quarta-feira, 16 de junho de 2021

Vozes da alma

 

Ao Poeta MAGELA CANTALICE

(In Memorian)

Era uma vez um mundo triste, onde a fealdade e a descrença reinavam como absolutos  soberanos. Era uma terra estranha onde era sempre noite e não havia luar para embelezá-la. As águas eram escuras e a terra se revestia de um barro pantanoso, só produzindo ervas daninhas que proliferavam por toda parte,  deixando que os espinhos se multiplicassem, ferindo e machucando sem dó nem piedade. A palavra de ordem era a guerra e os homens falavam em morte, enalteciam o ódio, conviviam  com a tristeza, espalhando a dor e o sofrimento, encharcando de lágrima aquele estranho mundo.

Um dia, não se sabe como, nem de onde, uma fada surgiu em meio àquela triste devastação, arrebatando à descrença o seu cetro de Rainha e, com apenas um toque da sua varinha de condão, criou o dia e a aurora, fez surgir o sol e inventou o crepúsculo; trouxe a lua para embelezar os céus e, como se não bastasse, deu-lhe um séquito de estrelas! Fitou as águas e o mar se fez, com as suas ondas travessas e colossais! Das ervas daninhas e dos espinhos fez  brotar os crisântemos. Transformou a guerra em paz, revestiu o ódio com o manto estrelado do amor  e, das lágrimas tristes, fez nascer a saudade.

Extasiada, contemplou o novo mundo que fizera surgir, mas, descobriu entristecida, que os homens pareciam indiferentes a tanta beleza. Que fazer? Era preciso modificar-lhes o coração. Não, não. Pensando melhor, era necessário, apenas, ensiná-los a cantar, porque - pensava -, enquanto houver um homem que cante, o mundo cantará também! E criou o Poeta. E fez nascer MAGELA CANTALICE! Um poeta que, com raríssima sensibilidade artística, sentiu toda a beleza que faz o encanto da vida! MAGELA CANTALICE que, num átomo de segundo, descobriu que o céu é azul, que os pássaros gorjeiam, que a lua é argêntea e bela; que o mar canta, que a borboleta já não é libélula, que a beleza está em toda parte: no riso de uma criança, na voz trôpega de um ancião, nas mãos trêmulas de uma avozinha, na irreverência de um adolescente, no amor de uma mulher!

E MAGELA viveu para cantar e nos encantar. Escreveu poemas e canções, deixando-nos um legado de amor e paz., através de uma poesia eivada de líricas e ternas mensagens,  verdadeiras lições de vida, onde a tônica era a alegria, a paz, a fé e a esperança.

Cumprida sua missão no mundo, eis que MAGELA parte em busca de outras plagas, levando consigo o dom especial que recebeu da sua Fada Madrinha, mas deixando conosco a saudade por ele tão decantada e a certeza de que permanecerá vivo no coração dos seus amigos e admiradores . Merece respeito um homem que tendo galgado todos os degraus do sucesso, chegou-nos humildemente, para dizer-nos:

              “ Sou poeta, apenas poeta, e isso me basta

              À justificação da própria vida.

              Ser poeta, neste sec’lo, eis a mais vasta

              Aspiração por mim sempre nutrida.


              Existe muita gente iconoclasta

              Pra quem a alma do poeta ainda é tida

              Como uma aberração louca e nefasta

              Dessa estirpe de há muito incompreendida.

 

              Concordo. Todo poeta é aberração,

              Na medida em que tende à perfeição,

              Como cultor supremo da beleza.

 

              A poesia é a linguagem dos eleitos,

              E o poeta é para todos os efeitos,

              Porta-voz de Deus na Natureza!”


                          MARISA ALVERGA CABRAL      

                          Guarabira, 19 de junho de 1997

                                   PROGRAMA:

                                      de CLÁUDIO CUNHA

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