quinta-feira, 11 de outubro de 2018


                                                    DIA DO IDOSO


                Um grupo de adolescentes, fez-me ontem um convite para festejar com eles, o Dia do idoso, o que muito me honra, até porque quem não fica velho, morre jovem.
                Não há muito o que dizer, enfatizo, porém, que não se nasce “idoso”,  mas é necessário que se viva a vida fase a fase; se criança, seja criança, brinque, ria, coma guloseimas na hora do almoço e prometa a sua mãe que isso não se repetirá e amanhã faça de novo e nisso não há nenhum laivo de maldade, apenas, criancice; depois, surge a adolescência, a idade fagueira onde tudo é cor de rosa, e não só a terra é azul, como o Planeta inteiro aderiu à cor do céu  para pintar a vida. É a idade em que surgem surgem  os flertes, os namoricos, a descoberta do corpo, as Universidades, incluindo-se os FIEIS e similares, a que, na maioria das vezes, se é obrigado a aderir, pois a isso o Sistema nos obrig; e isso , sem muita preocupação se não a necessidade de uma graduação para driblar as dificuldades e percalços da vida, dali partindo para uma nova fase, a da responsabilidade, aqui inclusos os concursos, a luta para alcançar um lugar ao sol  ingressando, então na fase a da realização profissional, do  casamento e essa é a penúltima fase, porque a última é o encerramento da vida.
                Chegamos, enfim, à palestra a que nos propomos, a 3ª Idade e quando me dizem, a título de consolo, penso eu, repito que melhor idade é 15, 18 anos  e  não oitenta. Permitam-me, agora, divagar um pouco. Certa vez, num programa de Televisão, o apresentador perguntou a Jorge Amado, o que ele achava da velhice e o grande escritor respondeu, com todas as letras: é uma bosta!
                Discordo dele, até certo, mas entendo o seu desabafo, acrescentando que cada idade  deve ser vivida de acordo com a propria idade. Certa  vez, assisti, no Rio de Janeiro, a um Pastoril, onde mulheres com oitenta anos vestiam-se como se tivessem quinze, cheias de lacinhos de fitas, saias bem curtinhas, adolescentes, enfim. Certo que era um Pastoril, mas as pastoras não precisavam ser ridículas.
                A velhice, como  todas as outras fases da vida pode ser rica, não só de conhecimento. Por exemplo, NÃO HÁ VELHICE NA ÍNDIA: Ali o idoso é respeitado, quase venerado. Afinal, chegar á  velhice é um privilégio.
                Assisti esta semana ao Jornal Nacional uma cena revoltante. Não sei o porquê, mas um idoso de 93 anos, foi insultado e empurrado com tanta violência, por um Segurança que caiu no chão. Ao levantar-se, chorando, ele sussurrou com tristeza: ainda me chamou de ladrão!  
                Cenas como esta são vistas diariamente, na nossa sociedade. E nem precisa ser num Banco, pois filhos batem nos pais e até matam e no dia dos pais recebem o indulto de ir visitar os pais. Eu me pergunto: No cemitério, para onde os Mandou?
                Outro dia  estive em determinada Repartição, aqui mesmo em Guarabira e após uma hora e quarenta minutos sem ser atendida, fiz-me de doida – o   que não fica longe da verdade, diga-se de passagem -, chamei o guarda e perguntei: O sr. Sabe ler? Sei, sim. Ah, por favor, eu sou analfabeto. O sr. Poderia ler essa placa para mim? Ele inocente, sem atentar para a minha pilhéria disse: PRIORITÁRIO – São todas as pessoas  maiores de 60 anos...etc e tal. Nesse ponto, mandei-o parar e tratei de ir embora e o coitado: pra onde a sra.
vai? E eu, vou a todas as rádios de Guarabira, dizer que vocês não respeitam os meus direitos. Ah, foi um Deus nos acuda, veio Gerente e funcionários me atender e só faltaram me colocar no braço.
                Estou fugindo um pouco do foco principal, para acrescentar as boas coisas da 3ª Idade:
1ª – quem não fica velho, morre jovem, repetimos;
2ª – ficar velho não significa se entregar às traças; se o idoso ocupar sua mente, tornando-se uma pessoa produtiva, o alzaime jamais o pegará;
3ª – quem disse que o idoso não pode ir às festas, divertir-se, tomar uma cervejinha gelada com os amigos, contar e rir de umas boas piadas;
4ª – ser avó é a coisa mais gostosa do mundo – por isso se diz que ser avó é ser mãe duas vezes: na primeira vez, temos o dever, a obrigação de educar, na segunda temos só a obrigação de amar nossos netos; educar é com os pais.
                A propósito, uma criança de oito anos escreveu uma redação onde dizia: Avó é aquela mulher que não tem filhos e por isso gosta dos filhos dos outros.
                A outra disse: quando eu crescer quero ser avó.
                Outras disseram: As rugas são o lugar onde antes havia risos. As avós nunca dizem: sai daí...
                As avós usam óculos e às vezes conseguem até tirar os dentes.
                Nem sempre tudo são flores, mas nós, os idosos, temos que ser mais forte que as dificuldades,
Que os obstáculos cuidar de nós mesmos, não depender de ninguém. Costumo dizer que não vim ao mundo para ser vencida, vim para vencer.
                Para encerrar, deixo uma mensagem um tanto quanto verídica, um tanto quanto engraçado:

