“O grande homem é
aquele que enrubesce quando elogiado e
permanece em silêncio quando difamado”.
Conheci um homem assim e tenho pena de quem
não o conheceu, porque foi privado do direito de amar alguém cuja estirpe se
extinguiu. Amá-lo era obrigação de quem o conhecia. Era o amor na sua mais pura
essência; um amor sublime, acima das baixezas do mundo, acima das coisas torpes
e vis da terra. Era a imagem do amor. Do amor puro como o sorriso de um
recém-nascido, cristalino como a água santa do batismo.
Assemelhava-se ao sândalo que perfuma o
machado que o fere. Um novo Midas, transformando em amor tudo quanto tocava.
Nunca se ouviu dos seus lábios uma palavra áspera de ódio ou de maldade.
Erudito, letrado, estudioso, intelectual,
poliglota, desconhecia em todos os
idiomas a palavra “NÃO”. Tinha sempre um pensamento carinhoso, um gesto
amigo, uma palavra de bondade. Era todo ternura.
Não se intimidava ante os poderosos. Não
recuava diante da dor e enfrentava o perigo com a mesma altivez de um Alexandre
Magno. Não entregava o amigo e defendia o inimigo. Grande nas suas atitudes, os
seus princípios eram inegociáveis. Era comum ouvi-lo dizer: “Eu só tenho medo
que o povo pense que eu tenho medo”.
Não conhecia o ódio. Ia em defesa dos
pequenos, dos menos favorecidos pela sorte com a grandeza que sempre o
caracterizou.
Altivo, sereno, forte, grande,
incomensurável, amigo, leal, corajoso. Firme nas suas idéias e nos seus ideais,
nunca vacilou ante os embates e vicissitudes da vida e parafraseava Sócrates,
quando dizia: “O que é a morte, afinal, senão um agradável sono após um árduo
dia de trabalho?”
Mirava-se no espelho de Cristo no “amai-vos
uns aos outros”, divisando entre as trevas do ódio, a claridade divina do amor
ao próximo. Participava do sofrimento alheio, compartilhando a dor do seus irmãos,
a levar-lhes a centelha viva do perdão e do carinho, na sua simplicidade de
homem bom.
Dele podia-se dizer que era uma epopéia de luzes, cores,música,
alegria, sorriso e flores.
Um homem assim não morre nunca. Tomba nos
campos de batalha da vida, lutando até o último instante como um herói, para
renascer mais forte ainda nos corações dos que se vivificam com o seu exemplo.
Não, Osmar não morreu. Apenas Deus o levou mais cedo para ensinar aos anjos a arte
de amar.
Partiu numa viagem sem volta, levando consigo
as suas boas obras. Aqui deixou plantada a saudade que viverá eternamente.
Vi-o antes da partida final. Levei-lhe o meu
derradeiro adeus, misturado às minhas lágrimas de dor e de saudade .
Deixou esta terra por um Reino encantado e hoje,
no Palácio divino, incrustado no seio de Deus, divisa-se um homem com 1:82m de
altura, um rosto sereno e belo, uma alma
pura e cristalina, um voz portentosa e varonil . Ao seu redor uma legião de
anjos embevecidos escuta essa voz. Ninguém fala, ninguém sussurra, quando Osmar
de Aquino, recordando setembro de 1964, em Guarabira, falava para outra
plateia, tão atenta e silenciosa quanto esta.
“Volto
ao teu seio, terra estremecida das minhas angústias, das minhas alegrias e dos
meus sonhos.
Eu não
tenho medo de morrer, como não tenho de viver. Tenho como Neruda, pronta a
minha morte. Quero morrer entre os pobres que não tiveram tempo de estudá-la, e
não entre os que, senhores de todos os privilégios na terra, pagam ainda, metafísicos
para dividir e arrumar o céu, somente para eles. E ficarei contente com o pouco
que para mim será tudo; quando terminar o “milagre da vida”, possam os
lutadores da nossa causa, ao passar na chamada lousa fria, dizer simplesmente:
foi um companheiro. Não, não sussurramos farisaicamente o nome de Cristo, mas
temos no coração as suas palavras de fogo contra iníquas desigualdades, a sua
cólera da verdade”.
É
aplaudido de pé, como outrora o fora em Guarabira. E nos seus olhos, límpidos e
serenos, uma lagrima surge. É a saudade que o acompanha à morada etérea.
Tu não morrestes, Osmar, pois ninguém
sendo querido como tu fostes, poderá morrer um dia. Apenas és hoje hóspede de
Deus e Deus é vida. Lá encontrastes a paz, a salvo da maldade, da calúnia, do
ódio e da difamação. Aqui serás lembrado eternamente, como o arauto de Deus, em
defesa dos pobres e oprimidos; a tua voz ecoará pelos quatro cantos da terra,
como um novo Batista. O teu exemplo enriquecerá os homens sedentos de justiça e
a luz que irradias, iluminará as mentes sãs dos que hoje veneram a tua memória.
Nunca morrerás no coração da tua
Guarabira, que galhardamente comparavas a Paris. Continuarás sendo o ídolo, o
mestre, o companheiro, o amigo, aspergindo o perfume do teu amor entre os que
aqui ficaram. Um dia estaremos todos juntos na eternidade, compartilhando a tua
glória, e as nossas lágrimas já não serão de saudades pois choraremos de
alegria pelo reencontro com o homem que fez da sua vida um exemplo. Exemplo que
deixou á sua geração indelevelmente gravado no livro da posteridade.
Guarabira,
11 de dezembro de 2016
Marisa Alverga
Música preferida de Osmar: LUZES DA
RIBALTA