GARÇAS AZUIS
Era uma vez ... É sempre assim que começam as estórias de trancoso e como esta é uma estória que confunde a realidade com a ficção, diremos que ... era uma vez um homem que morava num lugar tão distante que nem se conhece o nome da cidade onde vivia.
Tinha quatro filhos. A mulher morrera e José sozinho criara os filhos. Não era rico. Trabalhava de sol - a - sol para que nada lhes faltasse, mas o dinheiro mal dava para o seu sustento. Um dia ouviu falar numa terra onde as garças eram azuis e desejou conhecê-la. Vendeu tudo o que possuía e partiu em busca dessas aves de rara beleza.
Perto, bem pertinho de atingir a terra “prometida”, o navio em que viajava começou a afundar e José , em desespero, atirou-se ao mar e dias e dias agarrado a uma tábua, só pensava nos filhos que deixara na Pátria distante. Via as gaivotas que adejavam ao sol e imaginava as garças azuis que talvez nunca chegasse a ver.
Devoto da Virgem Maria, José suplicou-Lhe que lhe salvasse a vida, e prometia que esqueceria as garças azuis e na terra onde aportasse ergueria uma capela em honra da Mãe de Deus.
Dias depois, sem saber explicar como, José encontrou-se numa praia. Morto de fome e de cansaço, encontrou forças para levantar-se e procurar alimentos. Um coqueiro saciou-lhe a sede e matou-lhe a fome. Quando as forças lhe voltaram caminhou sem destino, mas só havia mar e céu e de puro cansaço adormeceu. Sonhou que um anjo lhe aparecia, tomava-lhe a mão e saiam voando, guiados por um bando de garças azuis!
Passaram-se três dias e José se encontrou sozinho, caminhando por uma estrada que parecia nunca terminar. Por fim avistou o que parecia um engenho e à porta um homem que disse chamar-se Ananias. Convidado a entrar, José agradeceu e contou-lhe a sua estória. Fora salvo e precisava trabalhar para pagar a promessa e voltar à sua terra em busca dos filhos. Ananias deu-lhe trabalho e em pouco José conseguiu um pedaço de terra e da sua roça o dinheiro para comprar uma passagem e voltar às suas origens.
Já ninguém se lembrava do forasteiro que um dia ali estivera em busca de garças azuis, quando José voltou trazendo os filhos e uma linda imagem da Virgem Maria, uma Madona com uma lâmpada nas mãos, que recebeu o nome de Nossa Senhora da Luz.
A capela foi erguida no alto de uma colina e de longe vinham pessoas atraídas pela beleza da imagem e de tão embevecidas resolviam ali permanecer e assim o lugarejo logo se viu habitado. Os engenhos cresceram, ofereceram emprego e as pessoas foram ficando, formando famílias, trabalhando e divertindo-se. José notou que ninguém sabia ler e fundou uma escola. À noite todos se reuniam no corredor do engenho e ele, o professor, ensinava o ABC a crianças e adultos.
Abriu uma lojinha onde havia de tudo, da linha de pescar a roupas e sapatos, da carne à farinha e ninguém precisava mais deslocar-se para comprar mantimentos ou vestuário.
O lugarejo prosperava e em breve uma estrada de ferro cortava a cidade.
O PN parava na estação e era uma festa. As mocinhas e os rapazolas se engalanavam esperá-lo e muitos casamentos ali começaram.
Há muito deixara de ser uma aldeia. Era agora uma vila batizada de Independência e não parava de crescer. A capela virou Igreja e artistas surgiram embelezando-a. Não se comparava à Capela Sistina mas na abóbada uma linda Virgem Maria foi pintada por um artista da terra., Antonio Sobreira. No côro da Igreja a juventude se reunia cantando ladainhas e hinos à Maria Santíssima.
Um Padre, de nome Francisco Bandeira Pequeno, foi o primeiro Prefeito dessa cidade, pelos anos de 1835 , pois, através da Lei nº 841 foi decretada cidade. Colégios surgiram, Bancos ali se instalaram, casas comerciais e indústrias foram sendo abertas todo dia e a cidade crescia e crescia.
De clima quente e seco no verão e ameno durante o inverno, tem hoje 51.000 habitantes entre a zona rural e urbana. É bem servida de meios de comunicação. Possui agências do Correio, Bancos do Brasil, do Nordeste, Caixa Econômica, Santander, Itau e Bradesco, quatro emissoras de Rádio, além das Rádios Comunitárias como a Comunidade Geral, no Bairro do Nordeste
No setor educacional tem os melhores colégios da região e em cada esquina uma escola surgiu para erradicar o analfabetismo. A Universidade atende a todo o brejo paraibano.
A Saúde dispõe de Hospitais e Clínicas de boa qualidade e no setor cultural o Museu e o Centro de Documentação contam a história da cidade. Galeria de Artes, Teatro e Bibliotecas (adulto e infantil) completam esse leque, contando ainda com Programas culturais, esporte e lazer, até poque dispõe de uma Secretaria de Cultura, fundada pela lei municipal nº 63/84, quando do Governo Zenóbio Toscano.
E as Garças Azuis? Os indígenas chamavam o lugarejo de GORABIRA, que, na língua tupi-guarani significa “Berço das Garças Azuis” e JOSÉ DA COSTA BEIRIZ realizaou o seu sonho e nos doou com a sua tenacidade, esta Guarabira que hoje aniversariou, comemorando 124 anos.de emancipação política.
Marisa Alverga