer uma boa comida?
O velho se voltou e encarou-o sem acreditar.
- Você fala serio, amigo? O homem não acreditava em tamanha sorte, até
que estivesse sentado em uma mesa coberta, com uma toalha e com um
belo prato de comida quente na frente.
Durante a ceia, Víctor notou que o homem envolvia um pedaço de pão em
sua sacola de papel.
- Está guardando un pouco para amanhã? Perguntou.
- Não, não. É que tem um menininho que conheço onde costumo freqüentar
que tem passado mal ultimamente e estava chorando quando o deixei.
Tinha muita fome. Vou levar-lhe este pão.
- O Pão de Cristo! Recordou novamente as palavras da mulher e teve a
estranha sensação de que havia um terceiro convidado sentado naquela
mesa. Ao longe os sinos da igreja pareciam entoar o velho hino que
havia soado antes em sua cabeça.
Os dois homens levaram o pão ao menino faminto que começou a engolí-lo
com alegria.
De repente, se deteve e chamou um cachorrinho. Um cachorrinho pequeno
e assustado.
- Tome cachorrinho. Te dou a metade - disse o menino. O Pão de Cristo
alcançará tambem você.
O pequeno tinha mudado de semblante. Pôs-se de pé e começou a vender o
jornal com alegria.
- Até logo!, disse Vitor ao velho. Em algum lugar haverá um emprego.
Não desespere!
- Sabe? - sua voz se tornou em um susurro - Isto que comemos é o Pão
de Cristo. Uma senhora me disse quando me deu aquelas moedas para
comprá-lo. O futuro nos presenteará com algo muito bom!
Ao se afastar, Vitor reparou o cachorrinho que lhe farejava a perna.
Se agachou para acariciá-lo e descobriu que tinha uma coleira onde
estava gravado o nome e endereço de seu dono.
Víctor caminhou um bom pedaço até a casa do dono do cachorro e bateu na porta.
Ao sair e ver que havia sido encontrado seu cachorro, o homem ficou
contentíssimo, e logo sua expressão se tornou séria. Estava por
repreender Vitor, que certamente lhe havia roubado o cachorro, mas não
o fez pois Victor mostrava no rosto um ar e dignidade que o deteve.
Disse então:
- No jornal de ontem, oferecí uma recompensa pelo resgate. Tome!!
Victor olhou o dinheiro meio espantado e disse:
- Não posso aceitar. Somente queria fazer um bem ao cachorrinho.
 Pegue-o! Para mim, o que você fez vale muito mais que isto! Você
precisa de um emprego? Venha ao meu escritório amanhã. Faz-me muita
falta uma pessoa íntegra como você.
Ao voltar pela avenida aquele velho hino que recordava sua infância,
voltou a soar em sua alma. Chamava-se 'PARTE O PÃO DA VIDA',

'NÃO  CANSES DE DÁ-LO , MAS NÃO DÊ AS SOBRAS,

DÊ COM O CORAÇÃO, MESMO QUE DOA'.



QUE O SENHOR NOS CONCEDA A GRAÇA DE TOMAR NOSSA CRUZ E SEGUÍ-LO, MESMO QUE DOA!

Bem, agora se desejar, reparta com os amigos.

Ajude-os a repartir e refletir. Eu já o fiz.

ESPERO QUE SIRVA para sua VIDA...

QUE DEUS NOS BENDIGA SEMPRE...!!!

Senhor Jesus:'Te amo muito, te necessito para sempre, estás no mais
profundo de meu coração, bendize com teu carinho, a minha familia,
minha casa, meu emprego, minhas finanças, meus sonhos, meus projetos e
meus amigos'.

OBS. Enviado por João Aurélio - Guarabira-PB, a quem agradecemos.

                                 Marisa Alverga




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ABRAÇANDO A IMPERFEIÇÃO

Quando eu ainda era um menino, ocasionalmente, minha mãe gostava de fazer um lanche, tipo café da manhã, na hora do jantar. E eu me lembro especialmente de uma noite, quando ela fez um lanche desses, depois de um dia de trabalho, muito duro.
Naquela noite longínqua, minha mãe pôs um prato de ovos, lingüiça e torradas bastante queimadas, defronte ao meu pai.
Eu me lembro de ter esperado um pouco, para ver se alguém notava o fato. Tudo o que meu pai fez, foi pegar a sua torrada, sorrir para minha mãe e me perguntar como tinha sido o meu dia, na escola.
Eu não me lembro do que respondi, mas me lembro de ter olhado para ele lambuzando a torrada com manteiga e geléia e engolindo cada bocado.

Quando eu deixei a mesa naquela noite, ouvi minha mãe se desculpando por haver queimado a torrada. E eu nunca esquecerei o que ele disse:

 “- Baby, eu adoro torrada queimada..."
Mais tarde, naquela noite, quando fui dar um beijo de boa noite em meu pai, eu lhe perguntei se ele tinha realmente gostado da torrada queimada.. Ele me envolveu em seus braços e me disse:
“- Companheiro, sua mãe teve hoje, um dia de trabalho muito pesado e estava realmente cansada... Além disso, uma torrada queimada não faz mal a ninguém.

A vida é cheia de imperfeições e as pessoas não são perfeitas. E eu também não sou um melhor empregado, ou cozinheiro!"
O que tenho aprendido através dos anos é que saber aceitar as falhas alheias, escolhendo relevar as diferenças entre uns e outros, é uma das chaves mais importantes para criar relacionamentos saudáveis e duradouros.

Tenha um excelente dia!

 (Desconheço a autoria)





                                                                                              EÇA DE QUEIROZ


                  Ora entre Enganin e Cesareia, num casebre desgarrado, sumido na prega de um cerro, vivia a esse tempo uma viúva, mais desgraçada mulher que todas as mulheres de Israel. O seu filhinho único, todo aleijado, passara do magro peito a que ele o criara para os farrapos da enxerga apodrecida, onde jazera, sete anos passados, mirrando e gemendo. Também a ela a doença a engelhara dentro dos trapos nunca mudados, mais escura e torcida que uma cepa arrancada. E, sobre ambos, espessamente a miséria cresceu como bolor sobre cacos perdidos num ermo. Até na lâmpada de barro vermelho secara há muito o azeite. Dentro da arca pintada não restava um grão ou côdea. No Estio, sem pasto, a cabra morrera. Depois, no quinteiro, secara a figueira. Tão longe do povoado, nunca esmola de pão ou mel entrava o portal. E só ervas apanhadas nas fendas das rochas, cozidas sem sal, nutriam aquelas criaturas de Deus na Terra Escolhida, onde até às aves maléficas sobrava o sustento!
Um dia um mendigo entrou no casebre, repartiu do seu farnel com a mãe amargurada, e um momento sentado na pedra da lareira, coçando as feridas das pernas, contou dessa grande esperança dos tristes, esse rabi que aparecera na Galileia, e de um pão no mesmo cesto fazia sete, e amava todas as criancinhas, e enxugava todos os prantos, e prometia aos pobres um grande e luminoso reino, de abundância maior que a corte de Salomão. A mulher escutava, com os olhos famintos. E esse doce rabi, esperança dos tristes, onde se encontrava? O mendigo suspirou. Ah esse doce rabi! quantos o desejavam, que de desesperançavam! A sua fama andava por sobre toda a Judeia, como o sol que até por qualquer velho muro se estende e se goza; mas para enxergar a claridade do seu rosto, só aqueles ditosos que o seu desejo escolhia. Obed, tão rico, mandara os servos por toda a Galileia para que procurassem Jesus, o chamassem com promessas a Enganim; Sétimo, tão soberano, destacara os seus soldados até à costa do mar, para que buscassem Jesus, o conduzissem, por seu mando, a Cesareia. Errando, esmolando por tantas estradas, ele topara os servos de Obed, depois os legionários de Sétimo. E todos voltavam, como derrotados, com as sandálias rotas, sem ter descoberto em que mata ou cidade, em que toca ou palácio, se escondia Jesus.
A tarde caía. O mendigo apanhou o seu bordão, desceu pelo duro trilho, entre a urze e a rocha. A mãe retomou o seu canto, a mãe mais vergada, mais abandonada. E então o filhinho, num murmúrio mais débil que o roçar duma asa, pediu à mãe que lhe trouxesse esse rabi que amava as criancinhas, ainda as mais pobres, sarava os males, ainda os mais antigos. A mãe apertou a cabeça engelhada:
- Oh filho! e como queres que te deixe, e me meta aos caminhos, à procura do rabi da Galileia? Obed é rico e tem servos, e debalde buscaram Jesus, por areais e colinas, desde Chorazim até ao país de Moab. Sétimo é forte e tem soldados, e debalde correram por Jesus, desde Hébron até ao mar! Como queres que te deixe? Jesus anda por muito longe e nossa dor mora connosco, dentro destas paredes e dentro delas nos prende. E mesmo que o encontrasse, como convenceria eu o rabi tão desejado, por quem ricos e fortes suspiram, a que descesse através das cidades até este ermo, para sarar um entrevadinho tão pobre, sobre enxerga tão rota?
A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:
- Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar! E a mãe, em soluços:
- Oh meu filho como te posso deixar! Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens. Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce rabi. Oh filho! Talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes.
De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:
-Mãe, eu queria ver Jesus...
E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:
- Aqui estou.


