sábado, 2 de junho de 2012


ATITUDE LEONINA


            Era uma vez um burro ....
            Esse burro era forte e bom – porém, detestado...
            Somente o boi e o cavalo rivalizavam com ele em força muscular...
            Mas, nem um nem outro agüentavam as longas viagens que o burro agüentava...
            Por isso o homem lhe queria mais bem que a todos os outros...
            E isso aborrecia os habitantes das selvas e dos campos...
            Nenhum, todavia, ousava fazer-lhe mal - porque o asno era forte e temido.
            Mas eis que vem um dia fatal!
            Vítima de funesto acidente, tomba o solípede de alto barranco – semimorto...
            Corre veloz pela floresta a sensacional  notícia...
            Aliviada de mortal pesadelo respira a fauna em derredor...
            E todos à porfia afluem para ver o burro moribundo...
            Descarregou-lhe o cavalo um coice no peito...
            Deu-lhe o boi violenta chifrada entre as costelas...
            Ferrou-lhe o cão numa perna os dentes pontiagudos...
            Arranhou-lhe o gato o focinho com as garras aduncadas...
        Saiu da toca até um ratinho que nunca vira o asno, e, para ser digno dos grandes, fincou-lhe os dentinhos na ponta da orelha...
            E assim todos os demais...
            Assomou, por fim, o leão, olhou pra o burro agonizante – e passou de largo.
            “Como, majestade?” – exclamaram os outros – Não te vingas desse perverso? Do inimigo comum? Arranca-lhe os olhos!
            Respondeu o leão: “Reputo abaixo da minha dignidade vingar-me de um inimigo  que já não me pode fazer mal...”
            E passou adiante, firme, grave, sereno...
            Sem olhar para trás...
            Amigo, que a fauna humana habitas – não te iludas!
            Muitos te respeitam porque muitos te temem – enquanto és forte.
            Enquanto as auras da sorte bafejam tua vida...
            Enquanto poderosos te amparam e te defendem...
            Muitos  ocultam seu despeito, sua inveja – porque lhes falta coragem...
            No dia, porém, em que te julguem liquidado – exultarão de prazer...
            Bois e cavalos, felinos e caninos –nada faltará em torno da tua desgraça...
            Chifradas e coices, dentadas e unhadas – tudo choverá sobre ti, quando inerme...
            Até a mais vil alimária humana te mostrará seu despeito, sua inveja.
            E o leão?
              Não sei se alma leonina encontrarás...
            Espírito nobre que não exiba sua força em face de tua fraqueza...
            Mais raros são nos desertos humanos os homens do que no Saara africano os leões!
           Feliz de ti, meu amigo, se encontrares alma leonina – que ao menos silencie o que remediar não possa!
           E passe adiante – sem vindita ... esse leão!

                                   HUBERTO ROHDEN ( Do livro DE ALMA PARA ALMA)

Postado porMarisa Alverga


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