QUANDO ME TORNEI INVISÍVEL

“OJá não sei em que data estamos. Lá em casa não há calendários e na minha memória as datas estão todas misturadas.
Me recordo daquelas folhinhas grandes, uns primores,
ilustradas com imagens dos santos
que colocávamos no lado da penteadeira. Já não há nada disso.
Todas as coisas antigas foram desaparecendo.
E sem que ninguém desse conta ,eu me fui apagando também...


Primeiro me trocaram de quarto, pois a família cresceu.
Depois me passaram para outro menor ainda
com a companhia de minhas bisnetas.
Agora ocupo um desvão, que está no pátio de trás.
Prometeram trocar  o vidro quebrado da janela,
porém se esqueceram, e todas as noites por ali circula um ar gelado
que aumenta minhas dores reumáticas.
Mas tudo bem...

Desde há muito tempo tinha intenção de escrever,
porém passava semanas procurando um lápis.
E quando o encontrava, eu mesma voltava a esquecer
onde o tinha posto.
Na minha idade as coisas se perdem facilmente:
claro, não é uma enfermidade delas, das coisas, porque estou segura de tê-las, porém sempre desaparecem.

Noutra tarde dei-me conta que minha voz
também tinha desaparecido. Quando eu falo com meus netos
ou com meus filhos, não me respondem.
Todos falam sem me olhar, como se eu não estivesse com eles,
escutando atenta o que dizem.
As vezes intervenho na conversação, segura de que o que vou lhes dizer
não ocorrera a nenhum deles, e de que lhes vai ser de grande utilidade.

Porém não me ouvem,  não me olham ,não me respondem.
Então cheia de tristeza me retiro para meu quarto
e vou beber minha xícara de café.
E faço assim, de propósito,
para que compreendam que estou aborrecida,
para que se deem de que conta que me entristecem e venham buscar-me
e me peçam perdão …Porém ninguém vem....

Quando meu genro ficou doente,
pensei ter a oportunidade de ser-lhe útil, lhe levei
um chá especial que eu mesma preparei.
Coloquei-o na mesinha e me sentei a esperar que o tomasse,
só que ele estava vendo televisão e nem um só movimento
me indicou que se dera conta da minha presença.
O chá pouco a pouco foi esfriando…e junto com ele, meu coração...

Então noutro dia lhes disse que quando eu morresse
todos iriam se arrepender.
Meu neto menor disse: “Ainda estás viva vovó? “.
Eles acharam tanta graça, que não pararam de rir.
Três dias estive chorando no meu quarto,
até que numa manhã entrou um dos rapazes
para retirar umas rodas velhas e nem o bom dia me deu.

Foi então quando me convenci de que sou invisível...
Parei no meio da sala para ver,
se me tornando um estorvo me olhavam.
Porém minha filha seguiu varrendo sem me tocar,
os meninos correram em minha volta,
de um lado para o outro, sem tropeçar em mim.

Um dia se agitaram os meninos, e me vieram dizer
que no dia seguinte nós iríamos todos passar um dia no campo.
Fiquei muito contente. Fazia tanto tempo que não saía
e mais ainda ia ao campo!
No sábado fui a primeira a levantar-me.
Quis arrumar as coisas com calma.
Nós os velhos tardamos muito em fazer qualquer coisa,
assim que adiantei meu tempo para não atrasá-los.
Rápido entravam e saíam da casa correndo
e levavam as bolsas e brinquedos para o carro.

Eu já estava pronta e muito alegre,
permaneci no saguão a esperá-los.
Quando me dei conta eles já tinham partido e o auto desapareceu
envolto em algazarra, compreendi que eu não estava convidada,
talvez porque não coubesse no carro...

