quarta-feira, 27 de junho de 2012


Minha mãe   - Luiz Maia



Hoje resolvi falar com você, minha mãe. Pedindo licença, vou entrar em sua casa, implorando desculpas por, muitas vezes, ter esquecido de agradecer as coisas boas que aprendi estando ao seu lado. Quero passear de mãos dadas às suas por caminhos que já conheço, estradas que um dia deixei de valorizar. Quando ainda era um menino, a senhora parecia ser tão grande... Diante de nós dava a ideia de ser um mulherão! Hoje, ao vê-la sentada na cadeira, com poucos e ralos cabelos brancos, fez-me recordar o tempo em que a via correndo com o chinelo atrás de mim. Quantas vezes assistia passivamente às guerras de travesseiros, ao jogo de bola quebrando as vidraças das janelas de nossa casa. Mas o máximo que acontecia era tomarmos uma palmadinha de leve ou recebermos um ameaça quando dizia: "esperem o seu pai chegar". Na verdade era tudo encenação de mãe. Do que a senhora gostava mesmo era de nos oferecer carinho e amor, por meio de tantas lições que aprendemos ao longo da vida.

Existe em mim a necessidade de tocar seu rosto e cada móvel espalhado por salas e terraços, detalhes que não me saem do pensamento. Debruçado sobre lembranças, adentrarei sua casa, beijarei seu rosto e pedirei licença para contemplar as flores de seu jardim. Depois abraçarei quem me pôs no mundo, para me redimir das ausências sem motivos aparentes. Se possível, desejo agora afagar suas mãos em total agradecimento por ter cuidado de mim quando eu mais precisei. Quando, meio perdido, tentava ser gente, ser alguém num mundo repleto de imperfeições. Como pude ignorar seu zelo, sua graça, a harmonia silenciosa nesse seu jeito admirável de ser? Eu nunca ressaltei sua importância em minha vida, querida mãe. O quanto que foi imprescindível no meu aprendizado quando quis me ensinar a cartilha para que eu fosse um homem de bem.
Nas vezes em que eu a esqueci, nem imaginei que um dia poderia se ressentir diante dessa indiferença. Logo você, a quem tanto amo e por quem nutro imenso carinho. As ausências que nos afastaram não merecem ser esquecidas, mas já fui há muito por você perdoado. Por isso amo a vida, além de ser grato à minha mãe por ser generosa. Devo-lhe a vida e os meus melhores momentos. Seus ensinamentos me fizeram uma pessoa feliz, alegre e satisfeita com a presença de Deus no meu caminhar. Mas um dia eu esqueci tudo. Embora eu saiba que o próprio mundo esquece, eu nunca poderia esquecer sua presença em cada passo meu, já que sua vida me é cara por ser um exemplo para mim. A serena liberdade estampada em seu rosto não é comum à maioria das pessoas, já que a senhora nasceu para ensinar seu canto livre. Por isso lhe peço: afasta de nós a ilusão do esquecimento!


Mensagem enviada por  Elenilda, da cidade de Borborema -PB
Postado por Marisa Alverga

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