                                                          x.x.x.x.x.x.x.x.x




      "Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... Os urubus, aves por natureza becadas, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo contra a natureza eles haveriam de se tornar grandes cantores. E para isto fundaram escolas e importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão para mandar nos outros. Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu titular, a quem todos chamam de Vossa Excelência. Tudo ia muito bem até que a doce tranqüilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. A floresta foi invadida por bandos de pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas para os sabiás... Os velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito.

      - Onde estão os documentos dos seus concursos? E as pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvessem. Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. E nunca apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente...

      - Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem.
E os urubus, em uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...   MORAL: “Em terra de urubus diplomados não se houve canto de sabiá."                                                                                     (Rubem Alves)






AS TRÊS ÁRVORES

Havia, no alto da montanha, três pequenas árvores que sonhava com o que seriam depois de grandes...

A primeira, olhando as estrelas, disse:
- Eu quero ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros. Para tal, até me disponho a ser cortada.

A segunda olhou para o riacho e suspirou:
- Eu quero ser um grande navio para transportar reis e rainhas.

A terceira árvore olhou o vale e disse:
- Eu quero ficar aqui no alto da montanha e crescer tanto que,
as pessoas ao olharem para mim, levantem seus olhos e pensem em Deus.

Muitos anos se passaram, e certo dia vieram três lenhadores e
cortaram as três árvores, todas muito ansiosas em serem
transformadas naquilo com que sonhavam.
Mas lenhadores não costumam ouvir e nem entender sonhos!
Que pena!

A primeira árvore acabou sendo transformada num cocho de animais,
coberto de feno.
A segunda virou um simples e pequeno barco de pesca,
carregando pessoas e peixes todos os dias.
E a terceira, mesmo sonhando em ficar no alto da montanha,
acabou cortada em altas vigas e colocada de lado em um depósito.
E todas as três se perguntavam desiludidas e tristes:
- Para que isso?

Mas, numa certa noite, cheia de luz e de estrelas, onde havia
mil melodias no ar, uma jovem mulher colocou seu neném
recém-nascido naquele cocho de animais.
E de repente, a primeira árvore percebeu que continha o
maior tesouro do mundo!

A segunda árvore, anos mais tarde, acabou transportando
um homem que acabou dormindo no barco, mas
quando a tempestade quase afundou o pequeno barco, o
homem se levantou e disse: "PAZ"!
E num relance, a segunda árvore entendeu que estava carregando
o rei dos céus e da terra.

Tempos mais tarde, numa sexta-feira, a terceira árvore espantou-se
quando suas vigas foram unidas em forma de cruz e um homem
foi pregado nela. Logo, sentiu-se horrível e cruel.
Mas logo no Domingo, o mundo vibrou de alegria e a terceira
árvore entendeu que nela havia sido pregado um homem para
salvação da humanidade, e que as pessoas sempre se lembrariam
de Deus e de seu filho Jesus Cristo ao olharem para ela.

As árvores haviam tido sonhos...
Mas as suas realizações foram mil vezes melhores e mais sábias
do que haviam imaginado.
Temos os nossos sonhos e nossos planos que, por vezes, não
coincidem com os planos que Deus tem para nós; e, quase
sempre, somos surpreendidos com a sua generosidade e misericórdia.
É importante compreendermos que tudo vem de Deus, acreditarmos,
termos fé, pois Ele sabe muito bem o que é melhor para cada um de nós...


(Desconheço a autoria)





                                                                  A SENTENÇA

Não tinha a desculpa de um lar desfeito; a mãe não era prostituta, nem o pai um marginal.
         Morava numa casa confortável, havia pão na sua mesa, freqüentava as melhores escolas e para onde se virasse encontrava um empregado para servi-lo.
            Conheceu boa parte do mundo, que o dinheiro dos pais lhe garantia férias no país que escolhesse. Com ele não se aplicava a máxima de que “o homem é produto do meio”.
            Vagava sozinho. Não conseguia fazer amigos entre os seus iguais. Tímido, trancado numa concha que ele mesmo construíra, era taciturno e se isolara do mundo. Possuir tudo era motivo de tédio. Ficava horas esquecidas a apreciar os moleques jogando bola em terrenos baldios, distantes da sua casa, até que um dia ...
          - Senhores do Conselho de Sentença, este indivíduo não é digno da piedade de ninguém. É uma ameaça à sociedade. Não há desculpa para os seus crimes. Nunca passou fome...
               O que era mesmo que o Promotor estava dizendo? Nunca passou  fome? O que ele entende por fome? Comida na mesa, um pedaço de pão? Bem, se era isso, até que tinha razão, mas se estava se referindo à fome de amor, como estava longe da verdade! Enquanto seu pai, o Dr. Lucas, vivia num avião, em eternas viagens de negócios, sua mãe, a respeitável senhora Neuza, não se afastava das festas que dizia beneficentes, em prol das criancinhas famintas, ele – que agora deixava de ser Lauro, para ser “indivíduo” -, vivia numa casa fria, criado por empregados desconhecidos que não sabiam abraçá-lo, nem lhe dar amor, nem mesmo as migalhas que sobravam dos seus próprios filhos.
-          ... que nunca sentiu o frio das madrugadas dormidas ao relento.
                  É verdade, jamais dormiu ao relento, nos bancos das praças, tendo o céu por cobertor e as estrelas por companheiras, mas quanta falta lhe fez um abraço materno, um beijo do pai, o aconchego de um colo que lhe aquecesse o coração sedento de carinho.
                  - O réu, Senhores Jurados, teve tudo na vida. Uma família, um lar,  dinheiro no bolso!
                    - O que é que ele chama de família, de lar? Uma casa grande, mobiliada, TV a cores, abarrotada de quinquilharias, onde vivia solitário e infeliz? Só podia está brincando esse Promotor idiota! O que ele sabia de solidão? De não ter com quem conversar, dividir os seus problemas de adolescente, falar sobre a escola, os colegas, a vida?
             Um dia, quando apreciava os garotos da periferia jogando bola, sujos e maltrapilhos, resolveu unir-se a eles. A princípio foi rejeitado, é claro. Tentaram bater-lhe, escorraçá-lo a ponta-pés, chamando-o de filhinho do papai, bicha e outros epítetos. Resistiu e fez-se aceito. Descobriu que se drogavam e resolveu experimentar e para mostrar que era um deles, participou de roubos e furtos. Inteligente e com algum estudo em pouco tempo tornou-se o líder, o chefão. Sentiu-se importante. Ali ele era o rei. Mãe e pai eram coisas do passado. Não precisava deles e foi com a sua turma para outra cidade, deixando para trás um passado de infelicidade.
                 - Um assassino frio e calculista, que matou friamente um pai de família para satisfazer a sua sede de poder. Sim, porque de dinheiro ele não precisava. A sua família era rica e nada lhe faltava...
                 - Se não fosse trágico, seria cômico. Não dava para rir, porque então iriam colocá-lo numa camisa de força. Afinal, estava sendo julgado por assassinato e dificilmente escaparia da pena máxima, mas aquele Promotor, certamente, não entendia nada de família.
       Para ele, família era uma mãe que embalava o filho, que lhe contava histórias, que o aconchegava ao colo, beijava-lhe a fronte, acalentava-o junto ao peito, rezava com ele antes de dormir! Família era um pai que levava o filho ao Estádio para assistir ao Futebol, que ia com ele ao jornaleiro da esquina comprar revistas em quadrinho ou palavras cruzadas; que abraçava o filho ao chegar do trabalho e se interessava pelas suas notas na escola. Não, ele não tivera família e nem sequer sabia o que isso significava.
                  Ao fugir de casa juntara-se a crianças que também nada tinham, que como ele haviam sido geradas num momento de paixão e mais nada. Jogadas ao “deus-dará” encontraram nas ruas o seu habitat natural. Dos pequenos furtos passaram aos assaltos, aos roubos, ao tráfico de drogas. Ele era o cérebro. Escolhia as vítimas, planejava minuciosamente o “trabalho” e os outros estavam ali para obedecer-lhe. Não tencionava matar. Roubava pelo prazer de roubar. Era como se estivesse dizendo à sociedade, aos seus grã-finos pais: Veja, vocês me negaram amor e carinho, nunca tiveram tempo para um bate-papo, um cineminha, um diálogo, mas eu sou mais poderoso do que vocês. Não sou amado, mas sou temido. Meu nome – Lauro -, faz tremer o mundo. Uso o dinheiro que roubo para viver com conforto, o mesmo conforto que teria se morasse  no palacete de vocês. Vêem como não me fazem falta?
                    - O Juiz, grave e severo, fazendo uma preleção sobre honestidade e honradez, pronuncia a sentença...
     - Ele nem ouviu. Não estava interessado. Não matou por crueldade, mas fora surpreendido pelo Vigia e para não morrer, atirou primeiro.
       -  Pena máxima, diz o Juiz.
              Morreria na cadeia, certamente. E tudo o que queria, era uma família. E o que sempre desejou foi o amor e o carinho de uma mãe que jamais teve tempo de beijá-lo! Queria apenas o abraço de um pai, ocupado demais para desejar-lhe boa-noite na hora de dormir!
     - Pena máxima, repetiu o Juiz.
             Como seria diferente se tivesse sido gerado por amor! Quantos   sonhos desfeitos, porque um homem e uma mulher souberam gerá-lo, mas ignoravam que ser pai e mãe é muito mais do que simplesmente trazer ao mundo um outro ser. Que um filho não precisa, apenas, de pão, de presentes caros, de roupas de marca, de brinquedos caros, de viagens à Europa. Necessita, isso sim, do diálogo que foi abolido dos lares, pois pais e filhos só se encontram para discutir, ralhar, brigar. Não se fala em Deus, nem em Pátria, muito menos em família.
             Sozinhos, carentes de afeto, nós, os jovens, enveredamos por caminhos tortuosos, procurando alívio para a ausência de afetividade nas drogas, no sexo desordenado, na corrupção dos costumes.
            Quantas esperanças desperdiçadas  porque um homem e uma mulher não se conscientizaram de que gerar e parir implica numa responsabilidade maior, que é o  de educar para a vida com amor e carinho.
            Assustado, acordei e corri para os braços amorosos da minha mãe. Fora, apenas, um sonho.