...Ou porque meus passos tão lentos impediriam que todos os demais
caminhassem a seu gosto pelo bosque.
Senti claro como meu coração se encolheu e a minha face ficou tremendo
como quando a gente tem que engolir a vontade de chorar.
Eu os entendo, eles vivem o mundo deles.
Ríem, gritam, sonham, choram, se abraçam, se beijam.
E eu, já nem sinto mais o gosto de um beijo.
Antes beijava os pequeninos, era um prazer enorme
tê-los em meus braços, como se fossem meus.

Sentia sua pele tenra e sua respiração doce bem perto de mim.
A vida nova me produzia um alento e até me dava vontade
de cantar canções que nunca acreditara me lembrar.

Porém um dia minha neta Laura, que acabava de ter um bebê
disse que não era bom que os anciãos beijassem aos bebês,
por questões de saúde...

Desde então já não me aproximo deles,
não quero  passar- lhes algo mal por minhas imprudências.
Tenho tanto medo de contagiá-los !
Eu os bendigo a todos e lhes perdoo, porque...

“Que culpa têm os pobres de que eu me tenha tornado
i n v i s í v e l ?”
                           
                                               Muito obrigada e um conselho: ame os seus velhinhos, sejam pais, avos ou um simples desconhecido. Aprenda com eles e sejam verdadeiros homens e amando também  o seu país. Certo ou errado, o Brasil é a sua pátria.
                Guarabira, 02 de outubro de 2018
                                                     
                                                                         Marisa Alverga


domingo, 26 de agosto de 2018


Dia do Soldado

 Admiro o Soldado brasileiro e até tenho um filho desejando integrar a classe policial. Impossível viver sem a participação do soldado em nossa sociedade e aproveito para parabenizá - los pelo seu dia. No entanto, 25 de agosto para mim não significa apenas Dia do Soldado. É muito mais do que isso. Hoje, por exemplo, foi o dia, há 36 anos, que você me deixou, atendendo ao chamado de Deus e partiu para a eternidade, sem adeus ou até logo. Simples, assim, como se simples fosse me deixar sem explicação.
            Sei que você não teve opção. Não foi decisão sua, pois não lhe cabia decidir. Foi do céu que veio a ordem, foi de Deus a decisão. Ele que tinha planos para você, bem diferente dos meus, como me disse um dia D. Marcelo, diferentes e melhores.
            Se eu aceitei pacificamente essa decisão? Não, não, meu filho. Você me conhece. Quando Deus levou você sabia que eu não aceitaria essa decisão calada. Não tenho vocação para santa. Esbravejei o quanto pude, derramei todo o fel da minha dor. Chorei tanto que meus olhos fecharam e durante três meses não conseguia enxergar nada. De lágrimas invadi meu coração.
            Se a dor passou? Que nada, o tempo apenas amenizou a dor da saudade. Nesses trinta e seis anos, não se passou um dia sem que não pensasse em você. Sempre que estou escrevendo, parece-me vê-lo ao meu lado com as suas ideias inovadoras. Vamos publicar uma coletânea? Tem tantos poetas em Guarabira! Vamos fazer um Festival? E as ideias iam surgindo e eu acabava me empolgando e as coisas nascendo.
            Ah! Ainda não lhe disse, mas a sua Toca está hoje nos cinco continentes e por causa dela você e eu temos poemas publicados nos Estados Unidos, na Inglaterra, na Espanha, na Grécia, Na China, no Japão, na Bósnia, entre outros países.
            Durante dez anos fui diariamente ao cemitério. Rezava, conversávamos e eu chorava. Havia quem me criticasse, mas nunca dei atenção a críticos. Aliás, você alguma vez viu um crítico ser homenageado? Eu não conheço nem mesmo uma ponte com o nome de algum deles. Continuo me lixando para eles.
O normal, são os filhos enterrarem os pais. Não os pais enterrarem um filho. Os desígnios de Deus, porém, só Ele entende. E não nos cabe questionar. Há muito desistir de querer saber porquê.
Adeus, meu filho.

 PESADELO

                          Estavas no caixão sereno e lindo
                          Aureolada a fronte, o olhar incerto
                          Estranho leito de flores coberto
                          Mais parecias um anjo dormindo.

                                     Fiquei ali o teu sono a embalar
                                     Naquele doce “dorme-dorme, filhinho”
                                     Eu cantava pra você, Geraldinho
                                     Uma doce canção de ninar.

                      De repente, a dor, a saudade, a revolta
                      Esqueci a canção de ninar
                      Cantei o amor, esqueci de rezar     
                       E fiquei a esperar tua volta

                                     E me lembrei do porquê da revolta
                                     Da minha dor e também da saudade
                                     É que estando na eternidade
                                     Nem mesmo Deus pode me dar você de volta.

