domingo, 4 de dezembro de 2011

O ESPELHO
            Se amanhã as minhas pernas já não suportarem o peso do meu corpo, faça, meu filho, do teu ombro minha bengala e me ajude a caminhar, pois quando eras criança enverguei minha coluna para segurar as tuas mãos na ensaiada dos teus primeiros passos.
            Se amanhã as minhas palavras forem incompreensíveis, não rias, orienta-me, pois quando pequeno, fui repetidor de tuas palavras e  letras na iniciação do teu  aprendizado.
            Se amanhã as noites me fizerem dias,, consola-me e, não te irrites, procure uma maneira para conciliar o meu sono, pois quando pequeno  varei noites sem fim para que pudesses dormir em paz.
            Se amanhã meu choro for repetitivo, consola-me, isto fará parte da minha senilidade; sossega e me perdoa, pois quando pequeno muitas das vezes balancei-te em meus braços e junto ao teu choro,  chorei contigo.
            Se amanhã não conseguir segurar minha bexiga ou errar nas necessidades básicas, limpa-me e não demonstres reação de nojo , pois quando pequeno fiz da minha camisa o teu trono de urina e do meu tórax o teu canto para necessidades e fazia tua higiene com muito amor.
            Se amanhã me alimentares e, escorrer pelo canto da boca restos alimentares, não sintas náuseas, pois quando pequeno, após tuas mamadeiras fiz do meu ombro o teu vomitório e, ria bastante com esse ato.
            Se amanhã minha visão não for suficiente para interpretar as mínimas coisas da natureza, orienta-me, pois quando pequeno fiz dos meus olhos os teus olhos e  ajudei – te  a ver as belezas da natureza.
            Se amanhã meus ouvidos não alcançarem o som de uma resposta, não grite, pois quando pequeno para proteger os teus ouvidos, pisamos em veludo para que o barulho não te perturbasse.
            Se amanhã  a agitação for minha companheira fica ao meu lado, pois quando pequeno eu permanecia ao teu em busca da tua calma e sono conciliador.
            Se amanhã na desesperança do meu destino,  não houver esperanças nem para risos, entende e me ajude, pois quando pequeno multipliquei meu tempo para conseguir teu riso e juntos demos grandes gargalhadas.
            Se amanhã for ao solo, me levanta com carinho, enxuga minhas lágrimas, pois quando eras pequeno fiz ginástica para evitar que algum mal pudesse ocorrer nas tuas quedas.
            Se amanhã no cair da noite não me lembrar de uma oração, socorre-me e ensina-me a  mais simples,  pois quando pequeno ajoelhamos na glória de Deus  e te ensinei o Pai Nosso.
            Se amanhã ao partir, tenho certeza de que deixarei lacunas, e em cada momento que vivenciares o passado, haverás de chorar e pedir perdão a Deus, eu ao  contrário, se voltasse repetiria com todo carinho o grande amor que te dediquei em toda a tua aprendizagem.
                                                                       RAFAEL HOLANDA – Médico
Postado por Marisa Alverga

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