                                                                  MARISA ALVERGA

OBS. Do livro em preparo NO TERRAÇO DA NOITE
 




ALUNA ROSA

No primeiro dia de aula nosso professor se apresentou aos alunos, e nos desafiou a que nos apresentássemos a alguém que não conhecêssemos ainda. Eu fiquei em pé para olhar ao redor quando uma mão suave tocou meu ombro. Olhei para trás e vi uma pequena senhora, velhinha e enrugada, sorrindo radiante para mim, com um sorriso que iluminava todo o seu ser.

Ela disse:
- Hei, bonitão. Meu nome é Rosa. Eu tenho oitenta e sete anos de idade. Posso te dar um abraço?
-Eu ri, e respondi entusiasticamente:
- É claro que pode! - e ela me deu um gigantesco apertão.
- Por que você está na faculdade em tão tenra e inocente idade? - perguntei.
Ela respondeu brincalhona:
- Estou aqui para encontrar um marido rico, casar, ter um casal de filhos, e então me aposentar e viajar.
- Está brincando - eu disse. Eu estava curioso em saber o que a havia motivado a entrar neste desafio com a sua idade, e ela disse:
- Eu sempre sonhei em ter um estudo universitário, e agora estou tendo um!
Após a aula nós caminhamos para o prédio da união dos estudantes, e dividimos um "milkshake" de chocolate. Nos tornamos amigos instantaneamente.
Todos os dias nos próximos três meses nós teríamos aula juntos e falaríamos sem parar.
Eu ficava sempre extasiado ouvindo aquela "máquina do tempo" compartilhar sua experiência e sabedoria comigo.
No decurso de um ano, Rosa tornou-se um ícone no campus universitário, e fazia amigos facilmente, onde quer que fosse.
Ela adorava vestir-se bem, e revelava-se na atenção que lhe davam os outros estudantes. Ela estava curtindo a vida! No fim do semestre nós convidamos Rosa para falar no nosso banquete de futebol.
Jamais esquecerei do que ela nos ensinou.
Ela foi apresentada e se aproximou do pódio
Quando ela começou a ler a sua fala preparada, deixou cair três das cinco folhas no chão.
Frustrada e um pouco embaraçada, ela pegou o microfone e disse simplesmente: Desculpe-me, eu estou tão nervosa! Parei de beber por causa da Quaresma, e este uísque está me matando! Eu nunca conseguirei colocar meus papéis em ordem de novo, então me deixe apenas falar para vocês sobre aquilo que eu sei.

Enquanto nós ríamos, ela limpou sua garganta e começou:
- Nós não paramos de amar porque ficamos velhos; nós nos tornamos velhos porque paramos de amar. Existem somente quatro segredos para continuarmos jovens, felizes e conseguindo sucesso. Você precisa rir e encontrar humor em cada dia. Você precisa ter um sonho. Quando você perde seus sonhos, você morre. Nós temos tantas pessoas caminhando por aí que estão mortas e nem desconfiam! Há uma enorme diferença entre ficar velho e crescer.

Se você tem dezenove anos de idade e ficar deitado na cama por um ano inteiro, sem fazer nada de produtivo, você ficará com vinte anos. Se eu tenho oitenta e sete anos e ficar na cama por um ano e não fizer coisa alguma, eu ficarei com oitenta e oito anos. Qualquer um consegue ficar mais velho. Isso não exige talento nem habilidade. A idéia é crescer através de sempre encontrar oportunidade na novidade. Isto não precisa nenhum talento ou habilidade. A idéia é crescer sempre encontrando a oportunidade de mudar. Não tenha remorsos. Os velhos geralmente não se arrependem daquilo que fizeram, mas sim por aquelas coisas que deixaram de fazer. As únicas pessoas que tem medo da morte são aquelas que tem remorsos.
Ela concluiu seu discurso cantando corajosamente "A Rosa".
Ela desafiou a cada um de nós a estudar poesia e vivê-la em nossa vida diária. No fim do ano Rosa terminou o último ano da faculdade que começou há todos aqueles anos atrás.

Uma semana depois da formatura, Rosa morreu tranqüilamente em seu sono.
Mais de dois mil alunos da faculdade foram ao seu funeral, em tributo à maravilhosa mulher que ensinou, através de exemplo, que nunca é tarde demais para ser tudo aquilo que você pode provavelmente ser.

Estas palavras têm sido divulgadas por amor, em memória de "Rosa" e lembre-se:
"Ficar velho é obrigatório, crescer é opcional".
Se você leu isso com o coração estará mais sábio, mas se leu com a mente, estará apenas mais velho.

(Desconheço a autoria)