                                                                             Sua Mãe,
                                                                                  Marisa Alverga





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quinta-feira, 2 de agosto de 2018

PRECE DE GRATIDÃO

Senhor, muito obrigado pelo que me deste, pelo que me dás! Pelo ar, pelo pão, pela paz!
Muito obrigado, pela beleza que meus olhos vêem no altar da natureza. Olhos que contemplam o céu cor de anil, e se detém na terra verde, salpicada de flores em tonalidades mil!
Pela minha faculdade de ver, pelos cegos eu quero interceder, por aqueles que vivem na escuridão e tropeçam na multidão, por eles eu oro  e a Vós imploro comiseração, pois eu  sei que depois dessa lida, numa outra vida, eles  enxergarão!
Senhor, muito obrigado pelos ouvidos meus. Ouvidos que ouvem o tamborilar da chuva no telheiro, a melodia do vento nos ramos do salgueiro, a dor e as lágrimas que escorrem no  rosto do mundo inteiro. Ouvidos que ouvem a música do povo, que desce do morro na praça a cantar. A melodia dos imortais que a gente ouve uma vez e não se esquece nunca mais.
Diante de minha capacidade de ouvir, pelos surdos eu te quero pedir, pois eu sei, que depois desta dor, no teu reino de amor, eles voltarão a ouvir!
Muito obrigado Senhor, pela minha voz! Mas também pela voz  que canta, que ensina, que consola.  Pela voz que  com emoção, profere uma sentida oração! Pela minha capacidade de falar, pelos mudos eu Vos quero rogar, pois eu sei que depois desta dor, no Vosso reino de amor, eles também cantarão!
Muito obrigado Senhor, pelas minhas mãos, mas também pelas mãos que  aram, que semeiam, que agasalham. Mãos de caridade, de solidariedade. Mãos que apertam mãos. Mãos de poesias, de cirurgias, de sinfonias, de psicografias, mãos que numa noite fria, cuida ou lava louça numa pia.
Mãos que a beira de uma sepultura, abraça alguém com ternura, num momento de amargura. Mãos que no  seio, agasalham o filho de um corpo alheio, sem receio.
E meus pés que me levam a caminhar, sem reclamar. Porque eu vejo na Terra amputados, deformados, aleijados e eu posso bailar. Por eles eu oro, e a ti imploro, porque eu  sei que depois dessa expiação, numa outra situação, eles também bailarão.
Por fim Senhor, muito obrigado pelo meu lar! Pois é  tão maravilhoso ter um lar.
Não importa se este lar é uma mansão, um ninho, uma casa no caminho, um bangalô, seja lá o que for. O importante é que dentro dele exista a presença da harmonia e do amor.
O amor de mãe, de pai, de irmão, de uma companheira. De alguém que nos dê  a mão, nem que seja a presença de um cão, porque é muito doloroso viver na solidão.
Mas se eu ninguém tiver, nem um teto para me agasalhar, uma cama  para eu deitar, um ombro para eu chorar, ou alguém para desabafar, não reclamarei, não lastimarei, nem blasfemarei.
Porque eu tenho a Vós.
Então muito obrigado porque  eu nasci.
E pelo Vosso amor, Vosso sacrifício e Vossa paixão por nós, muito  obrigado Senhor!
Postado por Marisa Alverga

OSMAR DE AQUINO – CEM ANOS DE SAUDADE



Para Laura Cristina: 

OSMAR DE AQUINO – CEM ANOS DE  SAUDADE

                                  

 “O grande homem é aquele que enrubesce quando elogiado e  permanece em silêncio quando difamado”.

        Conheci um homem assim e tenho pena de quem não o conheceu, porque foi privado do direito de amar alguém cuja estirpe se extinguiu. Amá-lo era obrigação de quem o conhecia. Era o amor na sua mais pura essência; um amor sublime, acima das baixezas do mundo, acima das coisas torpes e vis da terra. Era a imagem do amor. Do amor puro como o sorriso de um recém-nascido, cristalino como a água santa do batismo.

     Assemelhava-se ao sândalo que perfuma o machado que o fere. Um novo Midas, transformando em amor tudo quanto tocava. Nunca se ouviu dos seus lábios uma palavra áspera de ódio ou de maldade.

         Erudito, letrado, estudioso, intelectual, poliglota, desconhecia em todos os  idiomas a palavra “NÃO”. Tinha sempre um pensamento carinhoso, um gesto amigo, uma palavra de bondade. Era todo ternura.