CAIXA DE PANDORA



O relógio marcava quatro horas e a madrugada se divisava no horizonte. Não sentia sono, empolgada que estava no seu trabalho.
Dizia-se, à boca pequena, que não era normal. Escutava e ria, repetindo sempre que vinte e quatro horas, realmente, era insuficiente para fazer tudo o que queria. Dormia pouco, alimentava-se mal e não tinha lazer nenhum. Bem, isso não era totalmente verdade, porque era filatelista e envolvida com seus selos, o mundo poderia até acabar que não daria por isso.
Não freqüentar a Igreja, não significava que não tinha fé ou não amava a Deus. A fé, o amor, estava no coração, no seu interior, no seu modo de vida. O trabalho era a sua religião.
Queria escrever um livro que falasse no seu Nordeste, um lugar diferente, com um céu sempre azul e as terras permanentemente irrigadas, estendendo o verde pelas planícies, tornando a vida mais bela! Um Nordeste sem fome, sem miséria, sem desemprego e sem desamor, onde crianças não morressem de inanição, não houvesse velhice desamparada, nem analfabetismo. Um lugar que se assemelhasse ao paraíso, sem inveja, sem calúnia, desespero, deslealdade, indiferença, falsidade!
Lembrou-se de Pandora. Segundo a lenda, Prometeu criou uma raça para superar os deuses do Olimpo e ensinou as suas criaturas a dominar a natureza e conhecer-se a si mesmas.
Júpiter ou Zeus, Senhor do Olimpo, não gostou da idéia e resolveu destruir o paraíso dos homens, inventando a mulher. Pediu a Vulcano, o deus artesão, que modelasse, em bronze, uma imagem feminina. Deveria assemelhar-se ao homem, mas dele diferir de tal forma que o encantasse e comovesse, atrasando-lhe o trabalho e transtornando-lhe a alma. Cada deus ofereceria alguma coisa a essa criatura que nascia para colocar em desconcerto a vida dos mortais.
Minerva, a deusa da sabedoria, entregou à mulher recém criada, um lindo vestido que lhe cobria as formas. Colocou-lhe um véu sobre o rosto sereno e enfeitou-lhe a cabeça com uma guirlanda de flores coloridas.
Vênus ofereceu-lhe a beleza, Mercúrio, a língua; e Apolo, a voz.
Júpiter entregou-lhe uma caixa, um presente para oferecer ao primeiro homem que encontrasse.
Pandora desceu à terra e encontrou-se com Epimeteu,  a quem entregou o presente de Júpiter. Sem nem olhar a caixa, totalmente desorientado pela beleza de Pandora, abriu-a e dela saíram as desgraças do mundo: a maledicência, a calúnia, a inveja, a guerra, a corrupção, a tristeza. No fundo da caixa, porém, ficou...
O dia amanheceu e a cozinheira trouxe-lhe o café da manhã, avisando-a de que a despensa estava vazia. Resolveu ir ao Supermercado que distava um quarteirão da sua casa.
- Oi!
            - Oi.
            Era André, um vizinho, que a cumprimentava.
            - Você soube?
            - Dizem que ela ...
            - Pois é, e depois ...
            - É verdade. Todo mundo está falando...
            - E o mais grave ...
            - Não me diga!
            - Outro dia...
            - Não acredito! Você jura?
            - Juro! Juro por Deus que...
            - É incrível! E eu que pensei...
            - Pois pensou errado...
            - Minha Nossa! Como teve coragem?
            - E sabe quê mais?...
            - Não acredito! Tem certeza?
            -Té logo! Não conte prá ninguém.
            - Fique tranqüilo...
Pelo caminho, Lídia veio pensando no diálogo que travara com André. Ah! A maledicência! Maldito seja Júpiter pelas mazelas que legou à humanidade! Que os deuses não a ouçam, pois são muito vingativos.
Volta ao seu livro, quando batem à porta. Interrompe o trabalho e recebe Júlio, um antigo colega de trabalho, que lhe entrega uma carta.
Lê em voz alta:
“Há muito tempo procuro coragem para escrever-lhe. Sei que a magoei muito, mas estou arrependida e preciso do seu perdão".
Interrompe a leitura e procura a assinatura. Ao vê-la solta uma sonora gargalhada. Então a minha “querida Isabel”, está arrependida? Acha que é simples assim. É só pedir perdão e todo o passado será apagado. Quero que morra e vá para o inferno.
A curiosidade é mais forte e continua lendo:
“Era muito jovem e me deixei levar pela ambição. Era pobre e o brilho das moedas me fascinou".
Lídia era alta funcionária de importante firma. Um dia houve um roubo e Isabel a incriminou. É verdade que tudo se esclareceu, mas sofrera o diabo. E agora, vem humilde e chorosa pedir  perdão. Que se dane!
“Estou doente, pobre e na miséria. Preciso de uma cirurgia. Sei que se casou com um homem rico e o dinheiro de que preciso para curar-me não lhe fará falta”.
O que será que ela fez com os “trinta dinheiros” que recebeu? Devia ter-se enforcado como fez Judas. Porém, dignidade é um artigo em extinção.
Abriu a carteira e emitiu um cheque. Que lhe sirva de lição, pensou. Pedir só envergonha a quem não tem pra dar.
Tudo culpa de Pandora, pensou. Aliás, Pandora foi, apenas, uma vítima. Zeus, sim, foi o grande culpado. Ainda bem que no fundo da caixa ficou...
Alberto veio vindo, de mansinho, silenciosamente e quase a assustou.
- O que houve?
- Vim conversar. Tenho um negócio da China pra nós dois.
-  Não, não conte comigo. Os seus negócios terminam sempre na Polícia e estou cansada de  gastar o meu dinheiro tirando-o da cadeia. Pra mim, chega.
- É negócio limpo e há muito dinheiro envolvido. Bem, não é muito limpo, mas se agirmos com cautela, a Polícia nunca vai descobrir.
- Então, não é honesto.
- Honesto? Quantos ricos honestos você conhece? Dinheiro, querida, é a mola que move o  mundo. Rico não tem defeito e o pobre, se não tiver, a gente inventa.
- Vou continuar pobre, mas traficar drogas? Não mesmo. Nem vou deixá-lo fazer uma coisa dessas. Não queria mais dinheiro do que já tinha. Ao morrer, o marido legara-lhe uma fortuna e  soubera não só preservá-la, mas multiplicá-la. Dinheiro em troca da desgraça dos outros? Não lhe permitisse Deus!
Ganância! Aí estava, outra vez, a Caixa maldita, com as misérias do homem. Era a paixão substituindo o amor; guerra, em vez de paz, Bin Laden em lugar de Gandhi!
Um mundo louco! AIDS, drogas, inversões sexuais, corrupção, fraudes! E somos todos responsáveis por esse lixo, pensou Lídia. Se cada um fizesse a sua parte, destruiríamos a Caixa de Pandora e bem que gostaríamos de ver a cara de Júpiter!
       Quedou-se a sonhar. E porquê não? Que seria da vida sem os sonhos! Num sonho realizamos nossos desejos mais secretos, a vida é mais bela e o homem muito mais feliz! Sonhando, vemos o mundo com os olhos da alma. Nos sonhos, a justiça social é uma verdade. A fome não existe. Ninguém chora de frio. Educação é um direito de todos. Desemprego é só uma palavra no dicionário da vida. Por cristianismo entende-se amor, companheirismo, solidariedade. Ninguém morre de inanição. Os Poderes Constituídos cumprem à risca a Constituição, cuida da saúde do povo, que, bem  alimentado, é forte e rijo, mas se precisar de cuidados médicos encontrará Hospitais e Casas de Saúde com atendimento gratuito, de primeira qualidade. Não há descasos nem mortes inúteis! Só se morre de velhice, jamais por descaso ou incompetência profissional! Os direitos humanos são respeitados. O homem trabalha a terra e   com o seu produto alimenta a família.  Não há indigência, nem miséria.
Sonhar faz bem à alma, até porque  no fundo da caixa de Pandora, ficou... A ESPERANÇA,  esperança de um mundo melhor, sem injustiça social, com mais amor e respeito, sem fome e sem violência. 
MARISA ALVERGA
OBS. Do livro em preparo NO TERRAÇO DA NOITE


***


ROUPA SUJA

             Terminara, finalmente, o insigne poeta o seu árduo trabalho;grandioso poema sobre as maravilhas de Deus na ordem do cosmos.
        E agora, numa roda de amigos e admiradores, declamava o mais belo capítulo da obra-prima do seu engenho.
             Foi um assombro!...
            De tamanha beleza eram as idéias, tão profundos os conceitos, tão cintilantes as frases, tão suabves as cadências dos períodos, que os ouvintes se quedaram como que extáticos de enlevo...
        E quando o poeta, no auge do entusiasmo, perorava a mais grandiosa página do estupendo poema - ouviu-se bater à porta da sala...
          Mais se avolumou a voz do inspirado bardo, mais vibrante se tornou o seu estro, para abafar o ruído do inoportuno visitante.
            Persistem, porém, na porta, os golpes indiscretos.
      Interrompe então o cantor das grandezas de Deus a faiscante cadeia de idéias e, contrariado, com um arranco violento, abre a porta.
            "Por obséquio, sr. doutor, a sua roupa suja" - diz uma vozinha tímida, coando dos lábios pálidos duma menina magríssima.
             É a filha da pobre lavadeira.
             " Agora não posso,menina! venha amanhã!...
         "Mas ... a mamãe fica sem serviço... e sem pão... Somos tão pobres ... Por favor, sr. doutor, a sua roupa suja ...
             - Não posso, já disse!...
             Com estrondo infernal se fecha a porta na cara da menina pálida.
             Tornando a subir ao estrado, retoma o trovador o fio do poema.
        Por entre tempestades de aplausos termina e declamação da grande apoteose que elaborou pela maior glória de Deus.
             Felicitações, abraços, sorrisos, elogios, luminosas perspectivas ...
             Altas horas da noite ...
             Surge do seio das trevas o rosto pálido duma menina paupérrima ...
            Corre pelo quarto olhares sonâmbulos ... Apanha da mesa os originais do poema - folha por folha, e rasga-as em mil pedaços ...
             E jogando-as ao cesto de papéis, murmura: "Roupa suja". E desaparece...
             O poeta acorda ... Os originais lá estão, intatos ...
             E põe-se a pensar, a pensar, a pensar...
             É verdade que escrevi este poema pela maior glória de Deus?...
         Se é verdade, porque não cantei, ontem à noite, o mais belo de todos os poemas do mundo - o poema da caridade?...
            Por que não entreguei à pobrezinha  a minha roupa suja? ...
            Por que preferi à caridade a minha  vaidade? ...
          Levantou-se e resolveu, logo de manhã, entregar à filha da lavadeira a roupa suja que ela pedira - e lavou com as lágrimas do arrependimento a "roupa suja" que tinha dentro da alma ...
           E o seu coraçãoi cantou em silêncio omais lindo poema da humanidade ...
           O poema divino do Nazareno ...

 HUBERTO ROHDEN
         
***
 

 O JEEP DO REGIMENTO



Um jovem cumpria o seu dever cívico prestando serviço ao exército, mas
era ridicularizado por ser cristão.

Um dia o seu superior hierárquico, na intenção de humilhá-lo na frente
do pelotão, pregou-lhe uma peça...

- Soldado Coelho, venha até aqui!
- Pois não Senhor.
- Segure essa chave. Agora vá até aquele jipe e o estacione ali na frente.

- Mas senhor, o senhor sabe perfeitamente que eu não sei dirigir.
- Soldado Coelho, eu não lhe perguntei nada. Vá até o jipe e faça o
que eu lhe ordenei...
- Mas senhor, eu não sei dirigir!
- Então peça ajuda ao seu Deus. Mostre-nos que Ele existe.

O soldado não temendo, pegou a chave das mãos do seu superior e foi
até o veículo.
Entrou, sentou-se no banco do motorista e imediatamente começou sua
oração.

"Senhor, tu sabes que eu não sei dirigir. Guie as minhas mãos e mostre
a essas pessoas a sua fidelidade.
Eu confio em Ti e sei que podes me ajudar. Amém."

O garoto, manobrou o veículo e estacionou perfeitamente como queria o
seu superior.
Ao sair do veículo, viu todo o pelotão chorando e alguns de joelhos...

- O que houve gente? - perguntou o soldado.
- Nós queremos o teu Deus, Coelho. Como fazemos para tê-lo? Perguntou
o seu superior.

- Basta aceitá-lo como seu Senhor e Salvador. Mas porquê todos
decidiram aceitar o meu Deus?

O superior pegou o soldado pela gola da camisa, caminhou com ele até o
jipe enxugando suas lágrimas.

Chegando lá, levantou o capô do veículo e o mesmo estava sem o motor!




A VIRGEM DAS ROSAS



À margem da estrada, em um pedestal grotesco, campeava a estátua da Virgem das Rosas, como lhe chamavam. Era de granito ou coisa semelhante, porém tinha uma expressão de ternura aquele semblante de pedra!
Ao viajor que passava por ali era sempre causa de estranheza a grinalda de rosas que invariavelmente frescas a cingir a cabeça da Senhora. O caso era este: dali a meio quilômetro, vivia uma família de campônios simples e pios. A filha mais nova da casa, inocente como um anjo, visitava diariamente a Virgem da estrada, nunca porém de mãos vazias. Despertava com a alvorada e saía a colher rosas em seu jardim. Trazia o regaço cheio delas e com elas entretecia a coroa de Maria. Punha-se de joelhos e começava a sua prece ardente; a cada breve oração que concluía, juntava uma flor ao festão que crescia, lindo.
Parecia brotar-lhe dos lábios a flor que à grinalda acrescentava. Terminadas as preces, estava pronta a grinalda. Ia, então, radiante, levar o rico presente da sua piedade à Virgem das Rosas.
Os caçadores que passavam tão cedo ao pé do singelo monumento, já encontravam cingida de louçania  fronte de Maria.
Admiravam-se do fato porque, na véspera, ao entardecer, as rosas sempre as encontravam meio desfolhadas da ventania. Não faltou quem cuidasse ser obra de um anjo que, cada manhã, colhesse do roseiral da aurora as flores para a Virgem. E não errava muito quem assim supunha, porque era um anjo da terra a jardineira da Senhora.
Passaram certa manhã os caçadores e, como de costume, sofrearam as cavalgaduras, descobriram-se e pediram à Virgem que não permitisse infortúnios na caçada,. Notaram, porém, que as rosas estavam murchas... Foi um sobressalto: as rosas murchas não lhes deu a coragem para prosseguirem. Temiam alguma desgraça. Deliberaram retroceder e retrocederam todos, pensativos.
A um certo ponto encontraram-se com um grupo de camponeses que conduziam uma menina em um esquife. Era ela. Eles a conheceram, porque o ataúde estava cheio das mesmas rosas que sempre ornamentavam a estátua.
Levaram-na para onde ela pedira ao morrer, para junto da sua Virgem. Uma pequena cova foi aberta ao pé da estátua. Sobre a tumba rasa plantaram uma roseira que os mesmo caçadores regaram com lágrimas.
Pelo mês de outubro a planta se cobre de botões e quando a brisa vai murmurar suas preces, ao pé do monumento da Virgem, abrem-se as flores, como outrora se abriram, olorosas, enquanto orava o anjo que ali repousa.

(Autoria desconhecida)



      ***


                  
              ATITUDE LEONINA

                 Era uma vez um burro ....
                 Esse burro era forte e bom – porém, detestado...
            Somente o boi e o cavalo rivalizavam com ele em força muscular...
            Mas, nem um nem outro agüentavam as longas viagens que o burro agüentava...
            Por isso o homem lhe queria mais bem que a todos os outros...
            E isso aborrecia os habitantes das selvas e dos campos...
            Nenhum, todavia, ousava fazer-lhe mal - porque o asno era forte e temido.
            Mas eis que vem um dia fatal!
            Vítima de funesto acidente, tomba o solípede de alto barranco – semimorto...
            Corre veloz pela floresta a sensacional  notícia...
            Aliviada de mortal pesadelo respira a fauna em derredor...
            E todos à porfia afluem para ver o burro moribundo...
            Descarregou-lhe o cavalo um coice no peito...
            Deu-lhe o boi violenta chifrada entre as costelas...
            Ferrou-lhe o cão numa perna os dentes pontiagudos...
            Arranhou-lhe o gato o focinho com as garras aduncadas...
            Saiu da toca até um ratinho que nunca vira o asno, e, para ser digno dos grandes, fincou-lhe os dentinhos na ponta da orelha...
            E assim todos os demais...
            Assomou, por fim, o leão, olhou pra o burro agonizante – e passou de largo.
            “Como, majestade?” – exclamaram os outros – Não te vingas desse perverso? Do inimigo comum? Arranca-lhe os olhos!
            Respondeu o leão: “Reputo abaixo da minha dignidade vingar-me de um inimigo  que já não me pode fazer mal...”
            E passou adiante, firme, grave, sereno...
            Sem olhar para trás...
            Amigo, que a fauna humana habitas – não te iludas!
            Muitos te respeitam porque muitos te temem – enquanto és forte.
            Enquanto as auras da sorte bafejam tua vida...
            Enquanto poderosos te amparam e te defendem...
            Muitos  ocultam seu despeito, sua inveja – porque lhes falta coragem...
            No dia, porém, em que te julguem liquidado – exultarão de prazer...
            Bois e cavalos, felinos e caninos –nada faltará em torno da tua desgraça...
            Chifradas e coices, dentadas e unhadas – tudo choverá sobre ti, quando inerme...
            Até a mais vil alimária humana te mostrará seu despeito, sua inveja.
            E o leão?
            Não sei se alma leonina encontrarás...
            Espírito nobre que não exiba sua força em face de tua fraqueza...
            Mais raros são nos desertos humanos os homens do que no Saara africano os leões!
           Feliz de ti, meu amigo, se encontrares alma leonina – que ao menos silencie o que remediar não possa!
           E passe adiante – sem vindita ... esse leão!



HUBERTO ROHDEN (Do livro DE ALMA PARA ALMA)






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AZAR SEU...
     

Quem narra a estória que vamos repetir afirma que  veio da Rússia. A procedência não importa muito no caso. O importante é a lição que ela ensina.
Um lobo que estava sendo ferozmente perseguido por homens e cães, saiu da floresta. Quase desfalecendo, porque correra muito e, amedrontadíssimo, entrou numa aldeia onde viu um gato sentado sobre uma cerca.
- Ó gato, disse o lobo, diga-me depressa qual é o homem mais bondoso deste lugar, que esteja pronto a esconder-me dos homens e dos cães que me estão perseguindo.
- Aqui não há homem  algum mais caridoso do que Estêvão. Peça que ele o esconda.
Ah! Eu não posso procurar Estêvão, respondeu o lobo, porque na semana passada matei uma das suas ovelhas. De certo ele não vai me auxiliar.
- Naturalmente, disse o gato e acrescentou:
- Bem, Ivan é também homem caridoso. Peça a ele que o oculte.
- Não, eu não posso procurar Ivan. Eu comi um dos seus cabritinhos, não faz muito tempo. Ele não me auxiliará.
- Então, disse o gato, você pode procurar Pedro.
- Pedro! - exclamou o lobo - ele me dará um tiro. No mês passado comi um dos carneiros dele.
- Vai tudo mal, disse o gato. O único outro homem que deve estar em casa neste momento é Klin. Talvez ele o esconda.
- Não, gritou o lobo. Ele nunca me perdoou porque na primavera passada, roubei-lhe um bezerro. Pense depressa em algum outro. Depressa! Os cães já vêm chegando.
- Não há nenhum outro - disse o gato. Você ofendeu todos os homens deste lugar. Ninguém o auxiliará. Se os caçadores o apanharem, azar seu. Para ter amigos é preciso também ser amigo.