       Não se intimidava ante os poderosos. Não recuava diante da dor e enfrentava o perigo com a mesma altivez de um Alexandre Magno. Não entregava o amigo e defendia o inimigo. Grande nas suas atitudes, os seus princípios eram inegociáveis. Era comum ouvi-lo dizer: “Eu só tenho medo que o povo pense que eu tenho medo”.

        Não conhecia o ódio. Ia em defesa dos pequenos, dos menos favorecidos pela sorte com a grandeza que sempre o caracterizou.
   Altivo, sereno, forte, grande, incomensurável, amigo, leal, corajoso. Firme nas suas idéias e nos seus ideais, nunca vacilou ante os embates e vicissitudes da vida e parafraseava Sócrates, quando dizia: “O que é a morte, afinal, senão um agradável sono após um árduo dia de trabalho?”

          Mirava-se no espelho de Cristo no “amai-vos uns aos outros”, divisando entre as trevas do ódio, a claridade divina do amor ao próximo. Participava do sofrimento alheio, compartilhando a dor do seus irmãos, a levar-lhes a centelha viva do perdão e do carinho, na sua simplicidade de homem bom.

        Dele podia-se dizer que era uma epopéia de luzes, cores,música, alegria, sorriso e flores.

          Um homem assim não morre nunca. Tomba nos campos de batalha da vida, lutando até o último instante como um herói, para renascer mais forte ainda nos corações dos que se vivificam com o seu exemplo.

          Não, Osmar não morreu. Apenas Deus o  levou mais cedo para ensinar aos anjos a arte de amar.

          Partiu numa viagem sem volta, levando consigo as suas boas obras. Aqui deixou plantada a saudade que viverá eternamente.

     Vi-o antes da partida final. Levei-lhe o meu derradeiro adeus, misturado às minhas lágrimas de dor e de saudade .

        Deixou esta terra por um Reino encantado e hoje, no Palácio divino, incrustado no seio de Deus, divisa-se um homem com 1:82m de altura,  um rosto sereno e belo, uma alma pura e cristalina, um voz portentosa e varonil . Ao seu redor uma legião de anjos embevecidos escuta essa voz. Ninguém fala, ninguém sussurra, quando Osmar de Aquino, recordando setembro de 1964, em Guarabira, falava para outra platéia, tão atenta e silenciosa quanto esta.

          “Volto ao teu seio, terra estremecida das minhas angústias, das minhas alegrias e dos meus sonhos.

           Eu não tenho medo de morrer, como não tenho de viver. Tenho como Neruda, pronta a minha morte. Quero morrer entre os pobres que não tiveram tempo de estudá-la, e não entre os que, senhores de todos os privilégios na terra, pagam ainda, metafísicos para dividir e arrumar o céu, somente para eles. E ficarei contente com o pouco que para mim será tudo; quando terminar o “milagre da vida”, possam os lutadores da nossa causa, ao passar na chamada lousa fria, dizer simplesmente: foi um companheiro. Não, não sussurramos farisaicamente o nome de Cristo, mas temos no coração as suas palavras de fogo contra iníquas desigualdades, a sua cólera da verdade”.

       É aplaudido de pé, como outrora o fora em Guarabira. E nos seus olhos, límpidos e serenos, uma lagrima surge. É a saudade que o acompanha à morada etérea.

Tu não morrestes, Osmar, pois ninguém sendo querido como tu fostes, poderá morrer um dia. Apenas és hoje hóspede de Deus e Deus é vida. Lá encontrastes a paz, a salvo da maldade, da calúnia, do ódio e da difamação. Aqui serás lembrado eternamente, como o arauto de Deus, em defesa dos pobres e oprimidos; a tua voz ecoará pelos quatro cantos da terra, como um novo Batista. O teu exemplo enriquecerá os homens sedentos de justiça e a luz que irradias, iluminará as mentes sãs dos que hoje veneram a tua memória.

Nunca morrerás no coração da tua Guarabira, que galhardamente comparavas a Paris. Continuarás sendo o ídolo, o mestre, o companheiro, o amigo, aspergindo o perfume do teu amor entre os que aqui ficaram. Um dia estaremos todos juntos na eternidade, compartilhando a tua glória, e as nossas lágrimas já não serão de saudades pois choraremos de alegria pelo reencontro com o homem que fez da sua vida um exemplo. Exemplo que deixou á sua geração indelevelmente gravado no livro da posteridade.

                   Guarabira, 11 de dezembro de 2016

                                                                                                  Marisa Alverga

Música preferida de Osmar: LUZES DA RIBALTA