MARISA ALVERGA




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OS TRÊS CONSELHOS

Um casal de jovens recém-casados, era muito pobre e vivia de favores num sítio do interior. Um dia o marido fez a seguinte proposta para a esposa:
“Querida eu vou sair de casa, vou viajar para bem longe, arrumar um emprego e trabalhar até ter condições para voltar e dar-te uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo vou ficar longe, só peço uma coisa, que você me espere e enquanto eu estiver fora, seja FIEL a mim, pois eu serei fiel a você. ”
Assim sendo, o jovem saiu. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um fazendeiro que estava precisando de alguém para ajudá-lo em sua fazenda. O jovem chegou e ofereceu-se para trabalhar, no que foi aceito. Pediu para fazer um pacto com o patrão, o que também foi aceito. O pacto foi o seguinte:
“Me deixe trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir, o senhor me dispensa das minhas obrigações. EU NÃO QUERO RECEBER O MEU SALÁRIO. Peço que o senhor o coloque na poupança até o dia em que eu for embora. No dia em que eu sair o senhor me dá o dinheiro e eu sigo o meu caminho”.
Tudo combinado.
Aquele jovem trabalhou DURANTE VINTE ANOS, sem férias e sem descanso. Depois de vinte anos chegou para o patrão e disse:
“Patrão, eu quero o meu dinheiro, pois estou voltando para a minha casa.”
O patrão então lhe respondeu:
“Tudo bem, afinal, fizemos um pacto e vou cumpri-lo, só que antes quero lhe fazer uma proposta, tudo bem? Eu lhe dou o seu dinheiro e você vai embora, ou LHE DOU TRÊS CONSELHOS e não lhe dou o dinheiro e você vai embora.
Se eu lhe der o dinheiro eu não lhe dou os conselhos; se eu lhe der os conselhos, eu não lhe dou o dinheiro. Vá para o seu quarto, pense e depois me dê a resposta. ”
Ele pensou durante dois dias, procurou o patrão e disse-lhe: “QUERO OS TRÊS CONSELHOS.” O patrão novamente frisou: “Se lhe der os conselhos, não lhe dou o dinheiro.” E o empregado respondeu: “Quero os conselhos.”
O patrão então lhe falou:
1. NUNCA TOME ATALHOS EM SUA VIDA. Caminhos mais curtos e desconhecidos podem custar a sua vida.
2. NUNCA SEJA CURIOSO PARA AQUILO QUE É MAL, pois a curiosidade para o mal pode ser mortal.
3. NUNCA TOME DECISÕES EM MOMENTOS DE ÓDIO OU DE DOR, pois você pode se arrepender e ser tarde demais.
Após dar os conselhos, o patrão disse ao rapaz, que já não era tão jovem assim: “AQUI VOCÊ TEM TRÊS PÃES, estes dois são para você comer durante a viagem e este terceiro é para comer com sua esposa quando chegar a sua casa”. O homem então, seguiu seu caminho de volta, depois de vinte anos longe de casa e da esposa que ele tanto amava.
Após primeiro dia de viagem, encontrou um andarilho que o cumprimentou e lhe perguntou: “Pra onde você vai?”
Ele respondeu: “Vou para um lugar muito distante que fica a mais de vinte dias de caminhada por essa estrada.”
O andarilho disse-lhe então: “Rapaz, este caminho é muito longo, eu conheço um atalho que é dez, e você chega em poucos dias.”
O rapaz contente, começou a seguir pelo atalho, quando lembrou-se do primeiro conselho, então voltou e seguiu o caminho normal. Dias depois soube que o atalho levava a uma emboscada.
Depois de alguns dias de viagem, cansado ao extremo, achou pensão à beira da estrada, onde pode hospedar-se.
Pagou a diária e após tomar um banho deitou-se para dormir.
De madrugada acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se de um salto só e dirigiu-se à porta para ir até o local do grito. Quando estava abrindo a porta, lembrou-se do segundo conselho. Voltou, deitou-se e dormiu.
Ao amanhecer, após tomar café, o dono da hospedagem lhe perguntou se ele não havia escutado gritos durante a noite, e ele respondeu que sim. O hospedeiro perguntou-lhe se não estava curioso a respeito, e ele respondeu que não. O hospedeiro prosseguiu: “VOCÊ É O PRIMEIRO HÓSPEDE A SAIR DAQUI VIVO, pois meu filho tem crises de loucura, grita durante a noite… e quando o hóspede sai, mata-o e enterra-o no quintal.”
O rapaz prosseguiu na sua longa jornada, ansioso por chegar a sua casa. Depois de muitos dias e noites de caminhada… Já ao entardecer, viu entre as árvores a fumaça de sua casinha, andou e logo viu entre os arbustos a silhueta de sua esposa. Estava anoitecendo, mas ele pode ver que ela não estava só. Andou mais um pouco e viu que ela tinha entre as pernas, um homem a quem estava acariciando os cabelos.
Quando viu aquela cena, seu coração se encheu de ódio e amargura e decidiu-se a correr de encontro aos dois e a matá-los sem piedade. Respirou fundo, apressou os passos, quando lembrou-se do terceiro conselho. Então parou, refletiu e decidiu dormir aquela noite ali mesmo e no dia seguinte tomar uma decisão.
Ao amanhecer, já com a cabeça fria, ele pensou: “NÃO VOU MATAR MINHA ESPOSA E NEM O SEU AMANTE. Vou voltar para o meu patrão e pedir que ele me aceite de volta. Só que antes, quero dizer a minha esposa que eu sempre FUI FIEL A ELA”.
Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando a esposa abre a porta e o reconhece, se atira em seu pescoço e o abraça afetuosamente. Ele tenta afastá-la, mas não consegue. Então, com lágrimas nos olhos lhe diz: “Eu fui fiel a você e você me traiu…” Ela espantada lhe responde: “Como? Eu nunca lhe trai, esperei durante esses vintes anos!” Ele então lhe perguntou: “E aquele homem que você estava acariciando ontem ao entardecer?”
“AQUELE HOMEM É NOSSO FILHO. Quando você foi embora, descobri que estava grávida. Hoje ele está com vinte anos de idade.” Então o marido entrou, conheceu, abraçou o filho e contou-lhes toda a sua história, enquanto a esposa preparava o café. Sentaram-se para tomar café e comer juntos o último pão.
APÓS A ORAÇÃO DE AGRADECIMENTO, COM LÁGRIMAS DE EMOÇÃO, ele parte o pão e, ao abrí-lo, encontra todo o seu dinheiro, o pagamento por seus vinte anos de dedicação!
Muitas vezes achamos que o atalho “queima etapas” e nos faz chegar mais rápido, o que nem sempre é verdade…
Muitas vezes somos curiosos, queremos saber de coisas que nem ao menos nos dizem respeito e que nada de bom nos acrescentará… Outras vezes, agimos por impulso, na hora da raiva, e fatalmente nos arrependemos depois…
Espero que você, assim como eu, não se esqueça desses três conselhos e que, principalmente, não se esqueça de CONFIAR em DEUS… (mesmo que a vida, muitas vezes já tenha lhe dado motivos para a desconfiança).

Desconheço a autoria






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O GAROTO E A MANGA


            Era uma vez um menininho mimado e querido . Na família era o “quindim” dos pais e irmãos, talvez por ser o menorzinho, nascido quando os pais já adentravam no outono da vida.
            No Colégio conquistou o coração dos seus mestres. Não porque fosse estudioso, isso também contava, mas por ser inteligente, alegre, bem humorado, brincalhão.
            Bem comportado, nem tanto. Era um capeta. A bem da verdade nunca soube o que era um dez em comportamento. No recreio ninguém o ultrapassava nas peripécias, nas brincadeiras e era do tipo que participava de tudo.
            Se era para pular amarelinha, ele pulava com perícia. Brincando de toca, do anel, de boca-de-forno ou de cabra cega, era imbatível. Criativo, era muito. No Colégio havia uma caveira na sala de Ciências e um dia  tirou-a da sala, colou-lhe um pano na cintura, à guisa de saia, e saiu rodando-a pelos corredores e um séquito de alunos acompanhando-o, até que as freiras descobriram e ele, não teve dúvidas, soltou o esqueleto, que se desmanchou completamente. Ganhou uma suspensão e o pai pagou o estrago.  Foi o preço da travessura.
            Já se viu que era extrovertido e endiabrado, mas agradável, como só sabe ser quem tem “berço”, o que se traduz por educação doméstica e isso não lhe faltava. Filho de professores, logo cedo aprendeu o significado dos vocábulos “licença”,”obrigado” e “por favor”, princípios básicos de uma boa educação.
            Anjinho, santinho? Não, não era. Talvez precoce para os seus nove anos de idade, mas nem por isso deixava de ser uma criança.
            Era o encanto dos seus pais e o líder da meninada, fosse no Colégio ou na rua onde morava.
Se uma bola caísse em cima de uma casa, os jogadores esperavam-no chegar da escola para subir no telhado e tirá-la de lá.
            O Colégio criou um Grupo de Teatro e lá estava o nosso amiguinho interpretando um pacato cidadão que sonhava transformar o mundo.
            Identificou-se com a personagem de tal modo que passou a sonhar com um mundo mais justo, sem violência e  sem desamor.
            O que desejava ser quando crescesse? Esta era a pergunta que os adultos costumavam fazer às crianças e Julinho – esse era o seu nome - , sempre respondia: um homem!
- Mas isso não é profissão!
- Ora, homem pode ser o que quiser e eu quero ser Professor.
Miudinho, magro, cabelos castanhos e pele morena , o menino – como todo garoto que se preza -, juntou-se com dois outros coleguinhas e os três resolveram  tirar manga no quintal do vizinho.
A mãe não sabia e o pai, sequer desconfiava das peripécias do filho e em casa, calma e tranquilamente, preparavam-se par o almoço. De repente...
Um tiro ecoou nos fundos da casa. Um tiro, mais outro e mais outro. Gritos, correria...
D. Lídia e o doutor Alberto nem desconfiavam do acontecido e chamaram o filho para o almoço, mas não houve resposta. Uma hora, duas horas e o menino não voltava.
Anoiteceu e desesperados procuraram ajuda e a Polícia se movimentou procurando Julinho por toda a cidade e dez horas depois o corpo da criança foi encontrado num matagal, ainda com vida, mas respirando com dificuldade. Os olhos muito abertos, suplicavam ajuda. Às pressas foi levado ao Hospital, ante o desespero da mãe que chorava alucinada de dor. Julinho fora baleado na cabeça. Passara dez horas jogado num matagal, sangrando, sem qualquer socorro e não resistira. Morreu nos braços da mãe.
O que acontecera? Julinho pagara preço de uma manga, ou seja R$ 0,10! E pela insignificante quantia de dez centavos, dois homens mataram uma criança de nove anos de idade e ainda encontraram outro algoz, que  arrastou e abandonou dentro do mato, um garoto agonizante.
Que espécie de monstro faria isto? Que morte dolorosa para quem estava apenas se divertindo? De modo errado, é verdade, pois Julinho não precisava roubar manga para comer.  Os seus amiguinhos puderam correr, quando viram os homens armados de espingarda, mas Julinho estava em cima do pé de manga e não teve essa chance!
O que será que se passou na cabeça dessa criaturinha, enquanto esperava a morte? Nunca saberemos, porque os mortos não falam, a não ser pela voz da justiça, que se justiça for, manterá seus assassinos encarcerados pelo resto da vida.

 MARISA ALVERGA
OBS. Conto baseado em fato real, ocorrido aqui, na Paraíba.
                                  




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O Julgamento

Andei sem rumo. Não conseguia me lembrar de onde estava ou o que fazia ali. As ruas me pareciam velhas conhecidas, mas eu me sentia perdido. Desesperado, entrei num restaurante. Sentei-me a um canto e procurei coordenar os pensamentos, quando avistei Aluísio, numa das mesas e aproximei-me com um sorriso, mas o meu amigo nem me olhou; sentei-me ao seu lado, mas ele me ignorou.  Tenho o meu orgulho  e levantei-me dirigindo-me ao balcão onde pedi um refrigerante; o garçom não me atendeu. Repeti o pedido e já ia partir para a agressão, quando senti uma mão no meu ombro.
- Vamos, companheiro; o seu tempo está esgotado.
Era um rapaz. Não o conhecia, porém segui-o e de repente estávamos num grande salão, suntuoso, a começar por uma mesa com tampo de vidro e cadeiras confortáveis. Havia seis pessoas sentadas, semblantes austeros , nenhum sorriso. Eram todos meus amigos, exceto um, sentado à cabeceira da mesa e cujo rosto não pude divisar. Ali estavam Afonso, Décio, Firmino, Raul e Rodolfo.  Procurei o companheiro que me havia trazido, mas não o encontrei. Eu estava sozinho e permaneci parado no umbral da porta, como um perfeito idiota. O meu desejo era fugir,  mas não tive condições de dar um único passo, fazer o menor movimento.
O sujeito sentado à cabeceira da mesa declarou aberta a sessão e lembrou aos companheiros que a indulgência faz parte da justiça.
Afonso, meu velho camarada, falou:  Alberto  foi sempre um bom amigo. Conheci-o nos tempos do Colégio. Inteligente, estudioso, o melhor aluno da classe. Sempre o admirei e o meu voto é a seu favor.
- O que você não sabe, Afonso, é que Alberto é um ladrão. (Ladrão, eu?! O que este camarada está dizendo?) Inteligente – continuou -, sempre o foi, mas um preguiçoso que não gostava de estudar e por isso “filava”. Roubava notas, ludibriava a boa fé dos seus mestres, enganava os pais, lesava os colegas. Ladrão, sim, porque roubava idéias!
Décio pediu a palavra. Como Advogado, Alberto foi um causídico brilhante e defendia causas impossíveis. Era conhecido como Advogado dos Pobres. Lembro-me de uma vez em que defendeu um réu num processo considerado causa perdida e ganhou - a e fez isso gratuitamente, por caridade. Esse ato o redime perante Deus e os homens.
- É, Décio, mas ele não foi tão magnânimo assim. A esposa desse homem pagou-lhe com a única coisa que possuía: uma casinha, nos arrabaldes da cidade.    E  o  marido, ao sair  da  cadeia, viu-se desamparado, sem  teto, sem  pão e  matou-se,  deixando  a  mulher  e    os  filhos na mais completa miséria.
Fiquei estarrecido! Como esse homem descobriu esse fato? Além de precisar sobreviver, havia Elisa, e depois eu não contava  com o suicido  do  sujeito.  Senti  remorso,
mas paguei o enterro.
Décio nada disse e foi Firmino quem continuou:
- Alberto foi um bom marido. Sua esposa sempre o disse. Amava-a e respeitava-a.
- Você nunca ouviu falar de Elisa? Foi a amante do seu amigo, esse marido exemplar de quem você faz a apologia.
Meu Deus, quem é, afinal, este homem, arvorando-se em meu censor, meu juiz?
Raul levantou-se e pôs-se a falar:
- Companheiros, conheci Alberto mais intimamente do que vocês. Um filho exemplar! Seus pais eram pobres e ainda criança assumiu a família e depois da morte do pai, levou a mãe para morar com ele.
- Sabe você de que morreu a mãe do seu amigo? Morreu de solidão. Vivia como uma prisioneira, confinada num quarto suntuoso e nisso consistia toda a sua felicidade. Alberto e a esposa se envergonhavam da pobre mulher que derramava café na toalha de linho, repetia as mesmas histórias e era um pouco surda. Alberto não tinha tempo para ela.
Rodolfo levantou-se. Era o mais silencioso dos meus amigos.
- Se Alberto tinha um amigo, esse amigo fui eu. Sempre soube de todos os seus defeitos, mas apesar dos seus vícios, seus erros, sua falta de caráter, gostava dele. Foi um homem, um ser humano que viveu, amou, sofreu! Criticar é fácil, mas quem de nós ajudou-o quando precisou? Deixemos que seja ele o seu próprio Juiz.
Quase sofri um desmaio. Aquele homem era eu.
- Alberto, não me reconheces? Sou a tua consciência. De repente vi que não havia  Afonso, nem Décio, Firmino, Raul ou Rodolfo. Estava no Tribunal da minha consciência e me vi dizendo:
- Cometeste muitos erros. Tinhas sempre um motivo escuso para as tuas boas ações. Mesmo que o mundo não tenha descoberto as tuas falhas de caráter, não poderias escondê-las de ti mesmo. Vamos!
Segui-o docemente e compreendi que atravessara o grande túnel para a luz, deixando a terra para sempre. Aquele era o Tribunal Supremo: o Tribunal de Deus.


Marisa Alverga
      
                                                                                                                                              
        ***                                                                 




Garças Azuis

Era uma vez... É sempre assim que começam as estórias de trancoso  e  como esta é uma estória que confunde a realidade com a ficção, diremos que ... era uma vez um homem que morava num lugar tão distante que nem se conhece o nome da cidade onde vivia.
Tinha quatro filhos. A mulher morrera e José sozinho criara os filhos. Não era rico. Trabalhava de sol-a-sol para que nada lhes faltasse, mas o dinheiro mal dava para o seu sustento. Um dia ouviu falar numa terra onde as garças eram azuis  e desejou conhecê-la. Vendeu tudo o que possuía e partiu em busca dessas aves de rara beleza.
Perto, bem pertinho de atingir a terra “prometida”, o navio em que viajava começou a afundar e José , em desespero, atirou-se ao mar e dias e dias, agarrado a uma tábua,  só pensava nos filhos que deixara na Pátria distante. Via as gaivotas que adejavam ao sol e imaginava as garças azuis que talvez nunca chegasse a ver.
Devoto da Virgem Maria, José suplicou-Lhe que lhe salvasse a vida, e  prometia que esqueceria as garças azuis e na terra onde aportasse ergueria uma capela em honra da Mãe de Deus.
Dias depois, sem saber explicar como, José encontrou-se numa praia. Morto de fome e de cansaço, encontrou forças para levantar-se e procurar alimentos. Um coqueiro saciou-lhe a sede e matou-lhe a fome. Quando as forças lhe voltaram caminhou sem destino, mas só havia mar e céu e de puro cansaço adormeceu. Sonhou que um anjo lhe aparecia, tomava-lhe a mão e saiam voando, guiados por um bando de garças azuis!
Passaram-se três dias e José se encontrou sozinho, caminhando por uma estrada que parecia  nunca terminar. Por fim avistou o que parecia um engenho e à porta um homem que disse chamar-se Ananias. Convidado a entrar, José agradeceu e contou-lhe a sua estória. Fora salvo e precisava trabalhar para pagar a promessa e voltar à sua terra em busca dos filhos. Ananias deu-lhe trabalho e em pouco José conseguiu um pedaço de terra e da sua roça o dinheiro para comprar uma passagem e voltar às suas origens.
Já ninguém se lembrava do forasteiro que um dia ali estivera em busca de garças azuis, quando José voltou trazendo os filhos e uma linda imagem da Virgem Maria, uma Madona com uma lâmpada nas mãos, que recebeu o nome de Nossa Senhora da Luz.
A capela foi erguida no alto de uma colina e de longe vinham pessoas atraídas pela beleza da imagem e de tão embevecidas resolviam ali permanecer e assim o lugarejo logo se viu habitado. Os engenhos cresceram, ofereceram emprego e as pessoas foram ficando, formando famílias, trabalhando e divertindo-se. José notou que ninguém sabia ler e fundou uma escola. À noite todos se reuniam no corredor do engenho e ele, o professor, ensinava o ABC a crianças e adultos.
Abriu uma lojinha onde havia de tudo, da linha de pescar a roupas e sapatos, da carne à farinha e ninguém precisava   mais deslocar-se para comprar mantimentos ou vestuário.
O lugarejo prosperava e em breve uma estrada de ferro cortava a cidade. O PN parava na estação e era uma festa. As mocinhas e os rapazolas se engalanavam para esperá-lo e muitos casamentos ali começaram.
Há muito deixara de ser uma aldeia. Era agora uma vila batizada de Independência e não parava de crescer. A capela virou Igreja e artistas surgiram embelezando-a. Não se comparava à Capela Sistina, mas na abóbada uma linda Virgem Maria foi pintada por um artista da terra.  No côro da Igreja a juventude se reunia cantando ladainhas e hinos à Maria Santíssima.
Um Padre, de nome Francisco Bandeira Pequeno, foi o primeiro Prefeito dessa cidade, pelos anos de 1835 , pois, através da Lei nº 841 foi decretada cidade. Colégios surgiram, Bancos ali se instalaram, casas comerciais e indústrias foram sendo abertas todo dia e a cidade crescia e crescia.
De clima  quente e seco no verão e ameno durante o inverno, tem hoje 55.340 habitantes entre a zona rural e urbana. É bem servida de meios de comunicação. Possui agências do Correio, Bancos do Brasil, do Nordeste, Caixa Econômica, Bradesco, Santander e Itaú; quatro emissoras de Rádio, além de Rádios Comunitárias, em bairros da cidade.
No setor educacional tem os melhores colégios da região e em cada esquina uma escola surgiu para erradicar o analfabetismo. A Universidade atende a todo o brejo paraibano e o Rotary Club de Guarabira já encetou uma campanha em prol de um Campus da UFPB, o que beneficiará não só Guarabira mas toda a região do brejo.
A Saúde dispõe de Hospitais e Clínicas de boa qualidade e no setor cultural o Museu e o Centro de Documentação contam a história da cidade. Galeria de Artes, Teatro e Biblioteca  completam esse leque, que conta ainda com  outras Instituições e  seus programas de cultura, esporte e lazer.
E as garças azuis?       Os indígenas chamavam o lugarejo de GORABIRA, que, na língua tupi-guarani significa “berço das garças azuis” e JOSÉ DA COSTA BEIRIZ, realizou o seu sonho e nos doou, com a sua tenacidade, esta  Guarabira de que tanto nos orgulhamos.

Marisa Alverga

               
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         Meu amigo Fábio

 
Era uma noite  de  tempestade. Os trovões reboavam estremecendo a terra e os raios riscavam os céus, confundindo-se com as águas que caiam em enxurrada.
A família conversava na cozinha e as crianças dormitavam no colo das irmãs. Sentado, um pouco distante, eu lia o Jornal, saboreando um merecido descanso. Vez por outra a minha atenção se desviava das notícias políticas, por gritinhos das crianças, acompanhados de um ‘tou com medo! É que as histórias contadas versavam todas sobre fantasmas, almas do outro mundo.
De repente, tudo ficou escuro. Um defeito qualquer na instalação elétrica, interrompeu o fornecimento de energia. Corre daqui, grita dali, conseguiu-se, afinal, uma vela e as coisas se acalmaram.  Já todos se dispunham a dormir, quando se ouviu bater à porta.
O nosso sítio era distante da cidade e essa foi a razão que me levou a comprá-lo. Queria “fugir” da metrópole, pelo menos nos fins de semana. Nada contei aos amigos, nem aos parentes. Só minha mãe sabia do meu “esconderijo.” Sobressaltei-me,´portanto, quando, àquela hora inusitada, ouvi alguém pronunciar o meu nome. Entreolhamo-nos assustados, mas resolvi atender. Seria, certamente, alguém que se perdera em meio à tempestade e de algum modo soubera que estávamos ali.
À entrada da casa estava Fábio, um amigo a quem não via há um bom tempo. Pode-se bem imaginar o meu assombro; ele, porém, parecia muito à vontade e contou-me que estivera à minha procura e minha mãe lhe havia dado o meu endereço. Fiquei contente que o tivesse feito, não obstante havê-la proibido de contar a quem quer que fosse, o meu paradeiro.
Apresentei-o a Marina, minha esposa, a Rafaela e a Lindalva, minhas filhas e aos garotos Daniel, Rodrigo e Vinícius.
Apressamo-nos a oferecer-lhe uma refeição, mas Fábio, cortesmente, recusou.
Lá fora a chuva continuava a cair intermitentemente. Levei Fábio para o quarto que às  pressas  Marina  preparou  e  sentei-me  ao  seu  lado  para mais alguns minutos de prosa.
Havia muito o que conversar e falamos do passado, recordando o nosso tempo de internato, a república que partilháramos juntos, as farras, as festas e brincadeiras.
Contou-me que se havia casado, tinha duas filhas quase da idade das minhas; falou-me do seu trabalho e terminou por confidenciar-me que me havia procurado para que lhe arranjasse determinada quantia de que precisava urgentemente para saldar um dívida contraída com certa pessoa. Disse-me quem era, onde morava e até me forneceu o telefone.
Felizmente, tinha condições de atendê-lo e acertamos que no dia seguinte, na cidade, eu lhe daria o cheque. Disse-me que preferia que eu o entregasse diretamente à pessoa que lhe emprestara o dinheiro. Abraçamo-nos cordialmente e deixei-o já madrugada, o dia nascendo. Combinamos que viajaríamos às oito horas, logo depois do café.
A família acordou cedo e ficamos à espera de Fábio. Oito, nove horas e ele não aparecia. Resolvi acordá-lo.
O quarto estava vazio e do meu amigo nenhuma notícia. Decidimos viajar; ele, com certeza, resolvera partir mais cedo.
Mal entrei em casa, o telefone tocou. Minha mãe me comunicava o falecimento de Fábio, ocorrido na véspera, exatamente na hora em que ele esteve no meu sítio!


Marisa Alverga                                                      
Obs: Este conto foi publicado na Revista Nacional, Rio de Janeiro.


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Um sonho

  Sonhar é privilégio de todos. O que seria da vida sem os sonhos? Num sonho realizamos os nossos anseios, concretizamos as nossas aspirações  e é muito mais fácil ser feliz e foi sonhando que tive um dia, um dia um Nordeste só meu e desejei que pertencesse a todos os nordestinos.
No meu Nordeste o céu era sempre azul e as terras permanentemente irrigadas, estendiam-se pelo verde das planícies, embelezando a vida!
Havia fartura, com alimentação abundante surgindo do seio da terra em forma de hortaliças, frutas e verduras. Os bois nas campinas, gordos e reluzentes, forneciam a carne que alimenta os homens! O leite jorrava das tetas de vacas e cabras, amamentando as crianças. O espectro da fome não rondava os lares! Não havia crianças desnutridas, Ninguém morria de inanição!
A água cristalina e pura vinha do céu, normal e naturalmente e o cheiro da terra molhada era como o perfume do sândalo, inebriando os homens! Açudes, cacimbas, barreiros e cisternas eram reservatórios feitos com carinho pelos Poderes Constituídos, como prevenção contra uma possível, embora remota, alteração nas forças da Natureza!
O flagelo da seca, que assombra o Nordestino, provocando a fome e a miséria, alienando, corroendo o corpo e destruindo, principalmente a vida do homem do campo, fora banido para sempre!
Não havia o êxodo rural! O homem permanecia  na sua terra e os Estados do Sul eram, apenas, terras iguais às suas e não  o paraíso com que sonha o nordestino, acreditando ser a solução de todos os seus problemas.
O homem trabalhava a terra e colhia o seu produto sem o sol escaldante que queima o solo, cresta a sua pele e destrói o fruto do seu trabalho. Havia terra para todos e mão de obra ociosa não existia!
O Governo cumpria, à risca, a Constituição Federal e o ensino era gratuito e obrigatório. Era um Nordeste sem analfabetismo.
Todas as crianças tinham mesa farta e o dinheiro despendido pelo Governo com a Merenda Escolar era aplicado na construção de prédios devidamente equipados para o bom funcionamento dos Colégios e realização de treinamentos para os seus professores, qualificando-os e, consequentemente, tornando-os aptos para o desempenho da sua missão de educadores. A impressão digital só era usada para que o nordestino tirasse a sua  Identidade e todo cidadão era um eleitor consciente, capaz de eleger os dirigentes da Nação.
A Saúde Pública era um Órgão governamental que cuidava da saúde do povo, prevenindo doenças e evitando epidemias. O povo, bem alimentado, era forte e rijo, mas se precisasse de cuidados médicos encontraria Hospitais e Casas de Saúde, onde Médicos eficientes e enfermeiras competentes cuidariam do seu corpo. Não havia descasos, nem mortes inúteis, com a desculpa de que o Governo paga mal e o facultativo necessita de dois e até três empregos para sobreviver e por isso não atende bem e está sempre apressado e mal humorado. Todos eram iguais e recebiam o mesmo tratamento, fosse rico ou pobre. Só se morria de velhice, jamais por descaso ou incompetência profissional.
As creches surgiam em todos os cantos e as mulheres trabalhavam com a tranquilidade que a sua profissão exigia.
O Sistema Financeiro de Habitação era acessível a todos e ninguém precisava devolver a sua casa ao BNH por não cumprir os compromissos assumidos a que os aumentos desenfreados, sem peias nem cabrestos, os obrigava. A casa própria era uma realidade. Ninguém nunca ouvira falar, sequer, em favela.
Nos fins de semana o nordestino gozaria o seu merecido repouso e as áreas de lazer eram uma constante preocupação do Governo, consciente de que o homem tem necessidade de divertimento para se refazer do desgaste de uma semana de trabalho.
Os direitos humanos eram respeitados e o homem tinha o seu devido valor.
Os Bancos credenciados ofereciam ao homem do campo o crédito rural, sem exigir avalistas, com todas as facilidades possíveis e imaginárias, dilatando prazos, diminuindo juros, concedendo benefícios geradores de novos benefícios.
No meu sonho não havia fome, nem miséria, desemprego ou indigência e a terra era um direito de todos. Como todo sonho, no entanto, foi fugaz e efêmero e acordei triste e pesarosa para a realidade do meu Nordeste sofrido, com crianças desnutridas, velhice desamparada, animais magros e raquíticos, vegetação crestada, sol abrasador, seca implacável e impiedosa, descaso das autoridades, desrespeito aos direitos humanos, desvalorização do homem, injustiças sociais!
Preferia nunca ter acordado!


Marisa Alverga 

OBS: Do livro  POR CULPA DO DESTINO